sábado, 2 de dezembro de 2017

Prosa Liberal

Martim Berto Fuchs

A filosofia Liberal não contempla quem, através do seu trabalho, não consegue andar com as próprias pernas. A base da pirâmide, por exemplo, sempre trabalhou duro para garantir seu emprego, não obstante sua baixa remuneração. Remuneração que não lhe permite caminhar com as próprias pernas, mas contribui enormemente para a acumulação por parte dos donos do capital. É simplesmente impossível um trabalhador de salário mínimo, a parte maior do todo, pagar do próprio bolso plano de saúde, educação, transporte, e ainda juntar para a aposentadoria.

Na sua prosa habitual, o Liberal apresenta o desenvolvimento de um país pelo PIB, e a renda per capita pela média. Se estes dois índices estão em alta, o país é um sucesso. Para o Liberal, a base da pirâmide teve TODA liberdade de crescer junto, de sair da base. Se não cresceu e lá permaneceu, é problema dela. 
Não é levado em conta que sem a base a pirâmide desmorona, não se mantém em pé, ou, não gera produto. Não gerando produto, não há acumulação de capital para os acumuladores e nem haveria especulação financeira.

A raça humana se reproduz de forma crescente, e cada vez mais na base da pirâmide, o que garante aos Liberais o excedente de mão de obra para continuar acumulando capital.
Se num país os salários da base começam crescer em seu valor nominal e não apenas pela média, eles transferem suas empresas para países onde ela é abundante e quase de graça, abandonando em seus países de origem, seus ex-colaboradores.

Tudo isto, diz a prosa filosófica Liberal, para baratear o custo da mercadoria, e com isto permitir a mais pessoas ter acesso aos bens produzidos. Fica portanto o trabalhador de salário mínimo, autorizado a gastar sua “fortuna” nos bens produzidos por ele mesmo, bens que, se ele não trabalhasse, nem existiriam.

Por óbvio, há algo de muito ERRADO nesta filosofia. Não é para menos que os Liberais não se mantém no Poder em lugar nenhum do mundo. Servem para consertar as burrices dos socialistas, que conseguem a “proeza” maior ainda, de enviar TODOS para a base da pirâmide. Mas uma vez equilibradas as contas, com o maior sacrifício imposto a base descartável, os socialistas voltam ao Poder.

E é nesta gangorra que o tempo vai passando, pois tanto um como o outro estão há séculos nesta disputa inglória. Prosa de um lado e burrice do outro. No meio, a maior parte da humanidade, que apenas tem servido como boi de piranha, ou cobaia para experiências absurdas.

Está mais do que na hora de encarar o problema com novos olhos, partindo de outro paradigma, construindo um novo Contrato Social. A natureza nos oferece tudo em abundância. Não tem porque tratar o ser humano como produto descartável.

Antes que me tachem de comunista, antecipo que não estou a pregar a igualdade de renda entre todos os atores desta tragédia humana, e nem a condenação do sistema capitalista, bandeiras da burrice histórica do socialismo.
Estou a pregar a distribuição meio a meio dos resultados da produção (lucro) entre Capital e Trabalho, hoje todo ele direcionado ao Capital. Ambos são indispensáveis para a obtenção dos resultados. E disto resultaria o óbvio: aumento de consumidores com poder de compra.

E nem a governança de um país pode ser deixada à revelia dos atores, como querem os Liberais, e nem nas mãos dos agora “politicamente corretos”, como quer a obtusa esquerda brasileira, que não consegue aprender com a história, seja por burrice ou por cretinice, ou ambas.

O Estado pode e deve ser pré-dimensionado – o Estado, vejam bem, e não o mercado -, para que não seja máximo como querem os socialistas, nem mínimo como querem os liberais, onde, além disto, este mínimo deve estar atrelado aos seus interesses.

Liberalismo é um projeto econômico, que se aproveita do político para chegar ao Poder, e de lá explorar o social. Nele, todos tem a liberdade de subir na vida, usando os menos dotados como degrau, e se este degrau ceder, descartá-lo e trocá-lo por um novo. O ser humano, para eles, não passa de uma peça de máquina, facilmente substituída. Nas prateleiras do mundo, tem milhares dessas peças em estoque.

É o liberalismo que mantém o moribundo socialismo na UTI, ligado aos aparelhos. Se desligar e ele vier a morrer e ser enterrado num caixão de segunda, que é o que merece, à quem os Liberais vão culpar pelos descalabros ?
Hoje posam de vestais, comparando seus resultados econômicos – sempre pela média - com os do socialismo. Sem a proposta marxista de economia dirigida e na mão do Estado, a quem eles iriam culpar ? Se voltariam novamente contra os monarquistas ?


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