segunda-feira, 30 de novembro de 2015

É fato: o PT despreza a democracia e seus valores fundamentais

LEONARDO J. F. NEIVA

“Nem Meireles, nem Levy, eu quero a Dilma que elegi”. Esse era o grito de guerra entoado pelos membros da Juventude do PT, após seu último congresso, realizado em Brasília. Neste mesmo evento, os petistas expuseram uma faixa que exibia os dizeres “GUERREIROS DO POVO BRASILEIRO”, e os rostos de João Vaccari Neto, Delúbio Soares, José Genuíno, João Paulo Cunha e José Dirceu. Não por acaso, todos os homenageados na faixa são petistas que estão presos e condenados por diversos crimes, tais como lavagem de dinheiro e corrupção.

O PT apela para a defesa da democracia para acobertar sua presidente, ao tempo em que homenageia criminosos condenados pela justiça. Não haveria uma contradição em tais atitudes? É possível ser um democrata ao tempo em que se protegem corruptos? Sem dúvidas, a democracia não combina com defesa da impunidade. As atitudes do PT demonstram que, na verdade, o partido despreza a democracia e seus valores e instituições fundamentais.

A democracia consolidou-se somente após três grandes revoluções liberais, quais sejam: a Revolução Gloriosa da Grã Bretanha, a Revolução Americana e a Revolução Francesa. Em seguida, nos séculos XIX e XX, a aplicação dos princípios liberais dentro das democracias ocidentais levou o mundo a um patamar de desenvolvimento nunca antes visto. Isso implica dizer que a riqueza e a qualidade de vida observados nos países desenvolvidos depende tanto do liberalismo quanto da democracia. Tal afirmação encontra apoio na obra de Mises[1], e também na teoria de Acemoglu e Robinson[2].

Resta claro que a democracia é de suma importância para o desenvolvimento e para a qualidade de vida dos indivíduos. O que não é tão cristalino, todavia, é o próprio conceito de democracia. Na verdade, existem diversos conceitos, que podem ser aglutinados para a formação de uma definição satisfatória. Assim, a partir da análise dos conceitos de Kelsen, Bobbio e Sartori, dentre outros, pode-se dizer que a democracia é o sistema de tomada de decisões, baseado na regra da maioria, que tem por finalidade resguardar os princípios da igualdade e da liberdade.

Para tanto, requer diversas instituições fundamentais, tais como (i) a realização de eleições livres, justas e periódicas, (ii) liberdade de imprensa, (iii) proteção dos direitos fundamentais da minoria, (iv) identidade entre governantes e governados, e (v) responsabilidade do chefe, dentre tantas outras.

A liberdade é, junto com a igualdade, um dos princípios fundamentais da democracia. Como ressalta Pontes de Miranda[3], a democracia requer liberdade porque o voto sem liberdade é mera obediência a uma ordem.

Por outro lado, a liberdade requer democracia, porque somente o cidadão livre de uma democracia pode influir na vontade do Estado (ente que limita sua liberdade)[4]. A liberdade da democracia se desdobra em diversos direitos fundamentais, como a liberdade religiosa, a liberdade de manifestação de pensamento, a liberdade de locomoção, a liberdade física e a liberdade de imprensa, de tal modo que a limitação indevida de qualquer uma dessas liberdades significa o fim da democracia.

Ocorre que o PT despreza a liberdade de imprensa. Esse é o primeiro ponto de atrito entre a democracia e a ideologia petista. A regulação dos meios de comunicação em prol da hegemonia do partido é um antigo sonho do PT. Nesse sentido, o partido tentou, sem sucesso, instaurar um “controle social da mídia”, a fim de calar as críticas da imprensa livre.

Ante o insucesso da primeira medida, o partido volta agora suas atenções para a “regulação econômica da imprensa”. O novo objetivo é atacar os grandes grupos de comunicação, fatiando-os, além de realizar uma espécie de controle indireto, por meio do domínio das receitas publicitárias. Some-se a isso o fato, repetidas vezes noticiado na imprensa livre, de o PT utilizar verbas públicas para financiar “blogs sujos”, cujo único objetivo é defender o governo e atacar qualquer um que o desagrade.

Ademais, a democracia também requer a regra da responsabilidade do chefe. Segundo Kelsen[5], o regime democrático pressupõe que, assim como todos os cidadãos, o chefe (ou governante) se submeta às leis e responda integralmente por seus atos.

Todavia, o PT não pensa dessa forma. Na verdade, o PT despreza o princípio da responsabilidade do chefe. Para o partido, todos os crimes cometidos por seus membros de alto escalão devem ser perdoados. O PT acredita que seus membros estão acima da lei que se aplica aos demais brasileiros. Essa postura pode ser claramente observada nas notas de apoio emitidas pelo partido em favor de João Vaccari Neto, Delúbio Soares, José Genuíno, João Paulo Cunha e José Dirceu. Mais que isso, conforme já mencionado, os membros do partido condenados são tratados como heróis pelo petismo.

A democracia também requer eleições justas e livres. Somente o processo eleitoral pode garantir a realização de um governo de modo “sensível e responsável perante a opinião pública”[6]. Todavia, o PT despreza essa regra. Conforme amplamente noticiado na imprensa, diversos delatores da Operação Lava Jato, dentre eles Ricardo Pessoa e Salim Sachim, relataram que pagaram propina ao PT, e que o dinheiro fora utilizado para abastecer as campanhas de Lula, em 2006, e Dilma, em 2014. Ora, não há eleições justas quando um dos partidos tem sua campanha financiada por dinheiro desviado de uma empresa estatal.

Ressalte-se que tais delações premiadas (ou colaborações judiciais) são importantes meios de prova admitidos em processos judiciais em curso.

Por fim, a democracia requer igualdade, especialmente igualdade perante a lei. Essa regra implica que (i) a cada cidadão deve ser atribuído o mesmo peso na formação da vontade do Estado, que (ii) a lei deve ser aplicada com a mesma severidade a todos, e que (iii) o Estado deve proteger direitos individuais e evitar favoritismos.

No entanto, o PT despreza a regra da igualdade. O que quer o partido é instaurar no Brasil uma espécie de Estado Estamental ou “Neofeudal”, em que aos amigos tudo é permitido. Isso pode ser observado na atuação petista justo aos “movimentos sociais”. No ano de 2014, a Presidente Dilma editou o chamado “decreto bolivariano”, no sentido de implantar os “conselhos populares” nos órgãos da administração pública. Tais conselhos seriam compostos por integrantes dos “movimentos sociais” aliados políticos do partido. O referido decreto feria de morte a igualdade da democracia, pois concedia um poder extraordinário aos grupos escolhidos pela autoridade central (não por acaso seus apoiadores políticos). Em outros termos, o decreto criava duas categorias de cidadãos, os comuns, que apenas poderiam votar, e os membros de “movimentos sociais”, dotados de especial poder de decisão junto à Administração. Felizmente, o famigerado decreto bolivariano fora derrubado, ainda no mês de outubro de 2014, pela Câmara dos Deputados.

Outro exemplo do desprezo petista para com a igualdade reside na sua postura junto ao MST. Embora seja reincidente na prática de crimes como invasão de propriedade privada e depredação de patrimônio público, o MST é constantemente patrocinado por verbas públicas.

Obviamente, essa proteção atende aos interesses eleitorais do PT.
Por fim, cabe lembrar que a democracia requer dois valores basilares, quais sejam: igualdade e liberdade, bem como a presença de diversas instituições fundamentais, tais como a liberdade de imprensa, a responsabilidade do chefe por seus atos, e a publicidade dos atos administrativos, dentre outras. Ante isso, os fatos demonstram que a conduta do PT é consistente no sentido de violar ou tentar violar sistematicamente os fundamentos da democracia. Portanto, está claro que o PT despreza a democracia. Em outros termos, resta evidente que o PT é inimigo da democracia, porque esta não tolera o privilégio e a impunidade pretendidos pelo partido.

