quinta-feira, 31 de julho de 2014

Nossa democracia é pobre, mas nossas eleições são milionárias

por Murillo de Aragão

Os orçamentos apresentados pelos principais candidatos a presidente da República para as eleições de 2014 são um acinte, um despropósito, uma vergonha, um absurdo e um descalabro. Cabem outros tantos adjetivos à situação pornográfica que estamos vivendo em termos de campanhas eleitorais no Brasil.

A campanha de Dilma Rousseff (PT) à reeleição está orçada em R$ 298 milhões, valor do teto para as despesas. Nada menos do que 33% a mais do que na campanha de 2010. Aécio Neves (PSDB) é mais modesto, sua campanha prevê um gasto de até R$ 290 milhões. E Eduardo Campos (PSB) é o primo pobre dos três principais presidenciáveis: apenas R$ 150 milhões. Nos Estados, com a devida proporção, o descalabro prossegue.

De acordo com matéria do G1, o gasto previsto para todos os 169 candidatos a governador soma R$ 2,43 bilhões! São Paulo, obviamente, promoverá a campanha mais cara. Nove candidatos a governador no Estado gastarão, juntos, mais de R$ 320 milhões em suas campanhas. No Amapá, o custo total das campanhas dos candidatos a governador vai chegar perto dos R$ 30 milhões.

CULPA DO CONGRESSO
Tal situação tem no Congresso o maior culpado. A Lei das Eleições estabelece que o Congresso deve aprovar, até 10 de junho, uma lei definindo o limite de gastos com as eleições. Como isso não ocorreu, cada partido estabeleceu o teto de despesas a seu bel-prazer e de acordo com a sua conveniência.

Em Minas Gerais, as campanhas para deputado federal estão custando, em média, R$ 5 milhões. Basicamente, o dobro do que custa uma campanha para a Assembleia Legislativa. O custo tem assustado os candidatos, que preferem disputar uma vaga na Assembleia. Esse é um grande problema para os partidos, já que o montante de recursos do Fundo Partidário é dividido conforme o tamanho das bancadas federais.

Com custos estratosféricos, as campanhas tendem a ser redutos de abonados que podem se autofinanciar, de celebridades muito conhecidas e com potencial de voto, de lideranças setoriais que fazem a campanha dentro de seus nichos e de articuladores que conseguem mobilizar altas somas. O candidato normal, salvo exceções, está fora do jogo.

Duas questões emergem do problema. A primeira é a omissão do Congresso e do Poder Judiciário sobre o tema. Ambos silenciam sobre uma grave distorção de nosso sistema político: a ausência de limites razoáveis de gastos. Deixando aos partidos tal tarefa, promove-se uma liberalidade que trabalha contra os mais basilares princípios da democracia: a igualdade de oportunidades.

PODER DO DINHEIRO
A segunda questão resulta das consequências dessa omissão: a representação da sociedade brasileira no Congresso é distorcida pelo poder do dinheiro. Quem tem mais, pode mais. Não deveria ser assim. Ou, pelo menos, os poderes constituídos deveriam estar atentos ao problema e tratar de limitar os efeitos danosos do poder econômico nas campanhas eleitorais. As eleições não deveriam ser competição de quem arrecada mais e de quem tem mais para gastar.

Com a situação que se apresenta, qualquer um com muito dinheiro tem imensa chance de se eleger. Em Minas Gerais, por exemplo, onde há desinteresse em ser candidato, basta ter os R$ 5 milhões para se tornar um candidato competitivo. Se tiver R$ 10 milhões, melhor ainda. Com R$ 15 milhões, pode-se fazer uma campanha com estrutura de candidato majoritário em uma simples campanha para deputado federal.

Nos bastidores da política de hoje, a questão do financiamento das campanhas é crucial. Sem limite para os gastos, os partidos abriram a porteira para uma competição que nada tem de democrática.

 

Transcrito da Tribuna da Internet

http://capitalismo-social.blogspot.com.br/2012/08/504-capsoc-novo-sistema-eleitoral.html

 

terça-feira, 29 de julho de 2014

O que mudou no Brasil desde março de 64 para cá?


por Paulo Chagas

O objetivo do movimento comunista é fazer a mudança da natureza do homem, tirando-lhe a iniciativa e a ambição (motores da evolução da humanidade), transformando-o em um ser amorfo, acomodado e submisso - a sociedade sem classes. O que é uma balela, porque, no final das contas, a sociedade comunista não as elimina, mas as resume a duas: o partido e o proletariado.

Para isto empenham-se para promover o rompimento com os valores judaico-cristãos que orientam, organizam e disciplinam a nossa sociedade – família, respeito à tradição, temor a Deus, respeito ao mestre, aos mais velhos e às instituições, valorização do mérito.

Essa desconstrução de princípios é fundamental para nivelar os homens por baixo, daí a quantidade de invejosos, iludidos, ingênuos, desajustados, incapazes, incompetentes e espíritos de porco que assumem as bandeiras e se identificam (ou pensam que se identificam) com o ideário comunista.

Em 64 vivíamos o ápice da sua segunda tentativa de tomada do poder e, consequentemente, da desconstrução dos valores culturais conservadores (morais, éticos e religiosos), chegando ao cúmulo da ousadia de subverter a disciplina militar para, logicamente, enfraquecer estas instituições e sua possível reação ao golpe.

O "basta", representado pelas Marchas da Família com Deus pela Liberdade, foi a centelha para a reação e para a recuperação dos valores que estruturalmente suportam a sociedade brasileira. Ou seja, o movimento cívico militar reafirmou e recuperou estes valores, não permitindo que outros os substituíssem.

Na área econômica, basta dizer que o Brasil, em 64, era quase a 50ª economia do planeta, com uma inflação de 80% ao mês, sem indústrias e sem estruturas para evoluir e, ao final do período militar, após as duas crises do petróleo que mudaram a configuração econômica do mundo, o Brasil ocupava a 8ª posição neste ranking.

A atuação na área política foi o ponto fraco do regime militar, pois desprezou suas práticas ao invés de corrigi-las e não soube formar novas lideranças, capazes de dar continuidade ao trabalho dos técnicos, especialistas e militares que alicerçaram as bases para a evolução e deram o novo rumo ao Brasil. Hoje estamos nas mãos de uma classe política de politiqueiros, despreparados, mal-intencionados ou comprometidos com a ideologia da escravidão e da mediocridade!

Após o fim do Regime Militar houve no Brasil uma intensa preocupação em proteger o cidadão comum de uma possível ação "opressora" do poder do Estado. Foram criados instrumentos legais que restringem, condicionam e tolhem a agilidade da atividade de segurança pública e do processo judicial.

Neste cenário, houve incremento do crime organizado. Os novos instrumentos, ao dificultarem o exercício do poder coercitivo pelo Estado, facultaram aos criminosos maior liberdade de ação, banalizando o crime e difundindo no País um destrutivo clima de impunidade. Os legisladores, tentando proteger o cidadão "de bem" de uma possível ação repressora ou ditatorial, acabaram por proteger os criminosos.

