Álvaro Pedreira de Cerqueira
Brasília, a ‘Ilha da Fantasia’, ao
ser construída 'a toque de caixa' pelo ex-presidente Juscelino Kubitschek,
para erigir a sua pirâmide, qual um faraó desatinado, à custa das futuras
gerações; primeiro raspando os cofres da Previdência Social (num país sério ele
seria deposto e processado criminalmente) ─ consumindo também as verbas da
educação, do saneamento básico, que num país pobre deveriam ser as
verdadeiras prioridades ─, deixou gigantesco saldo negativo, que é crescente,
pois Brasília virou um centro de custos avassalador, devorador e dissipador de
impostos. Em seguida, esgotados aqueles recursos, emitiu moeda falsa, em
estelionato monetário, que resultou na primeira grande espiral inflacionária
que trouxe o caos à sociedade brasileira, sobre ser a inflação o mais iníquo
dos impostos, pois castiga mais os mais pobres.
Em seu livro 'Custo e Escolha' (Edit.
IL), o prêmio Nobel de Economia americano James Buchanan diz que um governante
que saca recursos inexistentes hoje, deixando a conta para as futuras gerações
pagarem, é IMORAL (grifo meu). E este livro é um estudo sobre o CUSTO DE
OPORTUNIDADE, um conceito basilar em Economia, que é a ciência que trata da
aplicação de recursos escassos. E os recursos são sempre escassos, mormente num
país pobre como o Brasil. Conceito este pouco conhecido por nossas elites,
principalmente as universitárias, que só querem entender de Marx e de Keynes,
para azar de nossos estudantes e da sociedade brasileira.
Brasília significou MÁ ESCOLHA, pois
apresentou brutal custo de oportunidade. Quando se faz uma escolha em política,
abre-se mão de outra. Um verdadeiro estadista faz essa escolha considerando um
rigoroso critério de prioridades, em face da escassez dos recursos, e no
caso havia era a inexistência dos recursos (poupança pública) para construir
uma nova capital no distante ermo do planalto central, ainda mais sem antes
fazer uma ferrovia entre o sítio escolhido e os centros produtores de material
de construção, no caso, São Paulo, na época.
Que prioridade deve ser a escolhida
por um estadista que se preza? É investir os recursos escassos (jamais
inflacionando CRIMINOSAMENTE os preços da economia pela emissão monetária sem
lastro, num estelionato monetário, como fez o irresponsável presidente
Kubitschek), investindo os recursos existentes naqueles setores capazes de
trazer O MAIS RÁPIDO RETORNO DE BENEFÍCIOS para o bem-estar dos habitantes do
país, ou para a sociedade. Desde meados do século XX se sabe que esses setores
são a EDUCAÇÃO DE PRIMEIRO GRAU e o SANEAMENTO BÁSICO, e que por isso mesmo são
chamados de investimentos no CAPITAL HUMANO.
Pois esta escolha foi abandonada para
dar lugar à desnecessária construção de nova capital em apenas cinco anos. Qual
o resultado dessa má escolha? O Brasil entrou no século 21 com IDH baixo do de
Cuba! O que é vergonhoso e cruel para com os brasileiros. O IDH - Índice de
Desenvolvimento Humano, criado pela ONU, é o que mede o verdadeiro
desenvolvimento econômico e social de uma nação. O que prova que o tal
"desenvolvimentismo" de JK era e é uma DESASTROSA FALÁCIA. O que
fez a tristemente famosa frase cunhada pelo poeta Augusto Frederico
Schmidt , amigo de JK, "CINQÜENTA ANOS EM CINCO", para slogan do
programa de governo Kubitschek, virar, na verdade, CINQÜENTA ANOS DE PREJUÍZO
EM APENAS CINCO, na minha paródia.