Instituto Liberal




O que Carlos Lacerda escreveu sobre corrupção

Carlos I. S Azambuja

O comunismo é um sistema de poder totalitário no qual uma casta burocrática e privilegiada, reunindo pela primeira vez no mundo moderno todos os instrumentos do Poder nas mesmas mãos, possui ao mesmo tempo os meios de produção e de troca e todos os meios de enquadramento político e cultural, dos quais se serve ditatorialmente.

Eis uma síntese para recordar o que o maior brasileiro de seu tempo, Carlos Frederico Werneck de Lacerda, escreveu no prefácio do livro "Em cima da Hora, de Suzanne Labin, editado no Brasil em 1964, porém traduzido por Lacerda antes de março de 64.

No prefácio, Carlos Lacerda escreveu que o livro “Em Cima da Hora” é uma importante contribuição à luta pela Democracia no Brasil, pois são impressionantes a ignorância e a candura com que se faz o jogo dos soviéticos, na infiltração, na propaganda e na conquista deste país, decisivo para a América Latina e para o próprio destino da liberdade no mundo.

“Os liberais arrependidos, os socialistas retardados, os religiosos tomados de surpresa, os ensaístas deslumbrados, os jornalistas alfabetizados, os intelectuais ressentidos, os desajustados da liberdade, os novos-ricos de certos bancos e os novos-pobres de certo espírito, formam as mais estranhas combinações para abrir caminho à propaganda, ao sofisma, às idéias-força da Guerra Subversiva que os soviéticos movem contra o mundo livre.

Sem defesa adequada, com os partidos em dissolução, as Forças Armadas intrigadas e perplexas, a própria Igreja Católica ameaçada de divisão e de se colocar, em vários setores, a serviço da subversão pensando que assim se renova, o que mais admira é como o Povo, o simples e bom Povo do Brasil ainda não se convenceu, de vez, que o regime soviético é o melhor. Pois, de todos os lados, os responsáveis pela sua formação cultural, espiritual, econômica, e pela sua defesa militar, ou tentam convencê-lo a se entregar ou se omitem, com o pavor de não serem admitidos no paraíso soviético que pretende abrir aqui uma sucursal.

Um Presidente da República tem o desplante de dizer que a Constituição que jurou defender e nunca respeitou nem cumpriu, está superada. E contra ela mobiliza, numa aliança natural, os negocistas e os comunistas, igualmente interessados em saquear o Brasil, privando-o da ordem democrática, da ordem com liberdade, da liberdade com responsabilidade.

Há os que dizem: é inútil combater o comunismo, o que há a fazer é combater a miséria. Supondo que a miséria acabe no mundo antes do comunismo, tomemos o argumento: o comunismo só vence onde há miséria. Logo, ele precisa da miséria para vencer. Portanto, cada vez que se aceita a colaboração dos comunistas e seus auxiliares na alegada luta contra a miséria, está-se trazendo um balde de gasolina para apagar o incêndio.

Outro argumento apresentado com freqüência é o da “coexistência pacífica”. Supor que a ditadura soviética se deixará confinar nos territórios já ocupados, e uma nova linha de Tordesilhas dividirá o mundo entre zonas de influência dos Estados Unidos e da Rússia, que se respeitarão entre si, é uma versão nova do espírito de Munique.

Com deplorável leviandade, fruto da aflição servida pela ignorância, certos prelados confundem economia social com assistência social, e Jesus Cristo com Jean Jacques Rousseau. Uma epidemia de oportunismo, agravada pela ignorância e pelo pedantismo se apossa do Brasil. Este é bem o momento de fazer ouvir a voz clara e sincera de uma inteligência poderosa, leal à missão que se impôs.

Certo, há que lutar pelo bem-estar social. Mas, a condição de êxito dessa luta é a eliminação do comunismo. Não é só a miséria a estimular o comunismo. É o comunismo a estimular a miséria.

Poucos fatores podem ser tão decisivos, na guerra política, quanto um livro. Foi com livros que Lênin deu saída à Revolução Russa. É com livros, é com idéias que podemos fazer a Revolução Brasileira.

Quem quiser entender o que se está passando no Brasil, e contribuir para mudar esses acontecimentos terríveis, deve ler este livro. Os inimigos também. Ele só não adianta aos tolos.”

Carlos Ilich Santos Azambuja
Historiador.

Alerta Total – www.alertatotal.net




domingo, 29 de novembro de 2015

Por que o tempo está passando tão rápido?

MARLUCE DE OLIVEIRA 

Ressonância de Schumann

Não apenas as pessoas mais idosas, mas também as jovens passam pela experiência de que tudo está se acelerando excessivamente. Ontem foi Carnaval, dentro de pouco será Páscoa, mais um pouco, Natal. Esse sentimento é ilusório ou tem base real?

Pela ressonância Schumann, se procura dar uma explicação. O físico alemão W.O. Schumann constatou em 1952 que a Terra é cercada por um campo eletromagnético poderoso que se forma entre o solo e a parte inferior da ionosfera, cerca de 100km acima de nós. Esse campo possui uma ressonância (dai chamar-se ressonância Schumann), mais ou menos constante, da ordem de 7,83 pulsações por segundo.

Funciona como uma espécie de marca-passo, responsável pelo equilíbrio da biosfera, condição comum de todas as formas de vida. Verificou-se também que todos os vertebrados e o nosso cérebro são dotados da mesma freqüência de 7,83 hertz.

Empiricamente fez-se a constatação de que não podemos ser saudáveis fora dessa freqüência biológica natural. Sempre que os astronautas, em razão das viagens espaciais, ficavam fora da ressonância Schumann, adoeciam. Mas, submetidos à ação de um simulador Schumann, recuperavam o equilíbrio e a saúde. Por vários anos as batidas do coração da Terra tinham essa freqüência de pulsações e a vida se desenrolava em relativo equilíbrio ecológico.

Ocorre que a partir dos anos 80, e de forma mais acentuada a partir dos anos 90, a freqüência passou de 7,83 para 11 e para 13 hertz . Ao invés de 24h, o dia tem 16h.

O coração da Terra disparou. Coincidentemente, desequilíbrios ecológicos se fizeram sentir: perturbações climáticas, maior atividade dos vulcões, crescimento de tensões e conflitos no mundo e aumento geral de comportamentos desviantes nas pessoas, entre outros.

Devido à aceleração geral, a jornada de 24 horas, na verdade, é somente de 16 horas. Portanto, a percepção de que tudo está passando rápido demais não é ilusória,mas teria base real nesse transtorno da ressonância Schumann.

Esse super-organismo vivo que é a Mãe Terra, deverá estar buscando formas de retornar a seu equilíbrio natural. E vai consegui-lo, mas não sabemos a que preço, a ser pago pela biosfera e pelos seres humanos. Aqui abre-se espaço para grupos esotéricos e outros futuristas projetarem cenários, ora dramáticos, com catástrofes terríveis, ora esperançosos, como a irrupção da quarta dimensão, pela qual todos seremos mais intuitivos, mais espirituais e mais sintonizados com o biorritmo da Terra.

A tese recorrente entre grandes cientistas e biólogos é de que a Terra, efetivamente, é um super-organismo vivo, de que Terra e humanidade foram feitos para estar sempre em harmonia, como os astronautas testemunham de suas naves espaciais. Nós, seres humanos, precisamos da Terra que nossa casa é, que amamos. Porque? Segundo a teoria de Schumann, possuímos a mesma natureza bioelétrica e estamos envoltos pelas mesmas ondas ressonantes Schumann.

Verdade Mundial



O Poder da Palavra

Ian Mecler

Um dos temas mais sérios e práticos que estudamos na cabala é o lashon hará ou maledicência. A quase totalidade das pessoas, independentemente de religião, idade ou classe social, pratica o lashon hará diariamente e experimenta seus indesejáveis efeitos.