Na mesma linha de oportunismo encontram-se movimentos de pressão social, como o MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra), o MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto) e outros, que, apropriados por lideranças radicais e ideologicamente revolucionárias e escudados na legitimidade das questões sociais que representam, praticam a desobediência civil de forma crescente e planejada, podendo, a qualquer momento, ultrapassar a capacidade do poder de polícia dos governos estaduais, passando a ameaçar o próprio poder central da União.

Integrantes do MST já assumem publicamente a possibilidade de optar pela luta armada!

Hoje, em função desta permissividade, estamos outra vez no limiar do rompimento das estruturas conservadoras que, respeitando e valorizando as diferenças individuais, sempre foram as molas mestras da evolução da humanidade, não apenas do Brasil.

O rompimento com estas estruturas é o responsável último pelo caos que se aproxima, pois, "o socialismo dura enquanto durar o dinheiro dos outros"!

A situação atual do Brasil e a de todos os demais signatários do Foro de São Paulo demonstra que, neste rumo, irão todos acabar como Cuba, exportando mão de obra escrava, pois não lhes restará outra riqueza.


Paulo Chagas é General de Brigada na reserva.

Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net

segunda-feira, 28 de julho de 2014

Alugam-se partidos políticos




Comentário do blog:

E quem foi que contribuiu decisivamente para que chegássemos à esta desmoralização ?

O sr. Lulla e demais líderes das facções criminosas que se auto-denominam partidos políticos.

Esta charge é a mais pura realidade !!!




domingo, 27 de julho de 2014

Setor elétrico: crise recorrente


por Heitor Scalambrini Costa

Neste início de 2º semestre, o cenário do setor elétrico deixa claro, mais uma vez, os numerosos erros cometidos nos últimos anos, e que foram potencializados, apontando para uma urgente e indispensável transformação na estrutura de organização, de gestão e de planejamento do setor.

A tímida reforma ocorrida em 2004 não trouxe a pretendida resposta ao racionamento de 2001. Logo, o que se verifica atualmente tem a ver com o que não foi realizado no primeiro governo do presidente Lula: uma mudança no modelo mercantilista da geração, transmissão e distribuição de energia elétrica. De lá para cá, vivenciamos um setor estratégico do país com vários remendos.

Do lado da expansão, as opções se concentraram nos questionáveis mega-projetos hidroelétricos na região Amazônica; na ampliação do parque de usinas termoelétricas a combustíveis fósseis, caras e poluentes; e na reativação do programa nuclear brasileiro, com a construção de Angra 3 e da proposta de mais 4 usinas, mesmo frente ao amplo repúdio popular.

Como consequência dos equívocos, erros e mesmo incompetência técnica e gerencial, as tarifas estão estratosféricas e a qualidade dos serviços pífia. Mesmo a prometida redução de 20% nas tarifas de energia elétrica, através da estratégia armada pelo Ministério de Minas e Energia com a promulgação da MP 579/12 (convertida na Lei no 12.783, de 11 de janeiro de 2013), não terá praticamente qualquer efeito até o final deste ano. 

Os aumentos médios nas contas de energia aos consumidores residenciais em 2014 devem ficar entre 16% e 17%, visto os aumentos já concedidos no 1º semestre; o que praticamente anula a redução do ano passado. E em 2015, de acordo com previsões de consultorias do ramo, será pior: o reajuste ficará entre 21% e 25%.

Aliada a tarifas caras constata-se a flagrante deterioração na qualidade e riscos no abastecimento de energia elétrica.

Com o modelo hidro-térmico adotado, a dependência do comportamento hidrológico, cada vez mais influenciado pelas mudanças climáticas, tem sido utilizada como justificativa para o acionamento das usinas térmicas. Agora não mais em caráter emergencial, e sim permanente. E, como a energia gerada por tais usinas é bem mais cara que a hidroeletricidade, os custos são repassados ao consumidor e pagos em suas contas de luz. Além de embutidos em impostos para todos os contribuintes.

O custo do acionamento continuado das caríssimas termelétricas de reserva, desde 18/10/12, que chega a suprir cerca de 12,5% da carga total, chegará à estratosférica soma de R$ 50 bilhões no corrente ano (R$ 2,3 bilhões mensais), segundo estimativas preliminares. Esse cálculo considerou um custo médio de R$ 420/MWh. Agora, é só fazer a conta. Se o problema persistir por mais 12 meses, os custos chegarão a R$ 78 bilhões. E quem pagará a conta? Os mesmos, claro: nós, consumidores e contribuintes.

No aspecto ambiental, são catastróficas as opções adotadas pelo governo federal, que excluiu do processo decisório as organizações sociais, especialistas independentes e consumidores. O setor de energia no país, outrora lembrado por sua produção com baixa emissão de carbono, tem elevado substancialmente as emissões de gases de efeito estufa. Dados do Observatório do Clima revelam que o segmento foi responsável pela emissão de 436,7 milhões de toneladas de CO2 em 2012, aumento de 30% em relação as 335,7 milhões de toneladas emitidas em 2006.

O setor elétrico precisa de urgentes mudanças estruturais. Lamentavelmente, os candidatos presidenciais dos grandes partidos não nos oferecem qualquer perspectiva da necessária transformação. Além do anunciado “realinhamento das tarifas”, qual o plano, senhores?


Heitor Scalambrini Costa é Professor da Universidade Federal de Pernambuco.


Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net 

sábado, 26 de julho de 2014

Vocação bolivariana

Vocação bolivariana

por Ives Gandra da Silva Martins

 A edição do Decreto n.º 8.243/14 pela presidente Dilma Rousseff, instituindo conselhos junto aos diversos ministérios, com funções nitidamente de imposição às políticas governamentais, está na linha do aparelhamento do Estado, que pretende criar uma nova classe dirigente no estilo denunciado por Milovan Djilas em A Nova Classe, quando o fantasma soviético preocupava o mundo ocidental. Esse decreto objetiva tornar o Poder Executivo o verdadeiro e único poder, reduzindo o Congresso Nacional a um organismo acólito.

Tive a oportunidade de ler as Constituições da Venezuela, da Bolívia e do Equador, a pedido da Fundação Alexandre de Gusmão, quando era presidida pelo embaixador Jerônimo Moscardo, que veiculou o texto de todas as Constituições das Américas, com estudos de constitucionalistas de diversos países. Impressionou-me a imensa diferença entre os três textos e o da Constituição brasileira, que, no artigo 2.º, assegura a independência dos Poderes.

É de lembrar que o Poder Executivo, politicamente, não representa o povo por inteiro, mas apenas a sua maioria. E nos casos em que o chefe do Executivo foi eleito em segundo turno, nem a maioria. Por outro lado, o Poder Judiciário é apenas um poder técnico, sendo a Suprema Corte escolhida por uma pessoa só, o presidente da República.

A totalidade da representação popular está no Parlamento, constituído que é por representantes do povo, tanto os favoráveis ao governo como os contrários a seus detentores. Pode não ser o ideal, contudo representa a vontade de toda a sociedade.

