Christoph Hasselbach
Ex-ministro
chegou ao poder com campanha que buscou se distanciar das grandes legendas da
França. Mas, agora no governo, ele poderá precisar do amparo das mesmas forças
políticas que rejeitou.
Emmanuel
Macron não será somente o primeiro presidente da Quinta República que não
provém de uma das duas legendas tradicionais francesas, mas também o primeiro
que não foi apoiado por nenhum partido político durante a campanha eleitoral –
ele recebeu apoio apenas do movimento Em Marcha, que foi iniciado há somente um
ano.
Já o
fato de ele ter ganhado a eleição sem um aparato partidário é visto como uma
sensação e um sinal de uma nova era na França. Mas para impor suas metas
políticas, ele precisa de uma base de poder na Assembleia Nacional, para a qual
haverá eleições em meados de junho. Portanto, resta pouco tempo para fazer do
movimento um verdadeiro partido.
Esse
processo já se iniciou. Superficialmente, ele começa com uma pequena mudança de
nome. "Em Marcha" deverá se transformar em "A República em
Marcha". Nada vai mudar quanto ao seu direcionamento. Segundo as palavras
de Macron, o movimento deve ser "progressivo" e "social",
como ele próprio.
Estruturas
decrépitas do antigo sistema político, afirma, deverão ser desmanteladas, não
se quer ir nem para a esquerda, nem para a direita. Isso lembra um pouco o
partido Ciudadanos na Espanha ou o movimento "Terceiro Caminho" do
ex-premiê britânico Tony Blair, que também foi o chefe de governo britânico
mais jovem em quase 200 anos. Com o Partido Trabalhista, no entanto, Blair era
apoiado por uma legenda já existente, a que ele chamava de "Novo
Trabalhista" após tê-la distanciado de um curso mais à esquerda.
A caminho de um partido
Segundo
o desejo de seu iniciador, Em Marcha deverá reunir todas as alas políticas e
camadas sociais num grande projeto conjunto. Aí se encontram tanto componentes
clássicos do liberalismo econômico – como a redução da participação estatal, a
liberalização do mercado de trabalho e impostos corporativos mais baixos –
quanto componentes social-liberais a social-democráticos, como mais
investimentos na educação. De qualquer forma, haverá um grande programa de
investimentos.
Mas um
movimento pode se tornar um partido influente em tão pouco tempo? Cerca da
metade dos seus atuais 250 mil membros vem da sociedade civil, ou seja, não são
políticos profissionais, enquanto outros provêm de outras legendas. Com Richard
Ferrand, existe ao menos agora um secretário-geral. "Para podermos agir, vamos
precisar de maioria na Assembleia Nacional", ressaltou Ferrand à emissora
de televisão TF1,
acrescentando
que se havia percorrido somente "metade do caminho".
Até as
eleições legislativas, o partido em formação quer apresentar um candidato para
cada um dos 577 assentos na Assembleia Nacional. O financiamento estatal só
estaria assegurado se os membros também fossem eleitos, até lá vai continuar o
período de vacas magras, que naturalmente também restringiu o financiamento da
campanha eleitoral.
Quando
foi fundado, em abril de 2016, Em Marcha foi saudado por políticos tão diversos
quanto o ex-premiê conservador Jean-Pierre Raffarin e o presidente socialista
François Hollande. Nenhum dos dois poderia imaginar que tanto o futuro
candidato presidencial dos conservadores, François Fillon, quanto o socialista
Benoît Hamon iriam cair no primeiro turno. Por outro lado, na ocasião,
escutou-se uma crítica ferrenha do derrotado candidato da extrema
esquerda, Jean-Luc Mélenchon, que uma vez comentou sarcasticamente: "As pessoas
que arruinaram o sistema econômico por completo fazem agora uma coisa que se
chama Em Marcha."
Sem considerações táticas
Duas
pesquisas de opinião forneceram um primeiro indício do futuro poder do Em
Marcha na Assembleia Nacional: elas preveem que o movimento deve se tornar a
principal força política parlamentar com 24% a 26% das intenções de votos – à
frente dos conservadores e dos populistas de direita da Frente Nacional, ambos
com cerca de 22%. Segundo as sondagens, o Partido de Esquerda, de Mélenchon,
obteria em torno de 15% e os socialistas, por volta dos 9% da preferência do
eleitorado. No entanto, recomenda-se cautela.
Pois as
considerações táticas para impedir que Marine Le Pen se tornasse presidente já
não valem mais para o pleito parlamentar; cada partido passa a lutar novamente
por si próprio. Por outro lado, nas eleições legislativas francesas existe o
fenômeno de os partidos moderados se unirem contra a Frente Nacional. Nesse
contexto, o ex-primeiro-ministro socialista Manuel Valls já exortou a que
Macron seja apoiado com uma ampla maioria parlamentar.
Se
Macron não conseguir essa maioria, paira a ameaça de uma nova fase da
"coabitação", em que o futuro presidente tenha que cooperar com
representantes de outros partidos. No passado, presidentes socialistas da
Quinta República já se viram obrigados, muitas vezes, a trabalhar junto a uma
maioria parlamentar conservadora ou vice-versa – o que lhes atou as mãos.
No
entanto, dependendo do projeto político, o futuro presidente francês também
poderia tentar impor suas propostas com maiorias flutuantes. Mas isso também
enfrentaria dificuldades, considerando que as reformas econômicas liberais de
Macron deverão encontrar muita resistência – tanto no Parlamento quanto na
população.
Raffarin,
conservador e simpatizante de Macron, defendeu, um dia após a eleição, um
inovador governo "Yin e Yang", que englobasse tanto "novos
nomes" quanto políticos experientes. No entanto, muitos outros
conservadores ainda não se recuperaram do fato de Macron lhes ter tomado uma
vitória considerada como certa. Mélenchon também se atém ao seu profundo
desagrado: ele afirmou que, nas eleições legislativas, os franceses deveriam se
"unir" para enfrentar um "novo monarca presidencial".
"A
resistência da direita é o maior perigo para Macron", opina o cientista
político Philippe Braud, do renomado Instituto de Estudos Políticos de Paris
(Science Po). Ao mesmo tempo, afirma, uma esquerda forte poderia dificultar os
planos de reforma de Macron, por meio de uma "Assembleia Nacional incontrolável".
Laurent
Wauquiez, vice-presidente do partido conservador Os republicanos, apontou que
muitos franceses votaram em Macron somente para impedir uma vitória de Marine
Le Pen. "A situação de Macron é muito delicada, ele foi eleito sem muito
entusiasmo." Nas eleições legislativas, se verá a real dimensão do apoio
ao fundador do Em Marcha.
DW-Deutsche Welle
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