Fernão Lara Mesquita
Hoje 28%
da população, 57,9 milhões de pessoas, numero que corresponde ao eleitorado
cativo de Lula, é diretamente sustentada pelo estado. Recebe todo mes um cheque
do seu provedor. Estatisticamente falando, toda família brasileira tem,
portanto, ao menos um pé embarcado no “sistema”. Senão o seu próprio o de
alguém muito próximo que bebe na mesma fonte em que a ponta de cima da
“privilegiatura” se empanturra. E isso torna fluidas todas as fronteiras e
distorce todas as cadeias de cumplicidade.
A
esmagadora maioria desse quarto da população que também sabe identificar a
mentira mas tem menos meios de se dar o luxo da verdade recebe um salário
mínimo ou menos. 13,4 milhões dividem os R$ 24,7 bi do Bolsa Família. Tudo que
os 5.560 municípios sustentam, que em geral é o que o cidadão comum realmente
tem, é mantido com outros magérrimos R$ 27,7 bilhões. Os estados, vale dizer,
as polícias e os professores, as duas primeiras corporações a pularem fora da
reforma da Previdência, consomem R$ 106 bi. E a União, que não é Brasil, é
Brasilia, se empanturra com R$ 273,6 bilhões. Como as aposentadorias “deles” se
dão aos 50 anos e são “reajustadas” com os aumentos dos funcionários da ativa
que, somente nos estados, foram de 50% acima da inflação em 10 anos, o INSS custa
hoje R$ 507,8 bi. Mas não são os soldados das PMs, as professorazinhas do
ensino básico e nem mesmo os “amarajalados” funcionários do rés do chão do
Legislativo e do Judiciário que levam essa conta a essas alturas. O estado que
nos assalta a pretexto de “redistribuir a renda” faz exatamente o contrário.
Por cima de cada uma das corporações que o controlam boia a nata dos que cavam
os seus privilégios legislando em causa própria, criando falcatruas semânticas
ou simplesmente empilhando fraudes em cima de fraudes que, em geral, são eles
próprios os encarregados de coibir, para fazer do céu o seu único limite.
Esse
grupinho sabe exatamente o cheiro de revolução que têm os seus proventos
indecentes num país que foi levado ao esgotamento muito mais que pela outra,
por esse tipo de roubalheira “legalizada”. E como não ha argumento racional
capaz de vender o seu peixe, trata de institucionalizar a mentira.
A
imprensa e o resto do país viveu a semana retrasada inteira da troca apaixonada
de insultos em torno do tema do impedimento das autoridades judiciárias para
decidir sobre “feitos” de que (CPPenal, art. 252, IV) “ele próprio ou seu
cônjuge ou parente, consanguíneo ou afim em linha reta ou colateral até o
terceiro grau, inclusive, for parte ou diretamente interessado”. Mas a
concessão ou não de habeas corpus é a faixa mais estreita da imensa
zona de conflito em que todos vivem mergulhados.
Sendo o
Ministério Publico, com média de aposentadorias de R$ 30 mil, o
Judiciário, com R$ 29 mil, e o Legislativo, com R$ 25 mil no país em que a
média aqui fora é R$ 1,6 mil e o limite legal R$ 5,5 mil, que chance tem a
minoria interessada em justiça de não ver o seu trabalho desfeito pela maioria
se a cupula da Lava Jato não denunciar o problema como ele é em vez de seguir com
enxugamento de gelo e silêncio? Qual o jornalista, especialmente os que viveram
e constituiram família no isolamento de Brasilia, cujos “conjuges, parentes,
consanguíneos ou afins” não são “parte direta ou indiretamente interessada” nas
prerrogativas da “privilegiatura”?
Porque,
ao fim de quatro anos, o tema dos supersalários, das super-aposentadorias, da
colonização do estado pelas corporações e pelos caronas dessa intrincada cadeia
que se alimenta do Brasil dos Miseráveis não se apossou sequer da “voz das
ruas”?
Não
seria porque dinheiro pouco têm sob as asas do estado muitos e são todos um
pouco cumplices do “sistema” que a ninguem nega ao menos “um golinho”?
É um
choque de verdade que está fazendo falta aqui no paraíso da mentira. O resto
acontece sozinho.
VESPEIRO
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