Ora, nas três Constituições bolivarianas o Poder Legislativo é amesquinhado, ao ponto de, na Carta venezuelana, poder declinar de sua competência, transferindo-a para o chefe do Executivo. Os plebiscitos e referendos, nessas Constituições, podem ser convocados pelo presidente.

No Equador, o presidente pode dissolver o Parlamento, mas se este o destituir, dissolve-se automaticamente. Na Bolívia, a Suprema Corte é eleita pelo povo, cuja manipulação pelo Poder Executivo não é difícil.
É que tais modelos conformam um sistema político de dois Poderes principais e três Poderes secundários, a saber: o Executivo e o povo são os principais; o Judiciário, o Legislativo e o Ministério Público, os secundários.

Por conseguinte, como o povo é facilmente manipulado em regimes de Executivo forte, os modelos dos três países têm um único Poder - e a população é facilmente enganada.

Não se pode esquecer que o culto povo alemão foi envolvido por Adolf Hitler, o mesmo tendo acontecido com o povo italiano, por Benito Mussolini, para não falar dos russos nos tempos de Josef Stalin.

Voltando ao referido Decreto 8.243/14, pretende ele substituir a democracia das urnas por outra dirigida pelo Poder Executivo, com seus grupos enquistados em cada ministério. Então, se o Conselho da Comunicação Social, por exemplo, entender que deve haver controle da mídia, o Executivo, prazerosamente, dirá que o fará, pois essa é a "vontade dos representantes da sociedade civil organizada"!

A veiculação do decreto, em momento no qual se torna evidente o clamoroso fracasso da política econômica do governo Dilma, obrigará um futuro presidente da República, se sério e competente, a realizar um forte ajuste de contas. Caso decida extinguir os conselhos, poderá ser acusado de estar "agindo contra o povo"; e se os mantiver, terá dificuldades para governar.

Na eventualidade de ser a presidente reeleita, poderá impor os seus sonhos guerrilheiros, que ficaram claros quando, em atitude de adoração cívica, em recente visita a Fidel Castro, teve estampada a sua fotografia com o sangrento ditador cubano.

É isso o que me preocupa, em face da permanente proteção da atual presidente aos falidos governos boliviano, venezuelano e argentino, assim como a resistência em firmar acordos bilaterais com países desenvolvidos, sobre dar sinais de constante aversão à lucratividade das empresas, seja nas licitações, seja por meio de esdrúxula política tributária, indecente para um país como o Brasil.

Além do mais, o seu governo tornou a Petrobrás e a Eletrobrás instrumentos de combate à inflação pelo caminho equivocado do controle de preços. Tal política sinaliza que dificilmente ela fará os necessários reajustes na esclerosada máquina administrativa.

Com os tais conselhos criados, sempre que o governo tomar uma medida demagógica, poderá dizer que a "sociedade civil organizada" é que a está exigindo...

Por essa razão, é de compreender o discurso ultrapassado, do século 19, de luta contra as elites, apresentado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preparando o terreno para medidas "a favor do povo" e contra "os geradores de empregos", que, na sua visão, são os ricos. Por isso também Vladimir Putin, que deseja restaurar o Império Soviético, é para a presidente Dilma Rousseff um parceiro melhor do que Barack Obama (EUA), representante, para ela, da "oligarquia econômica".

Como cidadão, respeitando a presidente pelo cargo que ocupa em razão de uma eleição democrática, tenho, todavia, cada vez mais receio de que o eventual risco de perder o poder leve seu grupo a ser dirigido pelos mais radicais, que se utilizarão dos ditos conselhos para, definitivamente, semear a cizânia, na renascida democracia brasileira.


IVES GANDRA DA SILVA MARTINS É PROFESSOR EMÉRITO DAS UNIVERSIDADES MACKENZIE, UNIP, UNIFIEO, UNIFMU, DO CIEE/O ESTADO DE S. PAULO, DA ESCOLA DE COMANDO E ESTADO-MAIOR DO EXÉRCITO E DA ESCOLA SUPERIOR DE GUERRA, É PRESIDENTE DO CONSELHO SUPERIOR DE DIREITO DA FECOMÉRCIO-SP, FUNDADOR E PRESIDENTE HONORÁRIO DO CENTRO DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA




sexta-feira, 25 de julho de 2014

Os anti-capitalistas estão contra nós

por Bruno Garschagen

Defender o capitalismo é tarefa inglória. Por várias razões. Primeiro, porque as várias interpretações equivocadas e aplicações inadequadas do termo acabaram por dividi-lo numa expressão pluridimensional. Assim, temos o capitalismo de livre mercado, o capitalismo marxista, o capitalismo de Estado, o capitalismo de compadres etc.

Se Marx não foi o criador nem o primeiro a usar o termo, foi quem lhe atribuiu, no célebre O Capital, o sentido negativo mundialmente reconhecido e utilizado, e opôs de forma hábil a distinção entre capitalista e trabalhador. Converteu o empresário, o dono do capital, numa entidade diabólica que age para explorar a mão de obra do oprimido trabalhador.

Diante dessa carga simbólica infame, defender o capitalismo de livre mercado é entrar num debate no qual o anticapitalista entra tentando direcioná-lo contra o seu defensor, que mesmo antes de expor uma defesa conceitual, substantiva e material, com dados empíricos a sustentar a teoria, precisa previamente se defender das acusações pessoais de odiar os pobres e os beagles, e elencar justificativas (que o interlocutor nem sequer considerará) sobre o que o capitalismo não é. O crítico pretende conduzir o debate em sua zona de conforto, e assim ignorar estrategicamente o que diz o defensor do capitalismo de livre mercado.

É um erro muito comum supor que o anticapitalista é um interlocutor intelectualmente honesto. A ingênua boa-fé do defensor do capitalismo é utilizada pelo seu crítico como uma fraqueza a ser explorada; como um macete para atingir a cabeça do inimigo ideológico. E assim o “debate” se converte numa doutrinação e num instrumento de sedução dos incautos em busca de utopias perdidas.

Não é uma coincidência o fato de muitos anticapitalistas serem intelectuais e/ou indivíduos que cons­troem suas vidas fugindo da realidade. Essa fuga, justamente o vínculo entre ambos, é alicerçada numa teoria utópica (geralmente socialista ou comunista) que a estrutura, legitima e que pavimenta a construção idealizada de uma realidade abstrata na qual o mundo concreto e as pessoas reais não são o que eles veem, mas o que gostariam de ver, como bem apontou o economista americano Thomas Sowell em seu excelente Os Intelectuais e a Sociedade (p. 182-184).

