sábado, 23 de dezembro de 2017

Embraer e Boeing negociam fusão, mas última palavra é de Temer

Sandra Pozzi

A empresa Boeing e Embraer tateiam terreno para chegar a um acordo. Os dois fabricantes de aviões confirmaram que mantêm conversas há tempos para preparar uma eventual fusão. A notícia fez os títulos da companhia brasileira dispararem até 30% ao longo do dia. Mas ainda que os investidores interpretem que o acordo é possível, ele só deve sair se o Governo brasileiro considerar que a negociação favorece seus interesses.

Em nota conjunta à imprensa, as duas empresas afirmaram que as bases para tal combinação ainda estão em discussão e que não há garantias que resultarão em uma transação. Segundo o ministro da Secretaria-Geral da Presidência, Moreira Franco, o presidente Michel Temernão se manifesta sobre boatos e ainda aguarda um comunicado formal da Embraer sobre o assunto. Segundo a Folha de S. Paulo, Temer seria a favor das negociações, mas sem colocar em jogo o controle acionário da companhia. Ele teria dito a interlocutores que "no seu Governo, a Embraer jamais será vendida".

Apesar da negativa de Temer, sua equipe econômica consultou neste ano o Tribunal de Contas da União (TCU) sobre a venda de ações golden share da Embraer, Vale e IRB-Brasil Resseguros. Sem essas ações especiais, o Governo perde o poder de veto sobre decisões estratégicas dessas companhias.

A possibilidade de uma fusão entre as duas companhias foi repudiada pelo Sindicato dos Metalúrgicos de São José dos Campos e Região, cidade onde fica a sede da Embraer e a maioria de suas linhas de produção no país. "Única fabricante brasileira de aviões e terceira maior do setor no mundo, a Embraer é estratégica para o país e não pode ser vendida para capital estrangeiro. Exigimos que o governo federal vete a venda e, enfim, reestatize a Embraer como forma de preservar e retomar este patrimônio nacional", disse em nota o sindicato.

A fusão da Boeing e Embraer é um casamento sobre o qual se especula há tempos em Wall Street. A ideia tomou corpo depois que a Airbys anunciou que compraria o controle do programa de jato regionais CSeries, da Bombardier. Era uma manobra estratégica para evitar a tarifa antidumping aplicada nos Estados Unidos desde setembro.

As ações da Embraer foram suspensas algumas vezes durante o dia, devido à volatilidade excessiva. A Boeing dispõe de um efetivo suficiente para financiar uma aquisição completa da companhia sem que ela seja afetada. A operação, além disso, tem sentido para o grupo norte-americano, pois a nova configuração permitiria cobrir um mercado que abandonou há várias décadas e pelo qual tem interesse crescente.

A companhia brasileira é um ator chave no segmento de aviões regionais, onde compete precisamente com a Bombardier. É, além disso, um mercado que está crescendo em escala global. A Boeing, ainda que tenha liquidez confortável, e seja um dos ativos que mais se valorizou em Wall Street este ano, tende a ser mais conservadora na hora de executar seus investimentos.Por isso, antes de qualquer movimento no tabuleiro do setor, deve ponderar se há sentido nessa eventual fusão.

A operação também faz sentido para a Embraer, uma vez que existem novos fabricantes que tentam abrir caminhão nesse mesmo mercado de aviões para até 150 assentos. O que deve determinar ainda é qual tipo de combinação seria pactuada e qual nível de controle o Governo do Brasil iria ceder, uma vez que é dona de uma ação de ouro (golden share) que garante o direito de vetar qualquer operação de compra. A cessão total do controle está descartada.

Hoje a Embraer tem um valor de mercado estimado em 3,7 bilhões de dólares. No terceiro trimestre deste ano, registrou lucro líquido de 351 milhões de reais revertendo o prejuízo de 111,4 milhões do mesmo período de 2016.

Para os analistas do BTG Pactual, o eventual acordo tem “enorme” potencial de ganho para as ações da Embraer, que têm sido negociadas a um preço depreciado, conforme nota distribuída a clientes sobre a notícia, segundo a Reuters. “A Embraer seria complementar à Boeing (especialmente com sua carteira de jatos regionais, como resposta ao recente acordo da Airbus sobre o CSeries), as empresas já têm relacionamentos comerciais (acordo do KC-390) e a Embraer tem expandido sua presença de produção nos Estados Unidos”, escreveram os analistas do BTG Renato Mimica e Samuel Alves.

EL PAÍS

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