Para comprovar o que disse acima,
tomemos o caso da Coréia do Sul. Terminada a Segunda Guerra Mundial, a
comunista Coréia do Norte invadiu a Coréia do Sul. Os bravos americanos
mandaram suas forças armadas para lá, expulsaram os comunistas e libertaram a
Coréia do Sul. E este pequeno país, do tamanho aproximado do nosso Estado de
Pernambuco, sem possuir petróleo nem jazidas minerais importantes, com poucas
terras agricultáveis, investiu pesadamente em educação primária e saneamento
básico. E adotou a economia capitalista de livre mercado, ou com pouca
intervenção do Estado. Resultado, em menos de três gerações tirou o povo da
pobreza, seu PIB per capita ultrapassou o do Brasil em três vezes, bem como
suas exportações são o dobro das nossas. Produz automóveis excelentes, mais
baratos do que os alemães e japoneses similares e produtos eletrônicos de alta
tecnologia, a preços muito competitivos. Enquanto isso, vemos a Coréia do Norte
matando, literalmente, seu povo de fome.
Mas vejamos outro exemplo mais
recente e mais espetacular ainda. A República da Irlanda, do tamanho aproximado
da Coréia do Sul e do nosso Pernambuco. Este país, (em 2001) há vinte anos era
pobre como Portugal. Entrou para a Comunidade Européia de Nações e esta
ofereceu ajuda de capital, sob a condição de que a Irlanda privatizasse suas
empresas estatais, diminuísse o tamanho do governo e investisse fortemente em
educação primária e saneamento básico. Resultado, APÓS APENAS 20 ANOS a
IRLANDA fez sua economia dar um salto do 33º lugar, equivalente aos
US$17.456 de PIB por habitante (posição hoje de Portugal) para o QUINTO
LUGAR, com US$48.604 de PIB por habitante, ultrapassando a posição de nada menos
que a Dinamarca (6º lugar), os Estados Unidos da América (8º lugar), a Suécia
(9º lugar) e a Holanda (10º lugar).
Enquanto isso, o Brasil de Brasília e
JK amarga IDH abaixo do de Cuba e um PIB por habitante (no 74º lugar) de apenas
US$4.320 (MENOS DE 9% DO PIB POR HABITANTE DA PEQUENA IRLANDA!).
É este o CUSTO DE OPORTUNIDADE
perdida pelos Brasileiros para que o vaidoso e irresponsável ex-presidente
Juscelino Kubitschek tivesse a sua pirâmide no Planalto Central, qual um faraó
maluco.
Mas não é só. Construída sob a égide
da corrupção, pois JK corrompeu o Congresso, o Judiciário e o próprio poder
Executivo, para se permitir tamanho desatino, e dobrou os salários do
funcionalismo (o que se chamou de “dobradinha”), que não queria abandonar a
capital no Rio de Janeiro para mudar-se para a lama vermelha de Brasília. Esta
"cultura" da ilimitada permissividade de gastos inflacionários se
tornou marca da "ilha da fantasia", que suga para lá a maior parte
dos absurdos impostos arrecadados nos estados e municípios, quase 40% do PIB, o
dobro da média dos países emergentes, que é menos de 20%. É com esse espírito
devasso que os canalhas deputados federais resolveram agora aprovar aumento de
90% dos próprios ganhos, mais de 20 vezes a inflação anual. Só em Brasília se
admite este criminoso escândalo sem uma ação judicial para impedi-lo.
Muito mais teria a comentar, que
seria sobre a eleição de um "salvador da pátria", desesperadamente
buscado pelos brasileiros em meio ao caos inflacionário produzido por JK para
construir Brasília, o outro desatinado, o ex-presidente Jânio Quadros. Que ao
tentar o falso golpe da renúncia, após poucos meses de governo, foi substituído
pelo vice-presidente, o caudilho esquerdo-populista João Goulart. O qual, com o
aventureiro Brizola, seu cunhado, tentou implantar uma república
comuno-sindicalista, abortada pelo contra-golpe de 1964. O período
militar se estendeu demais. Se trouxe muitos benefícios, também teve no Gen.
Ernesto Geisel um desastroso governo, que criou mais de 250 empresas estatais,
as quais deram filhotes, tornando-se mais de 600 só na área federal. Isso e
mais a volta da inflação, resultante de tanta incompetência daquele governante
militar.
Todas essas graves perturbações
econômico-sociais originadas pela desastrada construção de Brasília, acabaram
resultando numa redemocratização mal conduzida e as esquerdas tomaram conta do
país. Resultado, com a eleição de Lula, temos hoje a república sindicalista de
esquerda que Goulart e Brizola queriam implantar, sem precisar de revolução
armada, através das urnas, tal como o nazismo subiu ao poder na Alemanha. Lula
aparelhou o estado com a nomeação de mais de 300 mil militantes despreparados
do PT e corremos o risco desse partido se perpetuar no poder, tal como o PRI no
México, que dominou o país por seis décadas, arruinando sua economia e com
vasta corrupção.