Com a sua peculiar definição de capitalismo, esses ideólogos militantes, muitas vezes disfarçados de professores, atribuem todos os males sociais, políticos e econômicos do mundo a um sistema que, ao contrário da imagem caricatural de estar a serviço das grandes corporações, bancos etc., é, na verdade, formado por todos nós que atuamos na iniciativa privada, do pipoqueiro ao megaempresário. Um sistema que, a despeito da representação ficcional, tem suas virtudes e vicissitudes, e que foi capaz de permitir que as pessoas pudessem se alimentar, empreender, prosperar, ter tempo para o lazer, ter acesso a produtos e a confortos inimagináveis séculos atrás.

Sempre que um anticapitalista exibir o arsenal de equívocos contra o capitalismo, tenha a certeza de que o prejudicado com a alternativa política e econômica que defende não será ele nem os seus companheiros de ideologia e/ou de partido.


Bruno Garschagen é mestre em Ciência Política e Relações Internacionais e podcaster do Instituto Ludwig von Mises Brasil.


Transcrito da Gazeta do Povo  -  03 11 2013.


quinta-feira, 24 de julho de 2014

A instalação da Assembleia Constituinte na Rússia

Por Carlos I. S. Azambuja

O destino dado à Assembléia Constituinte demonstra a rápida erosão de quaisquer sentimentos democráticos remanescentes entre os adeptos de Lenin
Quando da Revolução de Outubro, na Rússia, os bolcheviques proclamaram seu regime como um Governo Provisório dos Trabalhadores e Camponeses até a instalação da Assembléia Constituinte. Esse era o postulado pelo qual muitos revolucionários haviam lutado e terminado no cadafalso ou no exílio. A Declaração de Princípios do Partido Operário Social Democrata Revolucionário (POSDR) reclamava uma Constituinte, liberdade de imprensa, de manifestação, de pensamento e um Parlamento eleito através de eleições livres e diretas.

Essa Assembléia Constituinte seria livre, democrática e soberana, escolhida por todo o povo, muito diferente das Dumas do tempo dos Czares. Representantes do povo, democraticamente eleitos, iriam reunir-se e decidir sobre os destinos da Rússia. Essa havia sido a principal palavra-de-ordem dos bolcheviques.

Durante os primeiros dias de poder foram realizadas as eleições para esse órgão. Devido à vastidão do país e ao generalizado clima de desordem, tais eleições levaram mais tempo que o normal. Finalmente, a opinião das massas fez-se ouvir: mais de 40 milhões de votos foram apurados, sendo que apenas cerca de 10 milhões – a quarta parte dos votantes – para os bolcheviques que, assim, ficaram em minoria.

Somente um idiota poderia imaginar que Lênin passaria o poder para a tal Assembléia Constituinte ou lhe pediria um voto de confiança para o Conselho de Comissários do Povo, do qual era presidente.

Mas, o que fazer então, da Assembléia Constituinte?

Em novembro de 1917, o Comitê Central do Partido Bolchevique reuniu-se para examinar a incômoda situação. Ficou decidido adiar a instalação da Assembléia Constituinte e, enquanto isso, esclarecer as massas sobre os perigosos elementos para ela eleitos. Foi alegado que o Partido dos Kadets – um dos majoritários – era formado por inimigos do povo. Seus líderes e constituintes receberam voz de prisão.

Ao mesmo tempo, os bolcheviques iniciaram um jogo político no sentido de levar uma cisão ao partido majoritário – o Partido Socialista Revolucionário, com cerca de 16 milhões de votos -, antigos companheiros de jornada dos bolcheviques, oferecendo-lhe alguns cargos no Conselho de Comissários do Povo. Até os dias de hoje essas práticas são comuns...

Finalmente, a 5 de janeiro de 1918 a única assembléia representativa livremente eleita na história da Rússia se reuniu.

Seus membros foram severamente advertidos de que toda tentativa de qualquer partido ou organização para se assenhorear das funções do Poder estatal seria encarada como uma ação contra-revolucionária. Um funcionário do Partido Bolchevique mostrou-se mais específico, ao ser indagado sobre o que aconteceria se os membros da Assembléia se manifestassem contra os bolcheviques: “Primeiro nós tentaremos dissuadi-los, se persistirem, nós os fuzilaremos”.

No dia da instalação da Assembléia, Petrogrado parecia uma cidade sob estado de sítio. Destacamentos de soldados e marinheiros de confiança guardavam os pontos estratégicos. O bolchevique Moisei Solomovitch Uritsky, chefe da Checka (Polícia Secreta dos Bolcheviques) de Petrogrado, era o mestre-de-cerimônias. O Palácio Tauride, onde a Assembléia iria ser instalada, estava policiado por 200 marinheiros chefiados por Arkadiy Ykovlevich Zhelezniyakov, um anarquista, chefe de uma gang que roubava e raptava em Petrogrado. Ele era o elemento indicado para vigiar a Assembléia, pois se viessem a ocorrer incidentes, estes seriam imputados aos anarquistas.

Viktor Mikhailovitch Chernov, líder do Partido dos Camponeses, eleito presidente da Assembléia, iniciou o seu discurso. Nas galerias, os marinheiros, impacientes, entretinham-se fazendo pontaria com suas armas na cabeça do orador. Após tornar impossíveis os demais discursos, os constituintes bolcheviques retiraram-se do recinto.

Os constituintes dos demais partidos, visando garantir a reunião do dia seguinte, evitando um possível ardil, não abandonaram as dependências do Palácio Tauride. Mas, às quatro horas da manhã Zhelezniyakov deu um soco na mesa do presidente da Assembléia e bradou para Chernov:“Nós já estamos cansados! Encerrem essa reunião e vão-se embora!”

E assim, a única assembléia eleita democraticamente na história da Rússia foi dispersada com um soco na mesa e nunca mais voltou a reunir-se.

Afora pequenas manifestações nas ruas de Petrogrado, nenhuma força apareceu para amparar os representantes do povo russo. A Assembléia foi, então, oficialmente dissolvida pelo Comitê Central do Congresso dos Sovietes. No decreto de extinção foi alegado que “havia indícios de que a Assembléia Constituinte poderia ser apenas uma camuflagem para a luta dos contra-revolucionários visando a derrubada do poder soviético”.

O destino dado à Assembleia Constituinte demonstra a rápida erosão de quaisquer sentimentos democráticos remanescentes entre os adeptos de Lênin. Também, ao contrário do que aconteceu em outubro, quando da luta pela derrubada do governo de Kerensky, nenhum bolchevique argumentou em favor da ampla coalizão de todo o povo.
O governo de um partido único tornou-se, assim, a norma aceita e inquestionável que vigorou na União Soviética até dezembro de 1991, quando ela foi extinta por Boris Yeltsin, e nos demais países em que, pela força, os comunistas se instalaram.

Carlos I. S. Azambuja é Historiador.

Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Dinheiro não compra educação de qualidade


por JOSÉ MARIA E SILVA

O investimento de 10% do PIB em educação pode não surtir o efeito desejado, caso o ensino brasileiro não se liberte da doutrinação que o assola, como defende a ONG Escola Sem Partido, que realiza o primeiro congresso a tratar do tema.