O lashon hará se apresenta sob várias formas: a mais conhecida é quando uma pessoa fala a outra sobre os aspectos negativos de uma terceira pessoa. São pequenos machucados na alma, envolvendo neste caso:
1) Quem fala: expressando pura negatividade atrai a mesma negatividade;
2) Quem ouve: recebe toda aquela negatividade destrutiva;
3) De quem se fala: aquele que não ouve, mas sente e se enfraquece.

Este tipo de lashon hará é comum e aparece de muitas maneiras disfarçadas, mas não por isso menos nocivas. Por exemplo, quando você está com um amigo e começa a falar mal do governo, você realimenta a sua negatividade, a de seu amigo e daquele que exerce a função de governante. Mesmo que o governante seja desonesto, se o seu comentário não tiver um caráter construtivo simplesmente não o faça.

Mas existem outros tipos de lashon hará, também nocivos e mais difíceis de serem identificados. Você vive lamentando sobre si mesmo para os outros. “Coitadinho de mim, estou sempre doente, sem dinheiro, insatisfeito”. Neste caso o número de pessoas “machucadas” é de apenas dois, mas o efeito sobre suas vidas é igualmente devastador.

Um terceiro tipo de lashon hará ocorre quando você ouve a maledicência de um outro. Seja seu amigo de infância, seja seu parente mais próximo, quando sentir que este começa a despejar negatividade em seus ouvidos, experimente correr dali e estará fazendo uma nobre ação para ambos.

Enfim, se você, caro leitor, ainda duvida da importância de evitar todo este mal provocado pela negatividade da palavra experimente um exercício: passe uma semana inteira sem falar mal dos outros, sem falar mal de si mesmo e evitando ao máximo ouvir a negatividade alheia. Prepare-se, não será tarefa fácil, mas o resultado final pode ser um milagre em sua vida.


sábado, 28 de novembro de 2015

Ação de Delcídio é a prova de que a compra da refinaria de Pasadena foi uma grossa sem-vergonhice

Reinaldo Azevedo

Se o senador, que era pouco mais do que zé-mané em 2006, levou US$ 1,5 milhão em propina, quanto se pagou a quem realmente decidia?

Nós, da imprensa, estamos dando pouco destaque a uma questão da maior relevância. Querem ver?

Por que é que um senador então respeitado, como Delcídio do Amaral, com trânsito no PT e na oposição, líder do governo no Senado, paparicado pela imprensa — e, de fato, ele sempre foi um homem cordial —, se mete a planejar uma operação da pesada, criminosa (e não é coisa leve), arriscando-se a ser, como foi, desmoralizado?

Bem, é a lógica dos apostadores, não é? Jogou alto porque o prêmio era grande. Ou, vá lá, é a lógica dos apostadores no lado escuro da sorte: jogou alto porque, a verdade vindo à tona, ele teria muito a perder.

O que pesava contra Delcídio, então? A acusação de Fernando Baiano, segundo a qual ele levara entre US$ 1 milhão e US$ 1,5 milhão de propina na compra, pela Petrobras, da refinaria de Pasadena.

Era só Fernando Baiano falando? Pois é… Ocorre que Nestor Cerveró, o homem que comandou a compra da sucata de Pasadena, estava fechando o seu acordo de delação premiada. E Delcídio viu o perigo crescer à sua frente — daí a necessidade de tirar do Brasil o “Nestor”, como ele chama, cheio de intimidade, o ex-diretor da Petrobras.

Vamos ser claros? Se alguém ainda tinha alguma dúvida de que a compra da refinaria de Pasadena foi, independentemente de qualquer outra coisa, um escândalo monumental, agora não precisa ter mais. Vamos ser ainda mais claros? Vocês acham que Delcídio iria se meter nesse pântano se Baiano estivesse mentindo?

E agora entro na segunda questão relevante. Ora, quem era Delcídio, na ordem das coisas, quando a primeira metade de Pasadena foi comprada, em 2006? Um mero senador em busca de expressão.

Disputou o governo do Mato Grosso do Sul naquele ano e perdeu. A propina teria servido para financiar sua campanha, diga-se.

Se Delcídio, que era quase nada, recebeu US$ 1,5 milhão de propina, quanto terá recebido quem realmente comandava a sem-vergonhice?

Só para lembrar números: em 2005, os belgas da Astra Oil compraram a refinaria inteira por US$ 42,5 milhões. No ano seguinte, venderam 50% à Petrobras por US$ 360 milhões — US$ 170 milhões diziam respeito a estoque de petróleo. Mesmo assim, os belgas transformaram, então, em um ano, US$ 21,25 milhões em US$ 190 milhões.

Petrobras e Astra Oil se desentenderam. Dadas as cláusulas do contrato, numa negociação conduzida por Cerveró, a estatal brasileira foi obrigada a comprar os outros 50% da refinaria. Tentou resistir e recorreu à Justiça americana. Perdeu. Em 2012, teve de pagar mais US$ 820,5 milhões pelos 50% restantes da sucata. A presidente do Conselho, em 2006, era a senhora Dilma Rousseff. Em 2012, ela já presidia a República.

Os números são tão chocantes, tão estupefacientes, tão absurdos que parecia mesmo impossível não ter havido safadeza da pesada. Mesmo assim, um petista que ainda flana por aí, como José Sérgio Gabrielli, então presidente da Petrobras quando se fez o negócio, defende a compra. Aqui e ali se dizia: “Só pode ter havido corrupção…”.

Pois e… O que o caso Delcídio demonstra? Que foi corrupção da pesada! Se até ele, que não passava à época de um quase zé-mané, levou entre US$ 1 milhão e US$ 1,5 milhão em propina, a gente pode imaginar o que foi aquilo.

“Ah, quem diz que ele levou foi Fernando Baiano… Dá para acreditar?” Bem, ainda que eu tivesse um fio de desconfiança, ele teria acabado. Afinal, a gravação flagra um Delcídio do Amaral tentando organizar o roteiro de fuga de um prisioneiro para tentar se livrar de um homem que também o incriminava e que comandou a compra da refinaria.

Essa é ainda uma história muito mal contada.

Site da VEJA



Ontem rolou o maior leilão de privatização em 17 anos – os chineses levaram e você nem ficou sabendo

Felippe Hermes

Por onde quer que se olhe, a Lava Jato é uma operação impressionante e de grandes proporções: são 116 presos, 75 condenados, 16 empresas envolvidas, R$ 42 bilhões em desvios e quase R$ 10 bilhões em propinas. Mais impressionante, porém, é o vigor com o qual ocorre as operações da Polícia Federal. Se a prisão do bilionário Marcelo Odebrecht, dono do terceiro maior grupo empresarial do país, já era um feito e tanto, colocar pela primeira vez na história do país um senador em exercício atrás das grades – e de quebra levar para a carceragem o banqueiro mais alinhado ao governo – é sem dúvida um feito capaz de tornar o 25 de novembro um dia histórico. A medida da importância destes fatos, no entanto, se dá por outro lado – por um fato ignorado: o 25 de novembro foi também a data em que realizamos, com sucesso, o maior leilão de venda de ativos públicos dos últimos 17 anos.
Você provavelmente, porém, estava com os olhos em outro lugar. Sem problema. Nós aproximamos a cena.

Delcídio do Amaral possui uma carreira política atípica. Ocupou no início de sua vida pública diretorias em empresas estatais como a Eletrosul e a Petrobras, onde foi diretor entre 2000 e 2001, até trocar o PSDB pelo PT – onde se tornaria senador. Desde então são 12 anos no cargo – onde presidiria a CPMI dos Correios, que viria a descobrir o caso do Mensalão.

