Rafael Moraes Moura
(*)
O uso de
caixa 2 na campanha eleitoral de Dilma Rousseff (PT) em 2014 reforçou a
percepção de que os políticos brasileiros sofrem de “amnésia moral”, disse em
depoimento sigiloso à Justiça Eleitoral o marqueteiro João Santana, responsável
pelas campanhas do PT à Presidência da República em 2006, 2010 e 2014. Segundo
o publicitário, Dilma “infelizmente” sabia do uso de recursos não
contabilizados em sua campanha e se sentia “chantageada” pelo empreiteiro
Marcelo Odebrecht.
De
acordo com Santana, a petista teria sido uma “Rainha da Inglaterra” em se
tratando das finanças de sua campanha, não sabendo de todos os detalhes dos
pagamentos efetuados.
No
entanto, indagado se a presidente cassada tinha conhecimento de que parte das
despesas era paga via caixa 2, o marqueteiro foi categórico: “Infelizmente,
sabia. Infelizmente porque, ao me dar confiança de tratar esse assunto, isso
reforçou uma espécie de amnésia moral, que envolve todos os políticos
brasileiros. Isso aumentou um sentimento de impunidade”.
O Estado apurou
mais detalhes do depoimento de Santana, prestado na última segunda-feira no
Tribunal Regional Eleitoral da Bahia (TRE-BA). Na ocasião, o ex-marqueteiro de
Dilma lembrou o papel do atual governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel
(PT), como “porta-voz” de recados de Marcelo Odebrecht.
“Dilma
se achava chantageada pelo Marcelo”, afirmou Santana à Justiça Eleitoral. De
acordo com o relato do publicitário, o objetivo da chantagem seria intimidar a
então presidente a ponto de fazê-la impedir o avanço das investigações da Lava
Jato. Dilma nunca gostou do “Menino”, apelido que usava para se referir a
Marcelo Odebrecht, disse o ex-marqueteiro do PT.
Conforme
depoimento do ex-diretor de Crédito à Exportação da Odebrecht Engenharia e
Construção João Nogueira à Procuradoria-Geral da República (PGR), o
ex-presidente da Odebrecht enviou, por meio de Pimentel, documentos que
demonstravam o uso de caixa 2 na campanha da petista. O objetivo era demonstrar
que Dilma não estava blindada na crise de corrupção que se instalou no seu
governo.
Dilma
também teria sido avisada reiteradas vezes de que a sua situação poderia se
complicar se ela não barrasse um acordo internacional entre autoridades do
Ministério Público do Brasil e da Suíça, já que a conta da sua campanha estaria
“contaminada”.
João
Santana foi uma das últimas testemunhas ouvidas no âmbito da ação que apura se
a chapa encabeçada por Dilma, de quem Michel Temer foi vice, cometeu abuso de
poder político e econômico para se reeleger em 2014. O julgamento do processo
deverá ser retomado na segunda quinzena de maio. A informação de que Dilma
sabia do uso de caixa 2 foi considerada um fato novo pelo ministro Herman
Benjamin.
'Coisa
nefasta'. O assunto “caixa 2” foi tratado por Dilma e por João Santana já
em abril e maio de 2014, antes do início oficial da campanha eleitoral. De
acordo com o marqueteiro, o pagamento “oficial” estava em dia, enquanto os
repasses de recursos não contabilizados via Odebrecht sofriam atrasos.
Santana
foi questionado no depoimento se esses atrasos não seriam genéricos, mas o
próprio marqueteiro enfatizou que a demora nos pagamentos sempre envolve a
parte não contabilizada. O publicitário afirmou que já estava acostumado a dar
“alerta vermelho” sobre atrasos, desde a época em que trabalhou na campanha de
Lula à Presidência, em 2006.
“Caixa 2
é uma coisa nefasta”, criticou Santana, que disse não haver campanha eleitoral
sem a irrigação de recursos não contabilizados – mesma constatação que já havia
sido feita por Marcelo Odebrecht em outro depoimento ao ministro Herman
Benjamin.
Para o
marqueteiro, a
definição das coligações em torno de candidaturas são “leilões”, envolvendo uma
série de interesses e negociações, como a distribuição de cargos. “Isso
vai perdurar enquanto tiver empresário querendo corromper e político querendo
ser corrompido”, disse. Mesmo considerando Dilma Rousseff uma política honesta,
o marqueteiro reconheceu que a petista acabou “fatalmente nessa teia”.
“É um
esquema maior que o ‘petrolão’. Essa promiscuidade de público e privado vem do Império,
passou por todas as coisas da República”, resumiu Santana.
Colaborou
FÁBIO FABRINI
Estadão
(*) Comentáio do editor do
blog-MBF: deixei de dar relevância a artigos
que tratam da corrupção na política brasileira, pois ela é a regra e não a
exceção.
Estou postando este artigo e
assinalando em vermelho duas citações do delator, pois é aí que reside o grave
problema do nosso sistema político, e por que não, de quase todo mundo onde se
realizam eleições comandadas por partidos.
Enquanto essas corporações existirem,
que quando insignificantes são corrompidas, e quando dominam, corrompem, as
eleições não serão democráticas. Nunca foram e nunca serão.
A democracia só será exercida em sua
plenitude – ou mais perto disto - quando forem os eleitores a escolher os
candidatos, todos independentes, e a campanha for 100% bancada pelo poder
público, de forma igual e transparente entre todos participantes.
Antes, sem dúvida, precisamos de um
novo Contrato Social, definindo as regras, Contrato este que jamais será levado a bom termo pelos nossos atuais políticos, ainda mais trabalhando com as regras em vigor.
Nenhum comentário:
Postar um comentário