José Casado
É notável o silêncio das entidades
sindicais sobre roubos no FGTS e casos como o da JBS, que confessou propina a
dirigentes de fundos de pensão para obter US$ 1 bilhão
Era uma
ideia bilionária. Só faltava US$ 1 bilhão. Amigos que patrocinava no governo e
no Congresso cuidaram para que fosse bem recebido no Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social, nos fundos de pensão da Petrobras (Petros)
e da Caixa (Funcef ).
Era
simples: o banco e os fundos das estatais pagariam US$ 1 bilhão por 12,9% das
ações da sua companhia. Com o dinheiro, fecharia a compra de concorrentes nos
Estados Unidos e na Austrália, dispensando bancos privados, que cobravam mais
caro. Ganharia imunidade comercial e sanitária mundial, e poderia jogar como
dono de um dos dois maiores açougues do planeta. Em pouco tempo, naquele
primeiro semestre de 2008, Joesley Batista avançou no negócio da JBS com BNDES,
Petros e Funcef. Deu-lhe o codinonome de “Prot”, abreviatura de proteína. Como
seu irmão Wesley dizia, assim era o estilo “Frog” — acrônimo de “From Goiás”.
Na reta
final das negociações, foi chamado pelo presidente da fundação da Caixa,
Guilherme Lacerda. “Ele disse que eu deveria ter relacionamento próximo com
Paulo Ferreira”, contou Joesley a procuradores federais. Ferreira era
tesoureiro do Partido dos Trabalhadores. Lacerda lembrou-lhe que precisaria do
aval dos sindicalistas dirigentes dos fundos das estatais. Eram “indicados por sindicatos” e respondiam ao PT.
Lacerda
levou Joesley ao tesoureiro do PT. Ferreira estava de saída do cargo e o
apresentou ao sucessor, João Vaccari. Combinaram: “Vaccari recomendaria as
operações aos dirigentes sob sua influência, e a gente pagaria ao PT 1% do que
conseguisse obter dos fundos.”
Os
presidentes dos fundos também queriam. Militantes do PT, Guilherme Lacerda
(Funcef ) e Wagner Pinheiro (Petros) integravam a burocracia sindical, à qual Lula entregara 11 dos 33 ministérios, além de
postos-chave nas estatais e respectivos fundos de previdência, em partilha com
PMDB , PP e PTB. Joesley contou ter acertado com os presidentes da Funcef e da
Petros “1% para cada sobre o valor das operações da JBS com os fundos (das
estatais), depois do “Prot’”. Os irmãos Batista puseram US$ 1 bilhão no bolso e
multiplicaram negócios com os fundos das estatais. Lacerda e Pinheiro apostaram
US$ 200 milhões da Funcef e da Petros no “Eldorado” de celulose dos Batista,
cujo lastro eram fazendas de papel: alguns imóveis só foram comprados quatro
anos depois dos aportes dos fundos, superavaliados em até 483%. Um deles é
inviável aos eucaliptais, porque fica inundado seis meses por ano.
É notável o silêncio tumular das
entidades sindicais sobre episódios como esses e outros casos de roubo a mais
de 41 milhões de trabalhadores na última década e meia.
A
maioria das vítimas é cotista do Fundo de Garantia — 68% têm renda de um
salário. Investigações indicam perdas de 10% dos investimentos do FGTS em negócios
suspeitos.
Há,
também, 800 mil servidores endividados que ainda são depenados com taxas
“extras” sobre empréstimos consignados. Além de 500 mil sócios dos fundos das
estatais afanados nas aposentadorias e pensões.
As
estranhas transações corroeram em 20 bilhões de dólares o patrimônio da Petros,
Previ, Postalis e Funcef. Ontem, por exemplo, Lacerda e outros ex-dirigentes da
Funcef se tornaram réus por fraude de 200 milhões de dólares com a empreiteira
Engevix, condenada na Lava-Jato.
É eloquente o silêncio
sindical.
O Globo
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