André Esteves, o outro personagem do fatídico 25 de novembro, não poderia ter trajetória mais diferente. Iniciou como estagiário na corretora Pactual em 1989, para em 10 anos tornar-se um dos sócios controladoras do banco, ao “demitir” seu ex-chefe e fundador do banco. Esteves entrou para o time de grandes banqueiros do mundo ao realizar grandes jogadas, como a venda de seu banco ao UBS, e a posterior recompra, aproveitando-se da crise de 2008. Desde que reassumiu o controle de seu banco, surfou como poucos o período de crescimento da economia brasileira, realizando ao longo de 5 anos operações de fusões e aquisições no valor de R$ 30 bilhões. Foram investimentos tão diversos quanto florestas, lojas de roupas, farmácias, incorporadoras e a maior fornecedora de navios sondas para a Petrobrás, a Sete Brasil. As apostas de Esteves na Petrobrás o levaram até mesmo a outro continente, quando comprou parte das operações da Petrobrás na África.

As ligações de Esteves com o governo, entretanto, não param por aí. Em 2010 o banqueiro se uniu a Lula e Eike Batista em uma empreitada que pretendia fundir a mineradora MMX de Eike com a gigante Vale do Rio Doce, por meio da aquisição da participação do Bradesco na controladora da empresa. Em 2012, uniu-se novamente a Eike e outro velho conhecido da Operação Lava-Jato, Marcelo Odebrecht, além de Sergio Andrade (fundador da Andrade Gutierrez) e Jorge Gerdau, para formar aquele que seria o time de “empresários conselheiros” de Dilma Rousseff.

A união de tamanhos nomes, ainda em alta, pretendia criar aquilo que a revista Veja chamou de “choque de capitalismo” – o maior programa de venda de ativos públicos da história: valores superiores a R$ 200 bilhões apenas em infraestrutura, que somados aos US$ 56 bilhões de dólares em vendas de ativos da Petrobrás (anunciados algum tempo depois), tornariam Dilma a presidente que mais vendeu patrimônio público da história. O PIL, programa de investimento em logística, como ficou conhecido, tinha a intenção de destravar obras em portos, aeroportos, ferrovias e no setor elétrico. Destes, porém, apenas o setor de aeroportos pode ser considerado um sucesso. Neste setor, o maior caso de venda de ativos deu-se, por coincidência, com a venda das operações do aeroporto do Galeão, justamente para a Odebrecht, empreiteira na qual Marcelo era presidente (até junho deste ano, quando foi preso pela operação Lava-Jato). A Odebrecht comprometeu-se a pagar R$ 20,5 bilhões em um prazo de 30 anos.

O retumbante fracasso do programa nas demais áreas pode ser considerado uma das causas da economia brasileira ter patinado durante os anos seguintes. Sem conseguir realizar os investimentos em infraestrutura que suportariam, por exemplo, o bem sucedido setor agrícola, ou dariam competitividade às exportações brasileiras de produtos industrializados, e incapaz de sustentar-se apenas com o foco no consumo, a economia brasileira entrou em recessão, acentuando o desastre nas contas do governo.

Não por acaso, ao assumir a missão de tirar o governo do atoleiro em que se encontra, os ministros Nelson Barbosa e Joaquim Levy viram na retomada do programa de venda de ativos e concessões uma saída para fechar as contas. Politicamente travados em questões como a abertura de capital da Caixa Econômica, a venda de imóveis e concessões em portos e hidrelétricas se tornou a melhor das opções. Ajudados pelo destino que ajudou a manter o mais absoluto silêncio por parte de qualquer ideólogo de plantão, as privatizações de usinas ocorreram também no fatídico 25 de novembro. Foram R$ 17 bilhões, dos quais R$ 11 bilhões pagos à vista e R$ 6,5 bilhões em até 6 meses.

Um dia depois de comprar 27% da Azul Linhas Áreas, os chineses protagonizaram também o leilão de hidrelétricas. Investidores chineses também haviam comprado partes do pré-sal em um leilão realizado em 2014. Ao contrário daquela oportunidade, porém, os leilões deste ano não geraram a empatia dos manifestantes que bradavam contra o capital estrangeiro. Não houve protestos, nenhuma oposição ou gritos de que a venda da terceira maior hidrelétrica brasileira em operação atente contra a soberania nacional.

A maior venda de ativos públicos desde o leilão da Telebrás, em julho de 1998, ocorreu graças a um fator técnico ignorado pelo partido do atual governo quando ainda na oposição. Quando na oposição, o PT encampou a luta contra as privatizações de companhias de energia. Defendeu que Furnas, uma das maiores geradoras do país, continuasse pública. Poucas foram as usinas concedidas na época, todas sob a pecha de “privatização”. Ocorre que, a exemplo de hoje, os contratos firmados entre 1998 e 2000 também possuíam prazos, de 15 anos. Após este período, tais usinas retornariam à posse do governo, que então licitaria as usinas novamente, a exemplo do que está fazendo hoje.

A dúvida persistente entre o que seriam privatizações ou concessões ao final pouco interessa. O repasse de ativos públicos para a gestão privada tornou-se uma unanimidade, cabendo aos governos não mais discutir quem gerencia melhor os ativos, mas quem vende tais ativos em melhores condições.Enquanto a militância luta com unhas e dentes para manter o manto ideológico intacto, o governo segue pragmático, como demandam tempos de crise, e procura a forma mais lucrativa para privatizar ou conceder, não importando o nome, mas os lucros que se obtém.

SPOTNIKS

Comentário do blog:  tudo isto para manter intocada a principal causa da nossa desgraça: o empreguismo !!! 

"Vender" o patrimônio público para conseguir manter nas diversas folhas de pagamento do setor público a grande família dos políticos (cabos eleitorais, parentes, amantes e amigos).

Ou, aumentar impostos para conseguir mantê-los.




sexta-feira, 27 de novembro de 2015

Macri prova que elite argentina é melhor do que a nossa

Alexandre Borges

Mauricio Macri não apenas derrotou o bolivarianismo, tudo indica que é um liberal de verdade.

Vencer as forças das trevas do continente com social-democratas, como se tenta no Brasil, é no máximo uma meia vitória. É como apoiar a Al Qaeda para derrotar o ISIS.

Macri, 56 anos, é filho do imigrante italiano Franco Macri, que chegou pobre à Argentina, trabalhou na construção civil e hoje é um dos mais importantes e prósperos empresários do país. Mauricio foi presidente do Boca Juniors e é o atual prefeito de Buenos Aires.

Detestado pela imprensa, que trata o novo presidente como um “neoliberal que vai acabar com as conquistas sociais”, Mauricio Macri oferece uma chance real de mudança para a Argentina, enquanto o Brasil ainda engatinha na construção de uma única alternativa política de direita. Ele é o primeiro presidente civil eleito em 100 anos que não se identifica com os social-democratas e com o peronismo.
Se ele será ou não um liberal na presidência, o tempo dirá. A decepção com Juan Manuel Santos na Colômbia não nos permite colocar a mão no fogo por ninguém antecipadamente. Se ele vai conseguir se manter no poder, mesmo com a violenta oposição dos peronistas, não há como prever. Se fará um governo liberal como de Sebastián Piñera no Chile, cabe a ele decidir.

Esta página sempre repete que o Brasil não precisa apenas de novos políticos, o país precisa de uma nova elite. Onde está o Maurício Macri brasileiro? Qual bilionário do Bananão apoiaria um candidato realmente liberal?

Os controladores do Bradesco e do Itaú são a favor do impeachment ou financiariam uma opção liberal para o Brasil? E os principais dirigentes da Fiesp? Os herdeiros da Rede Globo estão de que lado?

Como pensam os principais empreiteiros? Você sabe a resposta.
Um Mauricio Macri brasileiro seria tratado com desdém pela imprensa, não conseguiria captar recursos e a GloboNews passaria o dia convocando obscuros professores universitários para dizer que ele seria um fascista de extrema-direita neoliberal contra o povo.

