Sandra Pozzi
A
empresa Boeing e Embraer tateiam
terreno para chegar a um acordo. Os dois fabricantes de aviões confirmaram que
mantêm conversas há tempos para preparar uma eventual fusão. A notícia fez os
títulos da companhia brasileira dispararem até 30% ao longo do dia. Mas ainda
que os investidores interpretem que o acordo é possível, ele só deve sair se o
Governo brasileiro considerar que a negociação favorece seus interesses.
Em nota
conjunta à imprensa, as duas empresas afirmaram que as bases para tal
combinação ainda estão em discussão e que não há garantias que resultarão em
uma transação. Segundo o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira
Franco, o presidente Michel Temernão se
manifesta sobre boatos e ainda aguarda um comunicado formal da Embraer sobre o
assunto. Segundo a Folha de S. Paulo, Temer seria a favor das negociações,
mas sem colocar em jogo o controle acionário da companhia. Ele teria dito a
interlocutores que "no seu Governo, a Embraer jamais será vendida".
Apesar
da negativa de Temer, sua equipe econômica consultou neste ano o Tribunal de
Contas da União (TCU) sobre a venda de ações golden share da Embraer,
Vale e IRB-Brasil Resseguros. Sem essas ações especiais, o Governo perde o
poder de veto sobre decisões estratégicas dessas companhias.
A
possibilidade de uma fusão entre as duas companhias foi repudiada pelo
Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região, cidade onde fica a
sede da Embraer e a maioria de suas linhas de produção no país. "Única
fabricante brasileira de aviões e terceira maior do setor no mundo, a Embraer é
estratégica para o país e não pode ser vendida para capital estrangeiro.
Exigimos que o governo federal vete a venda e, enfim, reestatize a Embraer como
forma de preservar e retomar este patrimônio nacional", disse em nota o
sindicato.
A fusão
da Boeing e Embraer é um casamento sobre o qual se especula há tempos em Wall
Street. A ideia tomou corpo depois que a Airbys anunciou que compraria o
controle do programa de jato regionais CSeries, da Bombardier. Era uma manobra
estratégica para evitar a tarifa antidumping aplicada nos Estados Unidos desde
setembro.
As ações
da Embraer foram suspensas algumas vezes durante o dia, devido à volatilidade
excessiva. A Boeing dispõe de um efetivo suficiente para financiar uma
aquisição completa da companhia sem que ela seja afetada. A operação, além
disso, tem sentido para o grupo norte-americano, pois a nova configuração
permitiria cobrir um mercado que abandonou há várias décadas e pelo qual tem
interesse crescente.
A
companhia brasileira é um ator chave no segmento de aviões regionais, onde
compete precisamente com a Bombardier. É, além disso, um mercado que está
crescendo em escala global. A Boeing,
ainda que tenha liquidez confortável, e seja um dos ativos que mais se
valorizou em Wall Street este ano, tende a ser mais conservadora na hora de
executar seus investimentos.Por isso, antes de qualquer movimento no tabuleiro
do setor, deve ponderar se há sentido nessa eventual fusão.
A
operação também faz sentido para a Embraer, uma vez que existem novos
fabricantes que tentam abrir caminhão nesse mesmo mercado de aviões para até
150 assentos. O que deve determinar ainda é qual tipo de combinação seria
pactuada e qual nível de controle o Governo do Brasil iria ceder, uma vez que é
dona de uma ação de ouro (golden share) que garante o direito de vetar
qualquer operação de compra. A cessão total do controle está descartada.
Hoje a
Embraer tem um valor de mercado estimado em 3,7 bilhões de dólares. No terceiro
trimestre deste ano, registrou lucro líquido de 351 milhões de reais revertendo
o prejuízo de 111,4 milhões do mesmo período de 2016.
Para os
analistas do BTG Pactual, o eventual acordo tem “enorme” potencial de ganho
para as ações da Embraer, que têm sido negociadas a um preço depreciado,
conforme nota distribuída a clientes sobre a notícia, segundo a Reuters. “A
Embraer seria complementar à Boeing (especialmente com sua carteira de jatos
regionais, como resposta ao recente acordo da Airbus sobre o CSeries), as
empresas já têm relacionamentos comerciais (acordo do KC-390) e a Embraer tem
expandido sua presença de produção nos Estados Unidos”, escreveram os analistas
do BTG Renato Mimica e Samuel Alves.
EL PAÍS
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