As únicas regiões que se beneficiaram
com Brasília foram a Centro-Oeste e a Norte, mais o estado de Minas. Todas as
demais pagaram altíssima conta, e continuam a pagar, como já demonstrado no
início deste artigo. Quer dizer, o custo foi altíssimo e o benefício diminuto.
Com a cultura da permissividade ilimitada de gastos, o Congresso Nacional é,
disparado, o mais caro do mundo. A concentração de riqueza no Brasil é
uma das maiores do planeta. É só ver Brasília, que tem a maior renda per capita
do Brasil sem ter indústria, sua indústria é a do privilégio, com um governo
inchado de aspones, e com ascensoristas do Congresso e do Judiciário ganhando
mais do que oficiais superiores das Forças Armadas, só para dar um pequeno
exemplo.
Em suma, tudo que o presidente J.
Kubitschek fez de bom, foi arruinado pela construção de Brasília.
Brasília revisitada em abril de 2014
Entrar numa das muitas dezenas de
shopping centers de Brasília dá ideia clara do altíssimo poder aquisitivo dos
seus habitantes. Todos os restaurantes da cidade, especialmente os de luxo,
estão sempre lotados, no almoço e no jantar, de segunda-feira a domingo. As
mansões do Lago Sul são suntuosas.
Isto é resultado do desenfreado
empreguismo que se verifica no setor público, como de resto em todo o Brasil.
Só que os salários nos poderes Legislativo e Judiciário são obscenamente
elevados. Sem falar nos sistemas de aposentadoria de parlamentares, com
benefícios equivalentes aos do tempo de atividade, sem que tenham que completar
os trinta anos de trabalho dos aposentados da iniciativa privada pelo INSS, nem
que contribuir, em valores atuarialmente calculados, para gozarem desse
direito, e sem que se torne o atual escandaloso e injusto privilégio.
O governo central do Brasil é muito
mais caro do que a Corte de Saint James, da Inglaterra, ou de qualquer outra
corte real europeia. Nossos parlamentares e ministros de Estado ganham muito
mais e têm regalias como automóvel com motorista e outras, do que qualquer
parlamentar ou ministro de Estado europeu.
O apelido de ‘Ilha da Fantasia’ se
aplica como uma luva à nova capital do Brasil. Tanta gente vivendo de sinecuras
e privilégios cria uma atmosfera de fantasia nos ambientes sociais. Ganhar
tanto dinheiro sem qualquer mérito, ressalvando as raras exceções, torna as
pessoas alegres e sem problemas básicos de sobrevivência. E elas diariamente
enchem as lojas, os bares, restaurantes, boates e casas de show para curtir a
vida com aquela leveza dos bem aventurados.
Tudo isso resulta, como já disse
acima, da cultura da permissividade ilimitada de gastos introduzida em Brasília
pelo ex-presidente Juscelino Kubitschek, que é exaltado por muitos brasileiros,
que o acham um grande estadista, com descortino notável sobre o futuro. Mas são
pessoas que, por honestas e bem intencionadas que sejam, são destituídas de
conhecimentos especializados em economia, como os proporcionados pelos livros
do prêmio Nobel de Economia James Buchanan, no livro acima citado, ‘Custo e
Escolha’.
Mas nas periferias de Brasília
encontra-se o povão que sofre, pois o custo de vida é muito elevado, a moradia
de aluguel é caríssima, tal como o custo dos imóveis, o transporte público é
péssimo e muito caro. A vida para essa maioria dos habitantes da Capital é um
sofrimento sem fim.
Tal sistema político e social
brasileiro existe também por uma infeliz combinação de fatores na História do
Brasil. Nossa origem colonial portuguesa, que desde a descoberta em 1500
instalou um governo mercantilista, com o Estado luso à frente, criando uma
sociedade para servi-lo. Tal como ainda é hoje, para produzir é preciso uma
licença múltipla das autoridades. E havia vários monopólios, concedidos a
amigos ou parentes do rei, primeiro para benefício do monarca, e parte dos
lucros para seu favorecido.