Caso a educação pudesse ser feita apenas com dinheiro, sem dúvida, o Brasil teria um ensino de Primeiro Mundo. Com a promulgação pela presidente Dilma Rousseff do Plano Nacional de Educação (Lei Federal 13.005), em 25 de junho último, o Brasil terá de aplicar 10% do Produto Interno Bruto (PIB) em educação, o que significa uma soma anual de R$ 484 bilhões, considerando o PIB de 2013, segundo o IBGE. Hoje, o País investe 5,8% do PIB em educação e, a partir do quinto ano de vigência do plano, isto é, em 2019, esse investimento terá de ser de 7%, alcançando os 10% no final da vigência do plano, em 2024.

Com os 5,8% que já investe na educação, o Brasil desponta como um dos países que mais investem no setor. Segundo reportagem da “Folha de S. Paulo”, publicada em 5 de junho, “entre os países com maior peso na renda mundial, reunidos no G-20, os desembolsos com a educação variam de 2,8%, na Indonésia, a 6,3% do PIB no Reino Unido, de acordo com a ONU”.

Ou seja, o Brasil já está próximo do topo do investimento e, com os 10% do PIB para a educação, tende a se isolar na liderança entre as grandes economias, ficando atrás apenas de nações diminutas, como Lesoto, que lidera investindo 13% do PIB, ou de Cuba, cujas estatísticas sociais – jamais fiscalizadas a sério pela ONU – são tão confiáveis quanto uma nota de 3 reais.

O comprometimento desse porcentual do PIB no ensino foi a grande bandeira da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, liderada pelo ex-líder estudantil Daniel Cara, com uma vasta rede de apoiadores nacionais e internacionais, que vão desde a ONG ActionAid, presente em mais de 40 países, até a Unesco e o Unicef, organismos da ONU para a educação, a cultura e a criança, passando pela Open Society do megainvestidor Georges Soros. Essa medida irá salvar a educação brasileira? A resposta é não. Nas condições em que se encontra o ensino no País, investir 10% do PIB em educação é quase jogar sal em carne podre. E uma das razões para se considerar esse gasto um desperdício e não um investimento é, sem dúvida, o viés ideológico da educação brasileira.

O próprio Plano Nacional de Educação é um sintoma da doutrinação que impera nas escolas do País, tanto públicas quanto privadas. A Campanha Nacional pelo Direito à Educação, que sustentou a luta pela aprovação do plano e dos 10% do PIB, é muito mais do que a face de Daniel Cara, fartamente entrevistado pela imprensa como líder do movimento. Seu comitê diretivo conta com 11 entidades, entre elas o Centro de Cultura Luiz Freire, um grupo de esquerda radical de Pernambuco, sediado em Olinda, que defende o controle social dos meios de comunicação, e até o indefectível MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), com 2 mil es­colas em seus assentamentos e a­campamentos, nas quais oferece uma educação à moda cubana, tendo Che Guevara como modelo.
Universidades viraram incubadoras de minorias

Hoje, muitos movimentos sociais não surgem espontaneamente – são fomentados ou até criados pelas universidades, que se tornaram verdadeiras incubadoras de minorias. Na maior parte dos casos, de forma culposa, em decorrência de uma pregação ideológica geral, mas, em alguns casos, de modo doloso, por meio da organização institucional desses movimentos, que contam até com financiamento público, geralmente com verbas destinadas à pesquisa e à extensão universitária.

É o caso, por exemplo, do Centro de Difu­são do Comunismo da Uni­ver­si­dade Federal de Ouro Preto (MG), um programa de extensão vin­culado ao Curso de Serviço Social da universidade, que oferecia bolsas de pesquisas para os alunos participantes de suas atividades de militância política contra o capitalismo.

Apesar de declarar que “não é um programa acadêmico com objetivos político-partidários”, o Centro de Difusão do Comunismo afirma que seu objetivo é “desenvolver o trabalho de ensino, pesquisa e extensão a partir da perspectiva da classe trabalhadora – do ser social que trabalha e é explorado – e lutar por uma sociedade para além do capital!”. O próprio nome não poderia ser mais expressivo: em vez de um “grupo de estudos” do marxismo, como muitos que pululam dentro das universidades pelo País afora, trata-se de um “centro de difusão” do comunismo, o que revela o seu papel de militância política e não de estudo apenas teórico.

Diante desse aparelhamento político da universidade, um advogado de São Luís do Maranhão, Pedro Leonel Pinto, entrou com uma ação popular contra o centro comunista e conseguiu que a Justiça Federal suspendesse o custeio de suas atividades por parte da Universidade Federal de Ouro Preto, que ficou impedida de fornecer professores e disponibilizar suas dependências para as atividades do centro. Todavia, a única medida que deve ter surtido efeito prático foi a suspensão do pagamento das bolsas de extensão para os ativistas do centro, pois a pregação comunista continuou dentro da própria universidade, a despeito da decisão da Justiça.

De 24 de abril a 10 de julho último, por exemplo, o Núcleo de Estudos Marxistas da Federal de Ouro Preto, vinculado ao CNPq, promoveu um encontro sobre a obra do marxista húngaro István Mészáros, realizado nas dependências do Instituto de Ciências Sociais Aplicadas da universidade. Nos cartazes de divulgação das palestras aparece a frase: “Em apoio ao Centro de Difusão do Comunis­mo”. No mês de maio, também nas dependências do instituto, foi realizado um “Encontro com os Traba­­lhadores”, envolvendo quatro sindicatos, promovido pelo Curso de Serviço Social em apoio ao Centro de Difusão do Comunismo. No cartaz de divulgação do evento, uma frase desafiadora: “Ação judicial nenhuma vai impedir nossa luta ao lado dos trabalhadores”.
Minorias com verbas milionárias

Não se trata de um caso isolado, mas de uma tendência. Pelo Brasil afora, núcleos de estudantes de pós-graduação ou graduandos com bolsa de iniciação científica engrossam as fileiras de movimentos como a Marcha das Vadias, a Marcha da Maconha, o Movimento Passe Livre e os black blocs, geralmente associando a militância política com as atividades discentes. O movimento gay, o movimento negro e o movimento feminista são os que mais se beneficiam da doutrinação ideológica que impera nos meios acadêmicos. Hoje, na área de humanidades, não faltam linhas de pesquisa destinadas aos estudos de raça e de gênero, que se tornaram até mais atraentes do que os estudos de classe das velhas gerações do marxismo ortodoxo, calcado no materialismo histórico-dialético.

O próprio movimento negro, que tem raízes numa luta justa contra o racismo, especialmente nos Estados Unidos, adquiriu contornos claramente artificiais, chegando a ser ele próprio segregacionista ao tratar o branco como inimigo e o mulato como um ser desprezível, que só é digno de respeito caso se assuma como negro. No excelente livro “Uma Gota de Sangue”, o geógrafo e sociólogo Demétrio Magnoli disseca a criação artificial de minorias pelo mundo afora, num levantamento à altura dos estudos do economista norte-americano Thomas Sowell, que, analisando as ações afirmativas de países como Estados Unidos, Índia, Ni­gé­ria, Sri Lanka e Malásia, de­monstra a ineficácia das políticas pú­blicas que visam a emancipar as mi­norias e, no mais das vezes, acabam produzindo injustiças e conflitos.

