Vinicius Torres Freire
No ano
que vem, talvez o governo federal tenha um pouco mais de dinheiro. Ainda assim,
não vai dar para todo o mundo. Nem para segurar o aumento da dívida pública.
É um
resumo "pop" das notícias recentes, mais sumário que os biquínis de
fita isolante do clipe de Anitta. Mas um cidadão prestante deveria prestar mais
atenção ao pancadão que devemos tomar em 2018, quase com certeza em 2019.
Até que
havia saído micronotícia animadora, nesta terça (19). Foi abafada pelas artes
da casta política, da casta burocrática e de seus amigos, que estão dando cabo
até dos remendos menores nas contas públicas.
Vamos
começar pelo menos deprimente. A arrecadação de impostos federais parece agora
aumentar na mesma velocidade da economia (do PIB), 1% ao ano, descontadas
receitas extraordinárias. Ainda é um nadica de nada. Mas a economia deve
crescer ao menos 2,5% em 2018, quem sabe 3%, se tivermos sorte e pouco tumulto
político.
Pois
então. Mesmo assim, o dinheiro extra não seria bastante nem para pagar o
aumento das despesas previdenciárias (INSS, servidores e assistência social
para incapazes de trabalhar e idosos pobres) em 2018.
Mas
tende a ser pior. Por exemplo, Ricardo Lewandowski, ministro do Supremo,
derrubou a cobrança de contribuição previdenciária extra e o adiamento do
reajuste de servidores federais. Foi uma decisão provisória, provocada pelo
PSOL, um partido que se diz de esquerda.
Essa
besteirada, na verdade, é de responsabilidade do próprio governo, que tomou
posse em 2016 dando reajuste para o funcionalismo, enquanto no resto do país
havia demissões em massa, reduções de salário, mais gente morando na rua e
farrapos humanos catando o que comer no lixo.
Embora a
Justiça também venha sendo objeto de suprema lambança, quem sabe o ministro
Lewandowski tenha agido de acordo com o rigor da lei. De qualquer modo, é caso
de rigor mortis. Ou de vestir-se a rigor para ser executado.
A elite
do Estado e seus amigos fazem um mutirão para quebrar o que ainda não foi
arruinado. PMDB e centrões, partidos de esquerda de fancaria, castas e empresas
amigas do dinheiro público estão todos de mãos dadas na ciranda da falência.
Majoritariamente
governista, temeriano e pendurado em prebendas ministeriais, o Congresso não
votou o aumento de impostos para fundos de aplicações financeiras de ricos.
Enrola a volta da cobrança de certos impostos de empresas, perdoados por Dilma
Rousseff. Deu perdão extra para dívidas empresariais diversas.
Metade
dos parlamentares rejeita a reforma da Previdência, com apoio e lobby geral do
funcionalismo, das castas do Ministério Público e, em particular, do
Judiciário, aquele pessoal que estoura o limite do valor do salário do
funcionalismo e reage "chatiado" às críticas recorrendo a argumentos
de Maria Antonieta de folhetim.
Obviamente,
essa gente também não quer aumentar impostos. Fala de cortes "na
carne" do governo. De fato, tem carne dos outros nesse açougue. O dinheiro
federal para educação e pesquisa científica será menor em 2018. O investimento
em obras de infraestrutura estará à míngua, com o que o país continuará
regredindo à roça tosca que, em espírito, nunca deixou.
Vão
quebrar o barraco.
Folha de São Paulo
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