Eliane Cantanhêde
O colapso das lideranças dificulta
saídas, e pode vir o 'se não tem tu, vai tu mesmo'
Com todo
respeito, o grande Brasil está parecendo a pequena Bolívia, que teve 17
presidentes em 28 anos, três apenas em 1979 e quatro entre 2001 e 2005, até que
Evo Morales assumiu em 2006 e de lá não arreda pé tão cedo. O problema
brasileiro não é apenas tirar Michel Temer da Presidência, é nomear alguém que
se sustente e toque as reformas até 2018. Aí, seja o que Deus quiser!
Dilma
Rousseff caiu por crime de responsabilidade, inapetência política e
incompetência administrativa. Temer está ‘balança-mas-não-cai’ por relações
nada republicanas com bandidos milionários e agora delatores, por um partido
que é ‘maria-vai-com-as-outras’ dependendo de quem paga mais e por um entorno
que se dividiu em dois: uma parte tem o poder, a outra está na cadeia ou a
caminho dela.
O que
piora tudo é a falta de lideranças que conduzam uma saída institucional e de
nomes com grandeza pessoal e política para assumir a transição, com pesadas
nuvens de desconfiança sobre o colégio eleitoral – o Congresso. Sim, porque,
pela Constituição, a sucessão de Temer é indireta. Gritar “diretas já” é
bacana, mas não é, literalmente, legal.
Odebrecht,
JBS e as grandes companhias financiarem campanhas, vá lá. Afinal, era previsto
na lei vigente. Mas o que surge das delações, aos borbotões, fetidamente, é que
na maioria das vezes não se tratava de financiar campanhas, mas de roubar do
público, privilegiar o privado e encher as burras de homens públicos.
As
revelações de Joesley Batista, Emílio e Marcelo Odebrecht têm enredo parecido e
choca também a forma: eles falam do nosso País, das nossas empresas, dos nossos
representantes, como se fossem donos de tudo e de todos. É matar de vergonha.
Ou raiva.
Há
muitas partes de arrepiar os cabelos. Joesley barganhando com o deputado João
Carlos Bacelar (PR-BA) a compra de deputados contra o impeachment de Dilma, que
acabou em R$ 15 milhões, por cinco votos. A senha para a mesada da JBS para
Eduardo Cunha, com aval de Temer: “Alpiste para o passarinho”. E a corridinha
do deputado Rocha Loures, assessor de Temer, com sua mala de dinheiro até o
táxi.
Ainda
mais grave: US$ 150 milhões para Lula e Dilma usarem à vontade (além dos R$ 40
milhões para Lula na Odebrecht); os gerentes das contas eram justamente os
ministros da Fazenda, Palocci e Mantega; R$ 1 milhão para consumo pessoal de Temer;
Aécio mendigando R$ 2 milhões numa linguagem que o coloca no seu devido lugar.
E são 1.829 políticos, de 28 partidos, na lista (ou no bolso, ou na mão...) da
JBS. Com boa-fé, imaginemos que muitos receberam doação legal e nem tinham como
dar contrapartidas. Mas a maioria não está nesses casos.
Quem
sobra para uma eleição indireta? Excluída Cármen Lúcia, do STF, e preservado
Nelson Jobim, que está hibernando, pode caminhar para “se não tem tu, vai de tu
mesmo”, que favorece o presidente da Câmara, Rodrigo Maia. Listado na Odebrecht
por R$ 300 mil de campanha (que podem ser legais, não propina), ele foi
beneficiado com uma frase de Joesley: “Maia? Esse eu nem conheço”.
A
história tem suas manhas e, nas encruzilhadas, pede perfis que não aumentem a
confusão e as incertezas. Rodrigo Maia se encaixa aí, porque sinaliza a
continuidade de Henrique Meirelles na Fazenda e das reformas no Congresso. No
caso dele, o menos pode ser mais. Outra solução seria Meirelles na Presidência,
mas ele não tem liderança, nem traquejo, para enfrentar o estouro da boiada no
Congresso. A dobradinha Maia-Meirelles faz mais sentido.
Aliás, o
que não faz nenhum sentido é Joesley Batista, depois de tudo, morando feliz num
apartamento de R$ 30 milhões em Nova York. Nem em filmes baratos sobre
repúblicas de banana.
O Estado de S.Paulo
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