E o que é mais grave: muitas dessas minorias só tomam consciência de si, criando uma história que nunca tiveram, por meio do discurso ideológico produzido nas universidades e fomentado com recursos de poderosas fundações privadas, como a Fundação Ford. De­métrio Magnoli descreve esse fenômeno: “Diferentemente das nações, que emanam de um processo complexo de fabricação de uma história, uma literatura e uma geografia, as ‘minorias’ da globalização emergem apenas de uma postulação étnica superficial. Nações podem até ser interpretadas como imposturas, mas são imposturas nas quais o povo acredita. As ‘minorias’, em contraste, são imposturas nas quais nem mesmo os impostores acreditam”.

Para Demétrio Magnoli, as elites multiculturalistas que formam essas minorias artificiais “não precisam de apoio popular, pois a sua legitimidade se conquista nos salões suntuosos das instituições internacionais”. O autor mostra que só a Fundação Ford destinou 280 milhões de dólares, em 2001, para criar programas de pós-graduação voltados para a formação de “lideranças emergentes de comunidades marginalizadas fora dos EUA”.

Segundo outras fontes, de 1962 a 2001, a Fundação Ford investiu só no Brasil 347 milhões de dólares, em valores corrigidos pela inflação. Magnoli afirma que “as subvenções da Fundação replicaram nas universidades brasileiras os modelos de estudos étnicos e de ‘relações raciais’ aplicados nos EUA e consolidaram uma rede de organizações racialistas que começaram a produzir os discursos e demandas dos similares norte-americanos”.

Atentado à dignidade humana

Ora, se até o histórico movimento negro já está perdendo suas raízes legítimas e se tornando um engenho ideológico da academia, o que dizer de movimentos sem qualquer lastro histórico, como a Marcha das Vadias? Tanto no Canadá, onde teve origem, quanto no Brasil, que imita tudo, essa marcha é pura consequência dos estudos de gênero que se disseminaram pelas universidades de todo o mundo. Vá lá que, em metrópoles como São Paulo ou Nova York, onde existem tribos para todos os gostos, esse tipo de marcha pudesse surgir espontaneamente (e nem isso ocorre). Mas o que dizer da modesta cidade de Jataí, no interior de Goiás, com seus 93.759 habitantes? Lá, a “Marcha das Vadias” só existe porque conta com o apoio do Campus UFG, por meio de um grupo de extensão sobre gênero, direitos e violência.

O extremismo ideológico que grassa nas universidades pode chegar ao ponto de destruir a própria dignidade humana, equiparando-se aos experimentos de Joseph Men­gele no ápice do terror nazista. Em 29 de maio último, os alunos do curso de Produção Cultural da Universidade Federal Fluminense, como parte da disciplina chamada “Corpo e Resistência”, promoveram no Campus de Rio das Ostras o evento “Xereca Satânica”, em que, a pretexto de denunciar o alto índice de estupro, uma mulher teve a vagina costurada no meio da festa. Depois que o evento foi denunciado na grande imprensa, a Polícia Federal chegou a abrir inquérito para apurar responsabilidades, mas provavelmente a investigação não dará em nada, esbarrando na apregoada liberdade estética de seus promotores.

Mais espantoso do que o próprio evento foi a defesa que se tentou fazer dele. O coordenador do curso de Produção Cultural da Universidade Federal Fluminense, Daniel Caetano, graduado em Cinema e doutor em Literatura, Cultura e Contemporaneidade, explicou que a mulher que teve a vagina costurada integra um coletivo de Minas Gerais que foi ao Rio especialmente para participar do evento. E acrescentou: “É um coletivo que está habituado a fazer performances como a que aconteceu, feitas para chocar a sensibilidade das pessoas e fazê-las pensar sobre seus próprios limites”.

Ora, se é para testar limites, que se acabe com a tal Comissão da Verdade e se contratem torturadores da ditadura para fazer performances nas universidades.
Daniel Caetano foi ainda mais longe, afirmando taxativamente: “Embora não tenham sido feitos ‘rituais satânicos’ e o título do evento fosse essencialmente provocativo (ao contrário do que o jornalismo marrom afirmou), precisamos dizer que não haverá de nossa parte qualquer censura a atos do gênero”. E desafiou: “Qualquer pessoa em cargo público que porventura se posicionar contra a performance será por nós inquirida acerca de suas atitudes prévias contra os estupros em Rio das Ostras”. Engraçado é que essa gente, quando se trata de combater criminosos armados, sempre fica contra a polícia, alegando que violência não se combate com violência. Mas na universidade ensina a combater o estupro estuprando – o corpo, a inteligência e a dignidade humana.

Efeitos negativos na educação básica

Mas engana-se quem pensa que essa ideologia destrutiva fica restrita às universidades e afeta apenas a qualidade do ensino superior. Ela tem graves consequências na sociedade, especialmente em áreas como saúde e educação. Esse tipo de ativista, até por integrar coletivos ideológicos, participando de amplas redes de relacionamento acadêmico, acaba fazendo especialização, mestrado, doutorado e se tornando autoridade pedagógica, indo pontificar na educação básica sobre gênero, minorias, exclusão. Em que outro lugar um especialista em costurar vagina e teorizar sobre isso arranjaria trabalho? Só mesmo nas Secretarias de Educação, onde poderá pontificar sobre teoria de gênero e “heteronormatividade burguesa”, coordenando a distribuição de camisinhas e kit gay.

Agora pensem quantas camisinhas não dá para distribuir nas escolas com 10% do PIB para gastar? É por isso que, antes de se investir essa fabulosa soma de recursos na educação, seria preciso combater a doutrinação nas escolas. É evidente que o conhecimento não é absolutamente neutro e o professor ou o autor de um livro, na relação com seus alunos e leitores, fatalmente há de misturar alguma crença pessoal em meio aos fatos que leciona. Mas justamente por reconhecer essas limitações humanas, é que a ciência sempre se esforçou para criar métodos que afastassem ao máximo a inevitável subjetividade do indivíduo – e a educação, que serve à ciência e dela se serve, tam­bém esposou esse mesmo prin­cípio, inculcando no mestre a necessidade de cultivar a imparcialidade.

Mas, hoje, ocorre o contrário: ancorando-se em pensadores como o pedagogo Paulo Freire e o filósofo Michel Foucault, o ensino se tornou um instrumento das mais diversas lutas políticas, transformando as escolas num feirão de experimentos de gueto, em que cada minoria julga-se no direito de ter o seu português, a sua matemática, a sua história, a sua geografia, a sua literatura, dilapidando o patrimônio comum que tornou possível o surgimento das grandes civilizações ao longo da história.

