Editorial
O Estado
ouviu diversos analistas políticos e econômicos para traçar os cenários de
2018, e a maioria dos comentários colhidos converge para a certeza de que a
eleição presidencial terá um caráter decisivo, pois seu resultado pode colocar
o Brasil de vez no trilho da recuperação econômica e das reformas ou pode
condenar o País a um retrocesso populista do qual dificilmente se recuperará
num futuro previsível. “É possível que nunca na história econômica do Brasil o
curto prazo tenha tido tanta importância para definir o destino do País como
agora”, opinou a economista Zeina Latif, dando o tom das preocupações que
cercam o pleito presidencial. “Não há espaço para um governo medíocre em 2019.”
Ainda que
seja tímida, é um sinal promissor a redução da resistência popular à reforma da
Previdência, resultado da campanha do governo que corretamente chamou a atenção
para o fato de que a manutenção do atual sistema só interessa à elite do
funcionalismo público. Significa que, se tiver acesso a informações que os ajudem
a compreender a necessidade de sacrifícios para o bem geral, os eleitores podem
se tornar menos refratários às mudanças.
Assim, é
preciso que haja candidatos dispostos não apenas a se apresentar como
reformistas, mas que estejam genuinamente empenhados na defesa explícita das
reformas, demonstrando didaticamente seu caráter urgente. É claro que subir no
palanque com um discurso realista, que antecipe ao eleitor as dificuldades que
estão por vir, requer muita determinação, pois do outro lado do embate estarão
os demagogos e populistas de sempre, para os quais as soluções dos problemas
nacionais são sempre fáceis – basta a vontade do presidente para que haja
justiça social e desenvolvimento econômico.
Mas o
momento do País exige clareza no discurso político, para que o eleitor saiba
exatamente o que virá depois da votação. E o que virá, se o vencedor não for um
irresponsável, certamente não será o paraíso que os políticos costumam prometer
quando pedem votos.
Os
candidatos que pretendem carregar a bandeira da responsabilidade fiscal e do
crescimento econômico em bases sustentáveis, como premissas para o avanço
consistente das condições sociais, devem se dedicar a convencer os eleitores de
que não há conquista sem renúncia. É preciso conclamar o povo a participar
desse esforço não como uma punição – traduzida no falso discurso da “perda de
direitos” –, mas sim como passo necessário para a construção de uma sociedade
madura. Ou, como escreveu o economista José Luis Oreiro, os problemas
estruturais “precisam ser tratados com seriedade pelos candidatos à Presidência
da República durante a campanha eleitoral de 2018”, pois “o Brasil não tem
tempo para perder com disputas infantis entre ‘coxinhas’ e ‘mortadelas’”.
E tais
problemas não são comezinhos. Há recorrente e crescente desequilíbrio entre
receitas e despesas no Estado brasileiro, situação que muito em breve pode
levar o setor público à insolvência – o que significa que a máquina estatal,
hoje demandada muito acima de sua capacidade, pode simplesmente parar de
funcionar em vários setores. Algumas providências para evitar esse desfecho
dramático já foram tomadas pelo atual governo, como a aprovação do teto dos
gastos, mas o eleitor precisa saber que há ainda muito trabalho a ser feito – e
que ele deve negar seu voto a quem disser o contrário.
A partir
de 2019, quando começa o novo mandato presidencial, o cenário político
provavelmente será distinto do atual, assim como não se sabe qual será a
conjuntura externa, hoje bastante favorável. Mas, seja lá o que reserva o mapa
astral brasileiro, uma coisa é certa: como escreveu o economista Luiz Schymura,
a crise fiscal “estará lá, firme e difícil de ser gerida”.
Por esses
motivos é preciso haver um esforço redobrado para demonstrar aos eleitores que
o melhor caminho para tirar o País da crise não é o mais curto, pois este já
foi trilhado pelos populistas, e o resultado – recessão, inflação, deterioração
da renda e contas públicas em frangalhos – está aí, à vista de todos
O Estado de S. Paulo