Já o Mauricio Macri argentino é rico o suficiente para bancar a própria campanha e conquistar seu espaço. Ele não teve pressa: foi presidente de clube de futebol, prefeito da capital e só depois chegou à presidência. Sem as urnas venezuelanas apurando o resultado, o povo falou e o bolivarismo portenho foi para a lata de lixo da história.

Franco Macri, 85 anos, começou do zero, trabalhou duro e construiu um império. Como retribuição, deu seu filho para servir ao país e ajudar a fazer da pátria que adotou uma nação mais livre, moderna, justa e desenvolvida. Já os nossos bilionários, como Jorge Paulo Lemann e Abílio Diniz, querem resolver a atual crise colocando FHC e Lula para baterem um papo com uísque e charutos numa sala fechada, é tudo uma questão de lotear melhor o poder e o país.

Com clareza de propósitos, estratégia, paciência e dinheiro suficiente, não há o que temer. Macri é o representante de uma elite patriota, que pensa no país e quer prosperidade para todos, não só para ela. Falem o que quiserem dos argentinos, mas a elite deles é muito, mas muito melhor que a nossa.

Instituto Liberal



As lições dos italianos

Nelson Paes Leme

Dois cientistas políticos italianos da virada do século retrasado para o século passado são leituras importantes para se compreender o que está sucedendo no Brasil de hoje. São eles Gaetano Mosca e Vilfredo Pareto, introdutores da chamada “teoria das elites”. Gaetano Mosca, em seu clássico “Elementi di Scienza Política”, de 1896, estabelece os princípios elementares do conceito de elite, vindo do arcaísmo à modernidade, passando pela Antiguidade.

Tal como seu compatriota florentino e renascentista Niccolò Macchiavelli, Mosca divide a sociedade em governantes e governados. Em todos esses momentos históricos, fica patente que a elite é o estamento social que domina a um só tempo o governo (a política) e as forças produtivas, ou seja, a economia. Já Vilfredo Pareto, sociólogo e economista, contemporâneo de Mosca, publicou dois trabalhos decisivos para a compreensão do tema, mais ou menos à mesma época: “Manual de economia política” (1906) e “Tratado de sociologia geral” (1916). Em ambos, trata da interação entre as diversas categorias de elites, dando ênfase às elites políticas e econômicas.

Por que esses pensadores italianos são importantes para o Brasil de hoje? Pelo simples fato de que as elites aqui, historicamente, engendraram um Estado gigantesco e inadministrável, onipresente e absorvente da economia e da política a um só tempo, gerando um presidencialismo de cooptação e favores. E agora veem-se reféns desse aprisionamento desconcertante nas mãos de uma burocracia partidária incompetente e corrupta que se apropriou desse Estado patrimonialista e paquidérmico.

A aliança do populismo bolivariano com o fisiologismo do chamado “baixo clero” legislativo tomou de assalto o Estado brasileiro em todos os seus segmentos de forma metastática. E a sociedade não dispõe de meios democráticos imediatos para sustar a sangria hemorrágica das instituições que se debatem nesse caos.

Nossas elites falharam e hoje fazem uma autocrítica tardia pelas ruas pintadas de verde e amarelo. Resultado: o Poder Executivo não governa, o Poder Legislativo não legisla e o Poder Judiciário se atém a um arcabouço jurídico e processual arcaico, gongórico e lento, gerando a permanência da impunidade e a reincidência de crimes sucessivos contra o Erário. A mesma Itália de Machiavelli, Pareto e Mosca, nos lega a Mani Pulite e o juiz Moro, tentando abrir uma senda nessa silva oscura de outro italiano ilustre, o magistral Dante Alighieri, em seu ciclo infernal.

Vale a transcrição na íntegra do resumo e introdução do trabalho acadêmico transcendente do Direito Penal, de autoria do juiz Sérgio Fernando Moro, para se compreender o que virá ainda por aí: “Traça breves considerações sobre a operação Mani Pulite, na Itália, uma das mais impressionantes cruzadas judiciárias contra a corrupção política e administrativa. Discute as causas que precipitaram a queda do sistema de corrupção italiano e possibilitaram a referida operação — entre elas os crescentes custos, aliados a uma conjuntura econômica difícil —, bem como a estratégia adotada para o seu desenvolvimento. Destaca a relevância da democracia para a eficácia da ação judicial no combate à corrupção e suas causas estruturais e observa que se encontram presentes várias condições institucionais necessárias para a realização de ação semelhante no Brasil, onde a eficácia do sistema judicial contra os crimes de ‘colarinho branco’, principalmente o de corrupção, é no mínimo duvidosa.

Tal fato não escapa à percepção popular, constituindo um dos motivadores das propostas de reforma do Judiciário. A denominada ‘operação mani pulite’ (mãos limpas) constitui um momento extraordinário na história contemporânea do Judiciário. Iniciou-se em meados de fevereiro de 1992, com a prisão de Mario Chiesa, que ocupava o cargo de diretor de instituição filantrópica de Milão (Pio Alberto Trivulzio). Dois anos após, 2.993 mandados de prisão haviam sido expedidos; 6.059 pessoas estavam sob investigação, incluindo 872 empresários, 1.978 administradores locais e 438 parlamentares, dos quais quatro haviam sido primeiros-ministros. A ação judiciária revelou que a vida política e administrativa de Milão, e da própria Itália, estava mergulhada na corrupção, com o pagamento de propina para concessão de todo contrato público, o que levou à utilização da expressão Tangentopoli ou Bribesville (o equivalente a 'cidade da propina’) para designar a situação.

A operação Mani Pulite ainda redesenhou o quadro político na Itália. Partidos que haviam dominado a vida política no pós-guerra, como o Socialista (PSI) e o da Democracia Cristã (DC), foram levados ao colapso, obtendo, na eleição de 1994, somente 2,2% e 11,1% dos votos, respectivamente. Talvez não se encontre paralelo de ação judiciária com efeitos tão incisivos na vida institucional de um país.

Por certo, tem ela os seus críticos, especialmente após dez anos. Dez suspeitos cometeram suicídio. Silvio Berlusconi, magnata da mídia e um dos investigados, hoje (à época) ocupa (ocupou) o cargo de primeiro-ministro da Itália.

Não obstante, por seus sucessos e fracassos, e especialmente pela magnitude de seus efeitos, constitui objeto de estudo obrigatório para se compreender a corrupção nas democracias contemporâneas e as possibilidades e limites da ação judiciária em relação a ela” .

Tema para a profunda reflexão das nossas elites. Com a palavra, o Supremo Tribunal Federal do Brasil.


Nelson Paes Leme
Cientista Político.

O Globo


quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Prisão do líder do PT no Senado

Congresso em Foco 

A divulgação de um áudio nesta quarta-feira (25) mostra o líder do governo no Senado, Delcídio Amaral (PT-MS), cogitando a hipótese de fuga do ex-diretor do setor internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, para não comprometê-lo nas investigações da Operação Lava Jato. Na manhã de hoje, o Supremo Tribunal Federal (STF) usou a gravação, feita por um dos filhos de Cerveró, Bernardo Cerveró, para justificar a prisão do senador, acusado de tentar obstruir as investigações sobre seu envolvimento no petrolão. No voto referendado por unanimidade pelo Plenário do STF, o ministro Teori Zavascki destacou que a tentativa de atrapalhar as investigações caracteriza crime inafiançável e que o tipo pena de organização criminosa permite flagrante a qualquer momento.

Em um dos trechos do áudio, Delcídio deixa claro que o melhor seria a fuga de Cerveró – para tanto, o senador arquitetou a saída pelo Paraguai do ex-diretor, um dos principais artífices do esquema de corrupção descoberto pela Polícia Federal na Petrobras, além de uma mesada de R$ 50 mil. Em outro ponto da conversa, Delcídio fala da influência que teria no STF para conseguir a libertação de Cerveró.