Seminário contra a doutrinação

Felizmente, já surgem reações a essa destrutiva politização do ensino. Exemplo disso é a ONG Escola Sem Partido, fundada e coordenada pelo jurista Miguel Nagib, à frente de um grupo de pais e alunos que lutam contra a doutrinação nas escolas. Além do blog que leva seu nome e acumula dezenas de estudos de caso de doutrinação, a ONG realizará na próxima quinta-feira, 24, em Brasília, o I Congresso Nacional so­bre Doutrinação Política e Ideológica nas Escolas, em parceria com a Federação Nacional das Escolas Particulares. O evento será sediado no Colégio Ciman, em Brasília, e terá transmissão ao vivo pela internet, no site da Fenep. O filósofo Olavo de Car­valho será um dos palestrantes, por videoconferência, diretamente dos Estados Unidos, onde reside.

Um fato que chama a atenção no seminário é a presença de professores universitários com doutorado, numa prova de que a fortaleza ideológica da esquerda no ensino superior não é inexpugnável. Luís Lopes Diniz Filho é doutor em Geografia pela USP, professor do Depar­tamento de Geografia da UFPR e autor dos livros “Funda­mentos Epistemoló­gicos da Geografia” (2009) e “Por uma Crítica da Geografia Crítica” (2013). Bráulio Porto de Matos é professor da Faculdade de Edu­cação de Brasília, mestre e doutor em sociologia pela UnB e pós-doutor pela University of Sussex, além de autor de “Pedagogic Authority and Girard’s Analysis of Human Vio­lence” e co-autor de “A Pós-Gra­du­ação no Brasil – Formação e Tra­ba­lho de Mestres e Doutores no País”.

O medievalista Ricardo da Costa é professor do Depar­ta­mento de Teoria da Arte e Música da Uni­ver­sidade Federal do Es­pí­rito e doutor pelo Institut Su­perior d’Investigació Coope­ra­tiva Ivitra. Trajano Sousa de Melo é promotor de Justiça do Minis­tério Público do Distrito Federal e Territórios. Ana Caroline Cam­pagnolo é mestranda em História na Universidade do Estado de Santa Catarina e foi professora de História na rede de ensino pública e privada de seu Estado. Miguel Nagib é advogado e o idealizador de tudo isso. Este que vos escreve completa o quadro de palestrantes. E levo comigo Durkheim, que profeticamente alertava: “De que serviria uma educação que levasse à morte a sociedade que a praticasse?”.

José Maria e Silva é sociólogo e jornalista.

Publicado no Jornal Opção  -  22 JULHO 2014
Enviado por Mauro Julio Vieira para a Tribuna da Internet


terça-feira, 22 de julho de 2014

O Correto Uso do Papel Higiênico

por João Ubaldo Ribeiro

O título acima é meio enganoso, porque não posso considerar-me uma autoridade no uso de papel higiênico, nem o leitor encontrará aqui alguma dica imperdível sobre o assunto. Mas é que estive pensando nos tempos que vivemos e me ocorreu que, dentro em breve, por iniciativa do Executivo ou de algum legislador, podemos esperar que sejam baixadas normas para, em banheiros públicos ou domésticos, ter certeza de que estamos levando em conta não só o que é melhor para nós como para a coletividade e o ambiente. 

Por exemplo, imagino que a escolha da posição do rolo do papel higiênico pode ser regulamentada, depois que um estudo científico comprovar que, se a saída do papel for pelo lado de cima, haverá um desperdício geral de 3.28 por cento, com a consequência de que mais lixo será gerado e mais árvores serão derrubadas para fazer mais papel. E a maneira certa de passar o papel higiênico também precisa ter suas regras, notadamente no caso das damas, segundo aprendi outro dia, num programa de tevê.


Tudo simples, como em todas as medidas que agora vivem tomando, para nos proteger dos muitos perigos que nos rondam, inclusive nossos próprios hábitos e preferências pessoais. Nos banheiros públicos, como os de aeroportos e rodoviárias, instalarão câmeras de monitoramento, com aplicação de multas imediatas aos infratores.


Nos banheiros domésticos, enquanto não passa no Congresso um projeto obrigando todo mundo a instalar uma câmera por banheiro, as recém-criadas Brigadas Sanitárias (milhares de novos empregos em todo o Brasil) farão uma fiscalização por escolha aleatória. Nos casos de reincidência em delitos como esfregada ilegal, colocação imprópria do rolo e usos não autorizados, tais como assoar o nariz ou enrolar um pedacinho para limpar o ouvido, os culpados serão encaminhados para um curso de educação sanitária. Nova reincidência, aí, paciência, só cadeia mesmo.


Agora me contam que, não sei se em algum estado ou no país todo, estão planejando proibir que os fabricantes de gulodices para crianças ofereçam brinquedinhos de brinde, porque isso estimula o consumo de várias substâncias pouco sadias e pode levar a obesidade, diabetes e muitos outros males. Justíssimo, mas vejo um defeito. Por que os brasileiros adultos ficam excluídos dessa proteção?


O certo será, para quem, insensata e desorientadamente, quiser comprar e consumir alimentos industrializados, apresentar atestado médico do SUS, comprovando que não se trata de diabético ou hipertenso e não tem taxas de colesterol altas. O mesmo aconteceria com restaurantes, botecos e similares.
 

Depois de algum debate, em que alguns radicais terão proposto o Cardápio Único Nacional, a lei estabelecerá que, em todos os menus, constem, em letras vermelhas e destacadas, as necessárias advertências quanto a possíveis efeitos deletérios dos ingredientes, bem como fotos coloridas de gente passando mal, depois de exagerar em comidas excessivamente calóricas ou bebidas indigestas. O que nós fazemos nesse terreno é um absurdo e, se o estado não nos tomar providências, não sei onde vamos parar.


Ainda é cedo para avaliar a chamada lei da palmada, mas tenho certeza de que, protegendo as nossas crianças, ela se tornará um exemplo para o mundo. Pelo que eu sei, se o pai der umas palmadas no filho, pode ser denunciado à polícia e até preso. Mas, antes disso, é intimado a fazer uma consulta ou tratamento psicológico. Se, ainda assim, persistir em seu comportamento delituoso, não só vai preso mesmo, como a criança é entregue aos cuidados de uma instituição que cuidará dela exemplarmente, livre de um pai cruel e de uma mãe cúmplice. Pai na cadeia e mãe proibida de vê-la, educada por profissionais especializados e dedicados, a criança crescerá para tornar-se um cidadão modelo.


E a lei certamente se aperfeiçoará com a prática, tornando-se mais abrangente. Para citar uma circunstância em que o aperfeiçoamento é indispensável, lembremos que a tortura física, seja lá em que hedionda forma — chinelada, cascudo, beliscão, puxão de orelha, quiçá um piparote —, muitas vezes não é tão séria quanto a tortura psicológica. Que terríveis sensações não terá a criança, ao ver o pai de cara amarrada ou irritado? E os pais discutindo e até brigando? O egoísmo dos pais, prejudicando a criança dessa maneira desumana, tem que ser coibido, nada de aborrecimentos ou brigas em casa, a criança não tem nada a ver com os problemas dos adultos, polícia neles.