A extração de ouro em Minas Gerais,
como do pau Brasil no litoral da Bahia, foram, como sabem os leitores, as
primeiras atividades produtivas a serviço da corte da Metrópole d’além mar,
seguidas da lavoura canavieira no Nordeste. Só mais tarde foi introduzido o
café, primeiro na Amazônia, mas só viria a vingar em Minas e São Paulo, depois
no Paraná. Essas atividades foram tributadas imediatamente, começando pelo quinto
(20%) do ouro e o Marquês de Pombal, primeiro ministro de Portugal no século
XVIII, montou um fisco rigoroso para cobrar os impostos.
Foi esse fisco que se desenvolveu e
viria se tornar o “leão” da Receita Federal. Tive ocasião de dizer, num Café
Parlamentar na Associação Comercial de Minas (ACMinas), que uma sociedade, como
a brasileira, que admite que o órgão arrecadador de impostos do governo adote
como símbolo um leão, a mais feroz das bestas-feras que há na natureza, é uma
sociedade de TROUXAS!
Significa que o Estado brasileiro tem
um fim em si mesmo, e com símbolo próprio, que nos cobre de ridículo perante o
mundo. Em vez de o Estado servir a sociedade, garantindo-lhe a segurança e a
liberdade, serve-se dela, na pessoa de sua privilegiada burocracia, de cidadãos
de primeira classe, enquanto os aposentados do INSS são cidadãos de segunda ou
terceira classe. E com escárnio, os fiscais da Receita criaram este símbolo do
leão que cobre de vergonha os brasileiros perante outras nações, como disse
acima.
O contrário aconteceu com os Estados
Unidos da América, cujos primeiros habitantes civilizados criaram uma
sociedade, com treze colônias, organizadas como empresas, e só depois
escreveram uma constituição tão simples que ainda é mantida depois de mais de
duzentos anos, e criaram um Estado para servir a sociedade.
O outro fator que contribui pra esse
quadro de distorções e desigualdade social no Brasil é que cerca de 80% da
nossa força de trabalho – PEA – População Economicamente Ativa - ganham
até três salários mínimos, segundo a PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de
Domicílios, do IBGE. Significa que cerca dwe 80% da sociedade brasileira é
pobre e ignorante. Com esse eleitorado não há possibilidade de melhoria no
quadro, pois os políticos eleitos são uma amostra da sociedade.
O resultado é que temos talvez a maior
carga tributária do planeta, para servir primeiro ao Estado, isto é, aos
políticos e burocratas que o tripulam, e só as migalhas que sobram vão, com
péssimos serviços, para a sociedade. Brasília ilustra, com tintas fortes, esse
quadro absurdo que é o retrato de corpo inteiro, ao vivo e a cores tristes, do
nosso infeliz País.
O Brasil tem solução?
Sim, com o pertinaz combate à
Pobreza, através do Planejamento Familiar oferecido gratuitamente aos
voluntários pobres de todo o Brasil, para que possam praticar a Paternidade
Responsável, para quebrar o círculo vicioso da Pobreza. Só assim nos livraremos
do domínio de líderes e partidos esquerdo-populistas, que compram votos com
Bolsa-esmola de variados tipos, que Dilma distribui mais a quem tem mais filhos,
estimulando a ampliação e perpetuação da Pobreza.
Livro ‘O Direito de Bem Nascer’, do
Engenheiro e empresário José Olavo Mourão Alves Pinto, de que sou co-autor.
Entrem no site:
Muito obrigado.
Álvaro Pedreira de Cerqueira é
administrador de empresas pela FGV-SP (1962). Foi cofundador, em 1987, e
executivo do Instituto Liberal de MG (IL-MG), que funcionou até 1997 (10 anos).
Estudante autodidata da Escola Austríaca de Economia. Artigo escrito em Janeiro
de 2001, revisado em 2010 e acrescido em abril de 2014.
Comentário do blog: planejamento familiar só será implementado pelo governo, quando mudarmos o sistema político, permitindo que a sociedade escolha os candidatos para os diversos cargos eletivos.
Enquanto forem os partidos à imporem seus asseclas, esta situação não vai mudar. Pelo contrário, se facilitar, constroem outra Brasília.(MBF).