Bernardo, que é ator e produtor cultural, gravou a fala de Delcídio, não o contestou e encaminhou o conteúdo do áudio ao Ministério Público. O advogado de Cerveró, Edson Ribeiro, também participa da conversa.

Confira o ponto em que Delcídio, Bernardo e Edson Ribeiro cogita a fuga de Cerveró pelo Paraguai:
Delcídio: Acho que o foco é o seguinte: tirar [Cerveró do país]. Agora é a hora que ele tem que ir embora mesmo.
Bernardo Cerveró: É… Eu já até pensei: a gente tava pensando em ir pela Venezuela, mas acho que… Sai com tornozeleira, tem que tirar a tornozeleira e entrar; acho que o melhor jeito seria um barco. É, porque aí chega à Espanha, pelo menos você não passa por imigração na Espanha. De barco você deve ter como chegar.
Edson Ribeiro: Cara, é muito longe…
Delcídio: Pois é. Mas a ideia é sair de onde de lá?
Bernardo: Não, da Venezuela. Ou da…
Edson: É muito longe.
Delcídio: Não, não.
Bernardo: Mas o pessoal faz, cara. Eu tenho um amigo que trouxe um veleiro, agora, de…
Edson: Não, tudo bem, vai matar o teu velho.
Bernardo: É. Mas não sei, acho que…
Edson: [risos gerais] Pô, ficar preso…
Bernardo: Pegar um veleiro bom…
Delcídio: Não, mas a saída pra ele melhor é a saída pelo Paraguai.
Bernardo: Mercosul.
Edson: Mercosul, porque o pessoal tem convenções no Mercosul. A informação é muito rápida.

Agora, o trecho em que Delcídio fala sobre a influência no Supremo e cita ministros como Dias Toffoli, Edson Fachin e Gilmar Mendes:
Delcídio: Agora, Edson e Bernardo, eu acho que nós temos que centrar fogo no STF agora. Eu conversei com o Teori, conversei com o Toffoli. Pedi pro Toffoli conversar com o Gilmar [Mendes], o Michel [Temer] conversou com o Gilmar também, porque o Michel tá muito preocupado com o [Jorge] Zelada E eu vou conversar com o Gilmar também.
Edson: Tá…
Delcídio: Porque o Gilmar, ele oscila muito. Uma hora ele tá bem, outra hora ele tá ruim, e eu sou um dos poucos caras…
Edson: Quem seria a melhor pessoa pra falar com ele? Renan [Calheiros], ou [José] Sarney?
Delcídio: Quem?
Edson: Falar com o Gilmar.
Delcídio: Com o Gilmar, não. Eu acho que o Renan conversaria bem com ele.
Edson: Eu também acho, o Renan. É preocupante a situação do Renan…
Delcídio: Eu acho que.. Mas por quê? Tem mais coisas do Renan? Não tem…

Confira a íntegra do áudio site da revista Época






Corrupção na gestão Celso Daniel era estruturada e se alastrou para a esfera federal, diz juíza

FAUSTO MACEDO E RICARDO GALHARDO

Ao condenar Sombra a 15 anos e meio de prisão, magistrada afirma que quadros importantes do PT 'cederam à corrupção'

Em sentença de 117 páginas, na qual condenou a 15 anos e seis meses de prisão o empresário Sérgio Gomes da Silva, o Sombra, a juíza Maria Lucinda da Costa, da 1.ª Vara Criminal de Santo André, assinalou que ‘o esquema de corrupção era tão estruturado que se ramificou’ e atingiu a administração federal. “Encontrou no pensamento coletivo corrompido terreno fértil e se alastrou inclusive para a esfera federal”, escreveu a juíza.

Sombra é um emblemático personagem do caso Santo André. Ele era muito próximo de Celso Daniel, ex-prefeito do PT executado a tiros em janeiro de 2002. Para o Ministério Público Estadual, o esquema de propinas abastecia caixa 2 do partido. Os promotores afirmam que Celso Daniel foi eliminado porque resolveu dar um fim na arrecadação ilícita em sua gestão ao descobrir que o dinheiro estaria sendo canalizado para o enriquecimento pessoal de Sombra e de outros personagens do caso.

A condenação de Sombra é a primeira imposta pela Justiça no episódio que se transformou em um pesadelo para o PT. Além de Sombra, a juíza condenou o empresário do setor de transportes e de comunicação em Santo André Ronan Maria PInto ( 10 anos e 4 meses de pena) e o ex-secretário municipal Klinger Luiz de Oliveira Souza (15 anos e seis meses). Todos poderão recorrer em liberdade.

A Promotoria atribuiu a Sombra, Ronan e Klinger a liderança de um esquema de arrecadação de propinas no setor de transporte público da cidade do Grande ABC.

A suspeita sobre o suposto caixa 2 do PT surgiu com o depoimento do médico oftalmologista João Francisco Daniel, irmão mais velho de Celso Daniel. Ele revelou que a propina ia para o partido, na ocasião presidido por José Dirceu, mais tarde ministro-chefe da Casa Civil no primeiro governo Lula.

“Os réus, especialmente Klinger e Sérgio (Sombra), ligados que são ao Partido dos Trabalhadores, ocuparam posição de destaque no partido, em uma cidade que congregava a liderança partidária”, assinalou a juíza Maria Lucinda da Costa. “Da administração de Celso Daniel saíram pessoas que ocuparam cargos no primeiro escalão do governo federal petista, como Miriam Belchior e Gilberto Carvalho.

Portanto, tinham eles condições de, em fazendo uma administração limpa, fazer frutificar frutos bons. Mas, não, optaram por ceder à corrupção, o que possibilitou a proliferação do esquema maléfico, como depois se tornou público e notório.”

A juíza cita na sentença uma ‘testemunha sigilosa’. “Ouvida no procedimento preparatório, (a testemunha) relatou que soube pela ex-mulher de Celso Daniel que as empresas contratadas pela Municipalidade desviavam recursos dos cofres públicos para o Partido dos Trabalhadores, para utilização em campanhas eleitorais e que os valores eram entregues em mãos do presidente do Partido, José Dirceu.”

A juíza destaca que ‘no caso específico dos autos, não se pode ignorar, ainda, que a estrutura criminosa se instalou em torno de serviço público essencial, utilizado pela camada mais sofrida da população que, não obstante seja a menos favorecida economicamente, foi a que mais sofreu com o aumento dos custos dos serviços impostos para suportar o pagamento da verba ilícita’.

“Como se não bastasse, são atos da espécie que prejudicam a evolução social, o crescimento da economia, a estruturação do Estado Democrático de Direito e, na medida em que causam o descrédito do administrador público, comprometem a imagem de todas as autoridades públicas e toda a estruturação dos entes federativos”, alerta a magistrada.

A juíza cita João Francisco Daniel, irmão de Celso Daniel. “Relatou que após o falecimento do prefeito Celso Daniel, soube por Miram Belchior, ex-esposa do alcaide, que havia um ‘caixa 2′, cuja receita era destinada ao Partido dos Trabalhadores. Ocorre que pouco antes do falecimento de Celso, cogitou-se que parte deste dinheiro estava sendo desviada em proveito próprio de Klinger, Ronan e Sérgio, tanto que Celso confidenciou ao irmão que estava fazendo um dossiê contra os réus. Posteriormente, Miriam teria relatado à testemunha que “…Klinger direcionava as licitações, o denunciado Ronan seria o beneficiário dessas licitações….e por fim o denunciado Sérgio era o responsável para manter o contato com os empresários de Santo André….Sérgio era um homem violento e responsável pela arrecadação junto aos empresários…”, inclusive, exibindo-lhes arma de fogo durante as reuniões. Finalmente, o dinheiro seria encaminhado ao PT, na pessoa de José Dirceu, por Gilberto Carvalho.”

