Jose Roberto de Toledo
(*)
Procuradoria
Geral da Fazenda Nacional revelou na semana passada que integrantes da atual
legislatura no Congresso estão diretamente envolvidos na sonegação de pelo
menos R$ 878 milhões. É o valor cobrado pela União de deputados, senadores
e de suas empresas e organizações pelo não pagamento de impostos. A cobrança
atinge 21% da Câmara e 22% do Senado, num total de mais de cem parlamentares
que a Receita considera sonegadores. Se formassem um partido, seria o maior do
Congresso.
Sob a
liderança de alguns dos maiores devedores listados, essa mesma legislatura está
trabalhando celeremente para aprovar um refinanciamento bilionário de dívidas
tributárias. É o que se chama de legislar em causa própria. Mas, altruístas que
são, os parlamentares do partido da sonegação não serão os únicos beneficiados
por sua lei. Empresas e pessoas que financiaram campanhas eleitorais ao
Congresso em 2014 devem R$ 40 bilhões.
Olhando
os números da Procuradoria da Fazenda tem-se a impressão de que grandes
sonegadores financiam deputados e senadores (alguns financiam-se a si próprios)
e, por coincidência, acabam beneficiados pelo parcelamento de suas dívidas em
programas de recuperação fiscal aprovados pelo Congresso. Vale dizer que
estudos da Receita Federal indicam que muitos dos que aderem ao programa
tampouco costumam pagar as parcelas renegociadas.
Embora a
bancada da sonegação seja pluripartidária e multirregional, é injusto colocar
todos os parlamentares no seu balaio. Há exceções. Mesmo entre os sonegadores,
a maioria deve menos R$ 40 mil como pessoa física. Pode ser muito
para um brasileiro médio, mas, para um parlamentar, é irrisório – para repetir
o adjetivo usado por ministros do Supremo para definir o teto salarial de R$
33 mil que eles dobraram para si próprios. Há senadores que devem R$
5 milhões, e deputados que devem o dobro disso ao Fisco – sem contar as dívidas
de suas empresas.
As
coincidências não param. A benemerência parlamentar com o dinheiro público deu
várias mãozinhas para os sonegadores. Essa mesma legislatura aprovou não uma
mas duas leis que permitiram a legalização de bilhões mantidos ilegalmente por
brasileiros no exterior – coincidentemente às vésperas de o governo, graças a
acordos com outros países, ter acesso a informações bancárias que revelariam os
montantes e os donos dessas contas.
Apesar
do nome, as chamadas leis de repatriação não demandam que o dinheiro seja
repatriado. Basta pagar o imposto devido e a multa para garantir que ele fique
legalmente na Suíça ou no paraíso fiscal da escolha do ex-sonegador. Mais do
que isso, a lei garante o anonimato a quem entrou no programa. Paga a multa, a
Receita não pode dizer quanto o beneficiado tem no exterior.
Entusiasmados
por mais essa modernização tributária avalizada pela legislatura que teve um
presidente da Câmara preso, alguns gerentes da Petrobras beneficiários dos
esquemas investigados pela Lava Jato aderiram ao programa de repatriação.
Imaginaram que, paga a multa, teriam legalizado o seu, o meu, o nosso na conta
deles. Procuradores da República imaginaram diferente, e os gerentes afoitos
terão que tomar banho frio por algum tempo.
Benemerência,
porém, tem limite. Não dá para o Congresso só facilitar a vida de quem, por
acaso, deve ao Fisco. Alguém tem que pagar a conta, ou ela não fecha. Daí a
pressa dessa notável legislatura para aprovar reformas que, sob esse nome,
misturam de tudo em favor de um teórico equilíbrio fiscal. Para quem vai sobrar
a dolorosa? Muito provavelmente para quem não repatria, não refinancia nem
aprova repatriações e refinanciamentos.
Estadão
(*) Comentário do editor do
blog-MBF: uma observação apenas. A
grande maioria dos devedores não pagam os 92
impostos que lhe são cobrados anualmente, porque não podem pagar. Pagam os
salários e as compras de materiais pagam no cartório. No mais, não sobra
dinheiro para honrar compromissos.
Culpa de quem ? Será que todos esses
empresários são maus administradores, ou será que não conseguem mais sustentar
governos ineficientes, corruptos e que dilapidam o dinheiro arrecadado com
impostos ?
O Brasil está cansado de sustentar a
ineficiente máquina pública.
Há sim, aqueles que podem pagar e
não pagam e que devem ser tratados como sonegadores. Mas estes fazem as Leis à
seu critério e ganham ainda mais com isto.
Sem contar o fato, mais uma vez
demonstrado com as tentativas de Reforma da Previdência e Trabalhista, que
aqueles que gastam os recursos
arrecadados, estão isentos de contribuir. Só direitos para eles, poucos ou
nenhum dever. É uma casta.
Chega de remendos em nossas Leis.
Precisamos um novo Contrato Social.
https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2017/05/08/deputado-propoe-elevar-teto-salarial-de-servidores-em-sp-impacto-seria-de-r-900-mi.htm
https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2017/03/24/governo-alckmin-usa-empresas-para-colocar-funcionarios-sem-concurso-em-secretarias.htm
https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2017/05/08/deputado-propoe-elevar-teto-salarial-de-servidores-em-sp-impacto-seria-de-r-900-mi.htm
https://noticias.uol.com.br/politica/ultimas-noticias/2017/03/24/governo-alckmin-usa-empresas-para-colocar-funcionarios-sem-concurso-em-secretarias.htm
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