Christoph Hasselbach
Demissão de James Comey por Donald
Trump é um evento grave, mas nem por isso sem antecedentes na relação entre
presidentes e investigadores a eles subordinados.
A
demissão do ex-diretor do Departamento Federal de Investigações (FBI) James
Comey pelo presidente americano, Donald Trump, nesta quarta-feira (09/05),
é mais um capítulo numa longa história de amor e ódio entre a Casa Branca e a
agência federal de investigações americana.
Richard Nixon e Watergate
Após a
demissão do diretor do FBI por Trump, vários congressistas democratas e
diversos analistas traçaram logo paralelos com o ex-presidente Richard Nixon e
o escândalo do Watergate, chamando o comportamento de Trump de
"nixoniano". Em outubro de 1973, o republicano Nixon demitiu o advogado-geral
dos EUA, Archibald Cox, no infame Massacre da Noite de Sábado. Ele investigava
acusações de que a escuta ilegal do Partido Democrata vinha da Casa Branca.
Com a
demissão de Cox, Nixon esperava ver livrar seu nome do caso, mas o tiro saiu
pela culatra. A ligação entre as escutas ilegais e a Casa Branca foi
comprovada. Abriu-se então um processo de impeachment contra Nixon, do qual ele
escapou ao renunciar, em 1974. Até agora, essa foi a única renúncia de um
presidente na história americana.
Bill Clinton, o perdão de um
sonegador e Monica Lewinsky
A favor
da neutralidade de Comey pode-se dizer que, na campanha eleitoral, tanto o
lado de Trump quanto o de Hillary Clinton o acusaram de parcialidade. Uma
semana antes do pleito presidencial, no final de 2016, o FBI sob a
administração de Comey publicou um relatório de investigação que comprometia a
reputação do marido de Hillary, Bill Clinton.
Segundo
o documento, em seu último dia como presidente, em janeiro de 2001, Clinton
haveria perdoado o sonegador Marc Rich. Hoje já falecido, ele fugira para a Suíça
e na época estava sendo procurado pelo FBI. O perdão levantou suspeita
principalmente porque a ex-esposa de Rich havia concedido, anteriormente, uma
grande doação ao Partido Democrata.
Poucos
dias antes, Comey havia anunciado que retomara a investigação sobre o escândalo
do correio eletrônico de Hillary devido a novos e-mails que vieram à tona, mas
que ele não via nenhum motivo para uma queixa. Os democratas acusaram Comey de
cumplicidade na derrota eleitoral de Hillary, mas o defenderam após a sua demissão
por parte de Trump.
Num
contexto diferente, Bill Clinton já havia vivenciado muito bem o que um
investigador especial pode trazer à luz. Em 1994, o jurista Kenneth Starr foi
encarregado de investigar o chamado escândalo imobiliário Whitewater, no qual o
casal Clinton estava envolvido. Veio então à tona também o envolvimento de Bill
Clinton com a estagiária Monica Lewinsky, o que quase levou ao fim de sua
presidência.
Lyndon Johnson e a luta de Edgar
Hoover contra ativistas de direitos civis
Nenhum
outro diretor marcou tanto o FBI quanto John Edgar Hoover. Ele comandou a
agência de investigações por quase meio século, de 1924 até a sua morte, em
1972. No pós-Guerra, Hoover simbolizou como ninguém a perseguição de comunistas
e de pessoas que ele achava que fossem. Mais para o final de sua carreira, ele
enfrentou problemas durante o governo dos presidentes John F. Kennedy e Lyndon
Johnson. Era a época do movimento de direitos civis.
Hoover
detestava o ativista negro Martin Luther King e nunca escondeu isso. As
tentativas legislativas por parte de Johnson de melhorar a sorte dos pobres e,
principalmente, os direitos dos afroamericanos foram sistematicamente
boicotadas pelo FBI de Hoover, o que apenas se soube mais tarde.
Por fim
acabaram vindo à tona documentos que mostravam que o FBI estava ocupado
principalmente em vigiar grupos liberais e de esquerda. Hoover morreu antes que
a dimensão do caso se tornasse pública, então só se pode especular se ele teria
sido demitido do cargo. No entanto, a até então alta reputação da agência de
investigações entre a população foi severamente abalada, pois ficou claro que o
FBI se deixava instrumentalizar para fins políticos.
Warren
Harding e o escândalo Daugherty Burns
O caso
mais antigo não se refere a uma briga, mas à exagerada proximidade entre a Casa
Branca e a agência federal de investigações: nos primórdios do FBI, que na
época ainda se chamava Bureau of Investigation (BOI), um escândalo de corrupção
ocupou as manchetes dos jornais, terminando na renúncia do secretário de
Justiça, Harry Daugherty, e do diretor do BOI, William Burns.
Ao
assumir o cargo em 1921, o presidente republicano Warren Harding levou para
Washington um grande número de apoiadores fiéis de seu estado natal Ohio,
dando-lhes postos na capital americana. Daugherty também pertencia ao círculo
mais próximo de Harding.
Com o
tempo, os ajudantes de Harding, incluindo o próprio presidente, ficaram cada
vez mais sob suspeita de corrupção e encobrimento mútuo de fatos. Harding
morreu em 1923, ainda no cargo. Sem o apoio da Casa Branca, a pressão sobre o
pessoal do ex-presidente ficou cada vez maior. E, finalmente, quando se
descobriu que Burns havia iniciado investigações secretas, por ordem do
secretário Daugherty, sobre um senador democrata que queria revelar a corrupção
entre os republicanos, tanto Burns quanto Daugherty tiveram que ir embora.
DW-Deutsche Welle
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