Janaína Figueiredo
‘Não cheguei até aqui para jogar o
lixo debaixo do tapete’, afirma presidente da Argentina
BUENOS
AIRES - O presidente da Argentina, Mauricio Macri, defendeu enfaticamente nesta
terça-feira a nova lei de reforma da Previdência, aprovada por 127 votos
(de um total de 257) após intensos e violentos protestos e mais de 17 horas de
debate no Parlamento.
Acompanhado
por todo seu gabinete, o chefe de Estado assegurou, em coletiva na Casa Rosada,
que “estas reformas geram incomodidade, mas ninguém pode duvidar da
intencionalidade. Tudo o que estamos fazendo busca abrir a porta de um futuro
melhor”.
— Não
cheguei até aqui para jogar o lixo debaixo do tapete — declarou Macri, que
acusou a oposição, sobretudo o kirchnerismo, de ter “incitado a violência” de
manifestantes.
O
presidente afirmou que “o que vimos e vivemos gerou muita angústia” e disse ter
certeza de que “a violência esteve orquestrada”. A Justiça está investigando
os incidentes da última segunda-feira, que deixaram mais de 160 feridos.
—
Demonstramos que a democracia funciona. Tivemos 17 horas de sessão, nas quais
14 horas falou a oposição — afirmou Macri.
Para o
presidente, a nova lei, que será complementada por um decreto que criará um
bônus para compensar aposentados e pensionistas em 2018, “garante uma fórmula
(de cálculo das remunerações) que os defenderá do pior mal, que é a inflação”.
— A
Argentina foi se recuperando, começou a crescer, o crédito voltou, nos
reconectamos com o mundo. Todas as mudanças geram incomodidade, claramente, mas
são as necessários — insistiu o chefe de Estado.
Nesta
terça-feira, o Congresso, em período de sessões extraordinárias convocadas por
decreto pelo Executivo, retomará os debates. A agenda instalada pelo governo
prevê o debate das reformas fiscal e tributária, iniciativas que a Casa Rosada
espera aprovar até o final deste ano.
Somente
a reforma trabalhista, que também enfrenta forte rejeição, ficaria para o ano
que vem.
Perguntado
sobre a pressa de seu governo em avançar com as reformas, Macri negou que o
momento escolhido tenha sido um erro:
— Num
país onde temos pouco menos de 30% de pobreza não temos tempo de especular.
Depois de ganhar esta eleição (legislativa, em outubro passado), que fácil
teria sido tirar férias, não propor reformas e não criar nenhuma incomodidade.
Mas as pessoas confiaram em mim para que faça mudanças. Se fizermos mais do
mesmo não teremos futuro.
O
presidente disse que a política deve dar o exemplo a sociedade e lembrou que o
governo nacional cortou 20% de suas despesas. Sobre as manifestações e
panelaços não violentos, Macri pediu um voto de confiança às reformas:
—
Respeito que algumas pessoas pensem que estas reformas não são boas. É lógico.
O que peço aos que estão contra é que não duvidem da intencionalidade, de por
que estou tão convencido. Que manifestem seu desacordo mas que acreditem que
talvez sim vão funcionar e sim serão boas. Elas têm direito a se expressar, mas
é importante que também não se fechem totalmente.
Aos que
protestaram violentamente e à oposição que justificou a violência, o chefe de
Estado referiu-se como “uma minoria que sonha com a ingovernabilidade”.
O Globo
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