Leandro Colon
"Marin
promete que será fiel a Maluf", informa o título da página 4 da Folha de
12 de maio de 1982, uma quarta-feira. Na véspera, José Maria Marin, então
vice-governador de São Paulo, rasgara elogios a Paulo Maluf, o governador.
Dias
depois, Maluf deixaria o cargo para disputar e conquistar vaga na Câmara dos
Deputados. Marin o substituiria no governo até 1983.
Naquele
maio de 82, a dupla do PDS trocou afagos públicos. Marin declarou sua
"lealdade total e fidelidade a este grande estadista que é Paulo
Maluf". Maluf soube retribuir à altura. Falou em "amizade e lealdade,
integridade e competência".
"Não
encontro um exemplo onde o governador e o vice tenham se dado como irmãos
gêmeos, como irmãos siameses, como eu sempre me dei com José Maria Marin",
disse.
Segundo
as palavras de Maluf, a relação entre os dois deveria, na época, "se
constituir, na verdade, como um exemplo para a classe política, que faz
política com ética e com honestidade aqui no Estado de São Paulo". A
reportagem conta que Maluf e Marin então "abraçaram-se demoradamente e
choraram".
Quase 36
anos depois, os "irmãos siameses" da ditadura estão condenados e
presos. Maluf passou a noite de Natal no presídio da Papuda, em Brasília, e
Marin dormiu em uma cela de um presídio federal dos EUA.
Hoje
deputado, Maluf começou a cumprir pena por lavagem de dinheiro em esquema de
desvio de verbas durante sua gestão como prefeito de São Paulo, entre 93 e 96.
Ex-presidente
da CBF, Marin acaba de ser considerado culpado por um tribunal de Nova York
pelos crimes de organização criminosa, fraude financeira e lavagem de dinheiro
em contratos de direitos do futebol.
A prisão
deles é um irônico e coincidente registro da história, carregado de um alerta:
o caso de Maluf escancara a lentidão da Justiça e o de Marin, punido nos EUA,
expõe a incapacidade das autoridades brasileiras em investigar nossos cartolas.
Folha de S. Paulo
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