Sei que esta descrição do funcionamento da lei da palmada é exagerada, e o que inventei aí não deve ocorrer na prática. Mas é seu resultado lógico e faz parte do espírito desmiolado, arrogante, pretensioso, inconsequente, desrespeitoso, irresponsável e ignorante com que esse tipo de coisa vem prosperando entre nós, com gente estabelecendo regras para o que nos permitem ver nos balcões das farmácias, policiando o que dizemos em voz alta ou publicamos e podendo punir até uma risada que alguém considere hostil ou desrespeitosa para com alguma categoria social.


Não parece estar longe o dia em que a maioria das piadas será clandestina e quem contar piadas vai virar uma espécie de conspirador, reunido com amigos pelos cantos e suspeitando de estranhos. Temos que ser protegidos até da leitura desavisada de livros. Cada livro será acompanhado de um texto especial, uma espécie de bula, que dirá do que devemos gostar e do que devemos discordar e como o livro deverá ser comentado na perspectiva adequada, para não mencionar as ocasiões em que precisará ser reescrito, a fim de garantir o indispensável acesso de pessoas de vocabulário neandertaloide.
 

Por enquanto, não baixaram normas para os relacionamentos sexuais, mas é prudente verificar se o que vocês andam aprontando está correto e não resultará na cassação de seus direitos de cama, precatem-se.



João Ubaldo Ribeiro (1941-2014) continua um imortal escritor, embora tenha morrido ontem. Texto publicado no site de O Globo em 18 de Julho de 2014. Foi o último artigo escrito pelo João, antes de ser convocado por Deus para a Seleção Acadêmica do Céu, ainda jovem, aos 73 anos. Infelizmente, ficaremos sem o livro sobre Histórias de Bar, que ele vinha preparando há dois anos...

Artigo no Alerta Total – www.alertatotal.net

segunda-feira, 21 de julho de 2014

EDITORIAL DO ESTADÃO DIZ QUE PT USA O DESCARAMENTO COMO POLÍTICA


O Estado de S.Paulo
Editorial


O programa de governo Dilma Rousseff 2014é uma peça publicitária, com forte dose de ficção. Um dos tópicos, intitulado Os 12 anos que transformaram o Brasil, é constrangedor. Ali, a mentira parece adquirir status de verdade histórica.

O que primeiro choca é a incongruência entre o título do programa (Mais mudanças, mais futuro) e o conteúdo proposto. Era de esperar que, com resultados tão pífios – reconhecidos não apenas por analistas econômicos, mas, como as pesquisas têm indicado, pela população em geral, que já percebeu qual é a qualidade do atual governo -, o leitor do programa se deparasse com algo diferente do que viu nos últimos anos. Mas o que lá está é mais do mesmo, com a reedição de “programas” pontuais e desconexos, sem uma visão ampla do que o Brasil precisa. Vê-se logo que é um programa feito pró-forma, em que o País é um simples acessório.

Furtando-se de analisar os seus anos de governo – o que seria mais honesto -, sempre que pode Dilma inclui os oito anos de Lula nas suas comparações. Disso resultam afirmações que se chocam com a verdade. Por exemplo, “ao final de três mandatos, todos os indicadores do período são positivos e sempre muito melhores do que os vigentes em 2002″. Haja criatividade nos números para tamanha miopia!

BRAVATAS

Em relação ao seu calcanhar de aquiles – a inflação -, não tendo o que apresentar, usa bravatas pouco convincentes. “Entendemos o poder devastador da inflação (…) e por isso jamais transigiríamos ou transigiremos com um elemento da política econômica com esse potencial desorganizador da vida das pessoas e da economia”. Se de fato Dilma entendeu o poder devastador da inflação, seus anos de governo são um exercício explícito de má-fé. O que ela de fato compreendeu foi o efeito político da inflação, daí a manipulação de números e os preços e tarifas administrados.

Há passagens que são a mais deslavada mentira. “Os governos do PT assumiram a histórica tarefa de investir na infraestrutura logística brasileira. (…) O Brasil dos governos do PT e de seus aliados ficará marcado como o período da história recente com mais entregas de grandes obras de infraestrutura.” Será uma piada de mau gosto? Se há um setor onde existe uma distância abissal entre o que o País necessita – e o governo prometeu – e a administração petista entregou, este é o da infraestrutura. É dessa forma que a Mãe do PAC vê os resultados pífios do seu mandato?

No programa, renova-se a “profissão de fé do PT” no seu modelo de desenvolvimento. Informa que ele está assentado em dois pilares – a solidez econômica e a amplitude das políticas sociais – e que ganhará no próximo governo um terceiro sustentáculo: a competitividade produtiva. Infelizmente, não houve, como afirma o documento, “defesa intransigente da solidez macroeconômica”. É fato de domínio público. Sobre as políticas sociais, também é conhecido como o PT entende o seu maior trunfo: repasse de verba, sem acompanhamento de resultados efetivos. “Social”, para o governo atual, é sinônimo de voto. Na sua lógica, se deu voto, houve transformação social. E o terceiro pilar é algo de que o PT pouco entende, como já se viu. No máximo, sabe dar incentivos pontuais, de alcance duvidoso, sem uma política de governo séria e responsável, que garanta a confiança no ambiente dos negócios.

Para aparecer bem na foto, o PT não tem escrúpulos de editar a imagem real. No programa, afirma-se que “a tarefa de combater a extrema pobreza (…) foi superada”. Confundem o título de programa social, “Brasil sem Miséria”, com a realidade vivida. Afronta a sensibilidade humana fazer campanha eleitoral ignorando a realidade de tantos brasileiros e brasileiras que ainda vivem em condições sub-humanas.

Não foi o PT quem inventou certa “flexibilidade” nos programas de governo. Já existia antes dele. Mas o atual governo pôs em outro patamar o nível de descaramento. Eleições merecem respeito, porque o cidadão merece respeito. Há limites até mesmo para o que se põe no papel, ainda que na ética petista tudo aquilo que o mantenha no poder seja visto como legítimo. O Brasil merece outra ética, outra política.

(texto enviado por José Carlos Werneck para a Tribuna da Internet em 18/07)

domingo, 20 de julho de 2014

“Um país sem excelências e mordomias”


Depois do artigo

Parlamentares custarão R$ 228 milhões no “recesso branco”
por Eduardo Militão

do Congresso em Foco, transcrito aqui no Blog na sexta-feira, 18 de julho de 2014, só nos resta enviar um exemplar do livro

“Um país sem excelências e mordomias”
por Claudia Wallin

jornalista da Rede Bandeirantes na Suécia,  para cada membro dos
Três “podres” Poderes da nossa res pública, para uma reflexão sobre seus atos como “nossos representantes”. 


Alguns deles, analfabetos, nem sabe ler, e a maioria dos que sabem, se lerem, não vão entender; afinal, para eles, política é apenas uma profissão como outra qualquer, com a vantagem de confundirem imunidade com impunidade.