Perante a CPI que se instalou na Câmara municipal de Santo André, João Francisco disse que ‘o esquema lhe teria sido relatado também por Gilberto Carvalho’.

Tais informações foram desmentidas por Miriam Belchior e por Gilberto Carvalho, segundo a própria sentença da juíza de Santo André. “Também não se ignora que, ouvida pela CPI, Miriam desmentiu o ex-cunhado, assim como Gilberto Carvalho o fez. Entretanto, ainda que não se tenha provado o conhecimento de Miriam e de Gilberto acerca do esquema criminoso, certo é que os depósitos, documentalmente comprovados, são mais que suficientes para provar a existência do grupo criminoso. As demais testemunhas, embora não contribuam para confirmar a acusação, também não bastam para afastar as robustas provas produzidas.”

A juíza cita, ainda, Ivone de Santanta, viúva de Celso Daniel. “Descreveu que no primeiro mandato de Celso, Sérgio trabalhou no gabinete do Prefeito e Klinger era funcionário da Prefeitura. No segundo e terceiro mandatos, Sérgio, por não residir em São Paulo, não ocupou cargo na Prefeitura Municipal e Klinger passou a Secretário. Asseverou que o relacionamento do falecido Prefeito com o irmão João Francisco não era próximo, porque Celso não gostava de ser procurado para atender interesses pessoais do irmão, cujo filho era patrocinado no basquete pela família Gabrilli (proprietária de uma empresa de transportes). Enfatizou que João Francisco pressionava o prefeito para interceder na Administração em favor de Gabrilli. Por outro lado, Ivone negou que Celso estivesse fazendo um dossiê contra Klinger, Ronan e Sérgio. Ao contrário, sustentou que a relação de amizade entre Celso e Klinger nunca foi abalada.”

ESTADÃO



quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Ainda a Operação Condor - um pouco de história

Carlos I. S Azambuja

 Manuel Piñero Losada (nascido em 1933, casado com a chilena Marta Harnecker, com a qual teve um casal de filhos, Manuel, advogado, e Camila)  foi, por mais de 30 anos,  chefe da Direção Geral de Inteligência (DGI) do Ministério do Interior de Cuba, órgão encarregado, além de outras tarefas, dos vínculos com os movimentos revolucionários do Terceiro Mundo, a partir dos anos 60, apogeu da insurgência libertadora. Piñero faleceu em Cuba em 1997 em acidente de automóvel.

Marta Harnecker, escritora marxista chilena, ganhou projeção internacional nos anos 70, quando escreveu o livro “Conceitos Elementares do Materialismo Histórico”, que vendeu, somente em edições em espanhol, cerca de 1 milhão de exemplares e desempenhou um papel importante na formação política de uma geração de jovens universitários, tendo significado, para a Esquerda, o mesmo que a Bíblia significa para os seminaristas. Embora o marxismo-leninismo tenha implodido, esse manual continua a ser utilizado em muitas Universidades latino-americanas. Marta Harnecker, que passou a viver em Cuba desde fins de 1973, é a ideóloga do Foro São Paulo.

O nº 11/1997, da revista “América Libre” (porta-voz do Foro São Paulo), publicou uma longa entrevista com Manuel Piñero Losada, nas páginas 9 a 12.

Disse ele ter chegado a Sierra Maestra em maio de 1957. Antes disso, havia sido dirigente do Movimento Revolucionário 26 de Julho (MR-26) em sua província, Matanzas. Em Sierra Maestra integrou a Coluna 1, comandada por Fidel Castro, e em março de 1958, passou à coluna de Raul Castro.

Em seguida, foi conferida a Piñero a função de direção de Pessoal e Inspeção Territorial, e a do Serviço de Inteligência e Polícia Rebelde.

Em 1961 participou da fundação do Ministério do Interior e nele permaneceu até 1975, como responsável máximo do Vice-Ministério Técnico e, logo depois, daDireción General Libertación Nacional.

A partir de 1975 chefiou o Departamento América, órgão de Inteligência do Comitê Central do PC Cubano (do qual foi membro efetivo desde sua fundação, em 3 de outubro de 1965).

Essa entrevista referiu-se especificamente a Che Guevara, recordando os 30 anos de sua morte na Bolívia.

Em resumo, Piñero disse que durante todo esse tempo em que dirigiu a Inteligência cubana, manteve contato com as seguintes lideranças da guerrilha na América Latina: os nicaragüenses Carlos Fonseca Amador, Tomás Borge, Rodolfo Romero e o ex-Oficial do Exército somozista Somaribia, que dirigiu uma tentativa de luta armada na Nicarágua, no qual morreram os cubanos Ornelio Hernandez e Marcelo Fernandez; os guatemaltecos Turcios Lima, John Sosa, Rolando Ramirez, Pablo Monsanto, Júlio Cáceres (“Patojo”), amigo íntimo de Che Guevara; os peruanos Luis de La Puente Uceda, Hector Bejar Revollo e Javier Heraud; os peronistas William Coocke e Alícia Eguren; os colombianos Fábio Vasquez (que viria a ser o comandante do Exército de Libertação Nacional da Colômbia), os irmãos La Rota (fundadores do Movimento Obrero Estudantil Colombiano) e o Secretário-Geral do PC desse país, Gilberto Vieira; o Secretário-Geral do PC Uruguaio, Rodney Arismendi; os principais dirigentes dos partidos socialista e comunista chilenos, principalmente Salvador Allende, então senador da República, e Jayme Barrios; os principais dirigentes do PC Venezuelano, Fabrício Ojeda; e vários dirigentes haitianos e dominicanos.

Em geral, todos os líderes da esquerda e dos partidos comunistas do continente, que passavam por Havana, se entrevistavam com Piñero. Che Guevara conheceu todos eles, pois participou da Conferência dos Partidos Comunistas da América Latina, realizada em Cuba em 1964.

À pergunta de como Che Guevara concebia o desenvolvimento e a disseminação da luta revolucionária na América Latina, Piñero respondeu que segundo foi demonstrado pela experiência cubana, o núcleo guerrilheiro original, bem dirigido, era o pequeno motor, que acionado política e militarmente colocava em movimento o grande motor das massas. Nisso se baseava a concepção continental e antiimperialista de Che Guevara sobre a luta armada revolucionária. É essencialmente política, militar, de massas e contradiz a interpretação reducionista do FOCO GUERRILHEIRO, que historicamente lhe foi atribuída. Segundo Che, a luta guerrilheira não poderia desenvolver-se naqueles países onde os governos haviam sido eleitos democraticamente e onde não se haviam esgotado as possibilidades de luta política.

Deve ser ressaltada uma idéia básica de Che: não necessariamente têm que existir todas as condições para começar a luta revolucionária, pois a própria luta, em desenvolvimento, as iria criando. Che Guevara, portanto, não é o responsável pelas simplificações da experiência cubana e de suas concepções, desenvolvidas, ainda que com as melhores intenções, por parte de alguns revolucionários do continente.

Perguntado sobre o motivo da preferência de Che pela guerrilha na Argentina, disse que ela está na origem da guerrilha comandada por seu compatriota Jorge Ricardo Masetti, em 1963, pois Che havia conhecido Masetti, como jornalista, em Sierra Maestra; que após janeiro de 1959, Masetti regressou a Cuba, cumpriu algumas missões de apoio à revolução na Argélia com a Frente de Libertação Nacional (FLN), adquirindo certa experiência de combate, cursou escolas militares em Cuba e então Che deu-lhe a tarefa de organizar uma coluna guerrilheira cuja missão principal era instalar-se em Salta, território argentino fronteiriço com a Bolívia. Che prestou uma dedicação especial à preparação desse Destacamento, nomeado Exército Guerrilheiro dos Pobres. Juntaram-se a Masetti o cubano Hermes Peña (morto em combate) e Alberto Castellanos, que caiu prisioneiro e permaneceu 4 anos nos cárceres argentinos sem que fosse identificada sua verdadeira nacionalidade.

Era necessário estabelecer previamente uma base de apoio logístico em território boliviano e, para isso, foram designados os cubanos Abelardo Colomé Ibarra (“Furry”), hoje General de Exército, e José Maria Martinez Tamayo (“Papi”), que morreu depois da guerrilha boliviana. Eles viajaram para a Bolívia a fim de receber Masetti e seu grupo, em coordenação com um grupo de companheiros que nós enviamos a La Paz. Também deve ser reconhecida a cooperação, em todos os momentos, da direção da Frente de Libertação Nacional (FLN) argelina.

Em abril de 1964 foi perdido o contato com Masetti e até hoje não foram encontrados indícios sobre como terminou aquele intento guerrilheiro, bem como as circunstâncias do seu desaparecimento.

Argentina, Peru, Bolívia ...faziam parte do projeto integrador de Che para levar adiante a sua estratégia de continentalizar a revolução. Paralelamente à operação de Salta, um grupo de combatentes peruanos dirigidos por Alain Elias, e entre os quais se encontravam seus companheiros Javier Heraud e Abraham Lamas, iniciaram, em janeiro de 1963, a luta armada, após penetrarem no Peru pela zona de Porto Maldonado, fronteiriça com a Bolívia. Ali morreu o jovem poeta peruano Javier Heraud e outros companheiros. Eles contaram com a ajuda de vários quadros do Partido Comunista Boliviano, especialmente os irmãos Peredo (Inti e Chato Peredo), que lhes proporcionaram apoio logístico e serviram como guias à sua Coluna para regressar, desde o Peru à Bolívia. Anos depois, no Peru, o ELN reiniciou a luta sob a direção de Hector Bejar Revollo e emergem também as guerrilhas de Luis de La Puente Uceda e Guillermo Lobatón, líderes do Movimiento de Izquierda Revolucionária (MIR). Com todos esses dirigentes peruanos CHE manteve reuniões prévias. Entretanto, tanto o intento guerrilheiro do ELN como o do MIR, foram destruídos. Morreram Luis de La Puente Uceda (em novembro de 1965) e Lobatón (em janeiro de 1966). Hector Bejar já havia sido detido em 1965 e destruída a Coluna que comandava.

O projeto boliviano de Che dentro de sua estratégia continental tinha como perspectiva uma guerrilha que deveria transformar-se em uma escola de formação de quadros latino-americanos, sobretudo do Cone Sul, o que propiciaria estender a luta armada a outros países fronteiriços. Isso dependeria do desenvolvimento e crescimento da Coluna-Mãe, assentada na Bolívia.

De uma forma realista, Che analisou que se a partir da Bolívia surgissem e evoluíssem outras colunas guerrilheiras formadas por combatentes de diversas nações do Cone Sul, isso provocaria como reação uma aliança entre os governos e os Exércitos dos países fronteiriços, o que contribuiria para a propagação da luta armada revolucionária na região, a qual se transformaria em um cenário de cruentas, longas e difíceis batalhas, que cedo ou tarde levariam a uma intervenção norte-americana. Isso resultaria, portanto, na “criação de um grande Vietnã na América Latina”, como se referiu em sua histórica “Mensagem aos Povos do Mundo”, na Conferência Tricontinental.

Qualquer um que conheça as leis da guerrilha sabe que a fase inicial é a mais difícil, pois a Coluna ver-se-á obrigada a deslocar-se constantemente para evitar as emboscadas do exército inimigo, mormente se está em desvantagem. Nessa fase da guerrilha, depende de suas próprias forças, e do respaldo que possa receber das redes urbanas de apoio, as quais, naquele momento, na Bolívia, já haviam sido desmanteladas. Por isso não era uma tarefa fácil enviar - como dizem -, desde Cuba, um reforço para a guerrilha de Che na Bolívia. É pura fantasia dizer-se que Che tenha sido abandonado na Bolívia.

Também é uma fantasia a comparação que foi feita entre a suposta falta de apoio a CHE e os exitosos esforços cubanos para tirar da Venezuela os Oficiais cubanos que ali se encontravam na guerrilha, pois na Venezuela o Partido Comunista, o MIR e outras forças revolucionárias - embora tivessem sofrido várias derrotas - conservavam estruturas clandestinas e recursos operativos que facilitaram a organização paciente e minuciosa da operação-resgate desses companheiros. Essas circunstâncias não ocorreram na Bolívia.

Quanto à ida de Che ao Congo, ela foi uma etapa, uma fase intermediária para preparar-se com vistas à sua meta definitiva, e aguardar que a evolução dos acontecimentos na América Latina criasse condições políticas favoráveis para desencadear seus planos estratégicos. Tanto é assim, que no momento de sua saída do Congo, Che perguntou a Harry Villegas, a Carlos Coello e a José Maria Martinez Tamayo, se estariam dispostos a continuar a luta junto a ele em outro país. Uma luta que seria longa, complexa e difícil. Os três, posteriormente, tomariam parte na guerrilha boliviana, com seus pseudônimos: “Pombo”, “Tuma” e “Ricardo”.

As delicadas operações para trasladar Che Guevara e seus companheiros para a África, depois para regressar a Cuba e, mais tarde, sair para a Bolívia, estiveram a cargo do organismo que eu dirigia. Toda a preparação técnica e operativa para a missão no Congo, a documentação, os itinerários de viagem e as coberturas. A partir da embaixada de Cuba na Tanzânia, foi constituído um grupo de apoio encarregado da busca de informações e de cooperação no traslado da logística, desde esse país, até à base de Che no Congo, bem como o treinamento dos responsáveis pelas comunicações e outras formas de enlace com Che. Trabalhamos na falsificação de passaportes, nas informações que ele pedia sobre determinadas situações do país de destino, no treinamento em diversas especialidades. Todos os detalhes técnicos foram elaborados por nossos Oficiais, porém, cada passo, tudo, era analisado e aprovado por Che: as vias escolhidas e quem passaria por elas, como passar dissimuladamente pelos aeroportos, as características desses aeroportos e das fronteiras, o grau de controle migratório, e quais os horários e os dias em que a vigilância era menor por parte das autoridades. Para isso, foi realizado um estudo prévio da situação operativa, fronteiriça e migratória, bem como dos métodos aplicados pela Contra-Inteligência dos países por onde transitariam Che Guevara e os demais combatentes (nota: é sabido que Che Guevara, no trajeto para dirigir-se à Bolívia, passou pelo Brasil).

Para o Congo, na África, foram movimentados mais de 140 cubanos e mais de 20 para a Bolívia. Nenhum deles chegou a ser detectado pelos órgãos de espionagem ianque, nem pelos aparatos de segurança dos países por onde transitaram.

O início da viagem de Che para a Bolívia foi em novembro de 1966.

A morte de Che chegou a Cuba através de uma radiofoto recebida em 10 de outubro de 1967, onde aparecia o seu cadáver.

Pouco tempo depois, Pombo, Urbano e Benigno conseguiram romper o cerco e Inti Peredo conseguiu contato com alguns militantes do PC Boliviano e do ELN, que os conduziram até à fronteira com o Chile. Recorde-se o papel histórico desempenhado por Salvador Allende, então presidente do Senado chileno, que deu todo o seu apoio e proteção aos três sobreviventes.

Observe-se que essas atividades, que justificariam uma ação conjunta dos Serviços de Inteligência dos países do Cone Sul, foram antes, muito antes, da chamada Operação Condor, efetivada após a deposição e morte de ALLENDE, em 11 de setembro de 1973.

Carlos Ilich Santos Azambuja é Historiador.

Alerta Total – www.alertatotal.net