Agence France-Presse
O centrista pró-europeu Emmanuel
Macron, de 39 anos, foi eleito neste domingo presidente da França - o mais
jovem da história do país -, evitando, assim, que esta potência econômica
mundial caísse nas mãos da adversária de extrema-direita, Marine Le Pen.
Com uma
margem de 65,5% a 66,1% dos votos, à frente de Le Pen, com 33,9% e 34,5%,
segundo estimativas de institutos independentes, este ex-banqueiro substituirá
o socialista François Hollande, que se recusou a disputar a reeleição por falta
de apoio popular e de quem foi ministro da Economia.
A
abstenção no segundo turno teria variado entre 25,3% e 27%, segundo
estimativas.
A taxa
de participação às 13h de Brasília era de 65,3%, quatro pontos a menos que o
primeiro turno (69,42%), segundo o ministério do Interior. Foi a taxa de
participação mais baixa desde 1969, segundo estimativas oficiais.
Em
centro de Paris, milhares de pessoas comemoravam a vitória de Macron com gritos
de alegria na esplanada do Museu do Louvre.
Com
bandeiras da França nas mãos, os simpatizantes do presidente de 39 anos
saudaram sua vitória ante Marine Le Pen, sob um céu carregado.
O
presidente em fim de mandato, François Hollande, e vários membros de governo
reunidos no Palácio do Eliseu, comemoraram com uma salva de palmas a vitória do
centrista, informaram fontes do palácio do Eliseu.
França
dividida
Macron
vai governar uma França muito dividida politicamente entre zonas urbanas
(privilegiadas e reformistas) e as despossuídas (tentadas pelos extremos).
Macron, que não parece recuar diante dos desafios, tem vários de grande tamanho
pela frente, como um desemprego endêmico de 10%, a luta antiterrorista e a
crise da União Europeia (UE).
Em
discurso em seu QG de campanha, em Paris, após o anúncio de sua vitória, Macron
afirmou que "combaterá as divisões" os franceses e assegurou que está
consciente "da raiva, da ansiedade e das dúvidas" de seus
concidadãos, e que trabalhará para "reconstruir a relação entre a Europa e
os cidadãos".
Ainda
que Marine Le Pen, de 48 anos, tenha perdido por ampla margem, esta não foi não
é uma derrota absoluta para ela, nem para seu partido, a Frente Nacional (FN),
que convenceu de 33,9% a 34,5% do eleitorado com promessas contra a imigração e
a zona do euro. Não apenas isto, mas criou-se um vácuo entre as principais
forças políticas do panorama nacional.
Ela
desejou sucesso a Macron, lembrando-lhe de que estará "à frente do
combate" nas legislativas de junho, e comemorou o resultado histórico
obtido por seu partido.
Mundo saúda o novo presidente
Líderes
internacionais não tardaram em saudar o presidente eleito.
O
presidente Michel Temer publicou dois tuítes cumprimentando Macron.
"Felicito
pela vitória nas eleições para Presidente da França", destacou, antes de
prosseguir, "Brasil e França continuarão a trabalhar juntos em favor da
democracia, dos direitos humanos, do desenvolvimento, da integração e da
paz".
O
americano Donald Trump também usou a rede social para saudar Emmanuel Macron
pela "grande vitória" deste domingo e se disse ansioso "por
trabalhar com ele".
O
presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker, também parabenizou o novo
presidente no Twitter, afirmando que os franceses elegeram "um futuro
europeu".
"Feliz
de que os franceses tenham eleito um futuro europeu", declarou Juncker na
rede social. O presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, elogiou a decisão
dos franceses a favor da "liberdade, a igualdade e a fraternidade".
O
porta-voz da chanceler alemã, Angela Merkel, qualificou a vitória de Macron de
uma "vitória para uma Europa forte e unida".
"Felicidades,
@EmmanuelMacron. Sua vitória é uma vitória para uma Europa forte e unida e para
a amizade franco-alemã", publicou Steffen Seibert, em alemão e francês, no
Twitter.
A
primeira-ministra britânica, Theresa May, saudou o novo presidente francês
através de um comunicado de Downing Street.
"A
primeira-ministra saúda sinceramente o presidente eleito Macron por seu êxito
nas eleições", destacou um porta-voz, sublinhando que a França é um dos
"aliados mais próximos" da Grã-Bretanha.
Um vendaval
Em apenas
um ano, desde que fundou o movimento de centro Em Marcha!, Macron abriu caminho
em um país onde os dois grandes partidos tradicionais de esquerda e direita se
alternavam no poder há meio século.
Superou-os
no primeiro turno com um programa europeísta e liberal em temas econômicos e
sociais. Foi para o segundo turno com uma vantagem cômoda nas pesquisas,
reforçada no debate com sua adversária, mas isto não impediu que levasse um
susto de última hora, com um ataque maciço de hackers cuja origem é
desconhecida e é investigado pela justiça francesa.
Para o
mundo, estas eleições foram um termômetro para mensurar a força dos populistas
e tomar o pulso da União Europeia, após a vitória do Brexit no Reino Unido.
A aposta
política de Macron foi um sucesso, mas o passo seguinte é uma incógnita. Após
eleger presidente, em junho os franceses vão votar em legislativas, dominadas
pela incerteza.
O baque
político da direita e dos socialistas no primeiro turno e o avanço da extrema
direita no segundo turno geram uma dúvida: Macron será capaz de conseguir uma
maioria parlamentar e evitar uma coabitação complicada apesar de não dispor da
máquina de um partido tradicional?
Marine
Le Pen pode eleger muitos mais deputados dos que tem atualmente, com sua
campanha anti-UE, contra a globalização, os imigrantes ilegais e as elites em
um país corroído pelo desemprego e traumatizado pela onda de atentados
extremistas.
Desafios
O homem
que sacudiu a política com um novo partido fascina pessoas próprias e
estranhas. Não só por sua juventude, mas por ser casado com uma mulher 24 anos
mais velha: Brigitte, a futura primeira-dama loira e magra que foi sua
professora de teatro e que foi onipresente na campanha.
Líderes
mundiais do porte da chanceler Angela Merkel e do ex-presidente americano
Barack Obama apoiaram seu programa, centrado na divisa: "uma França
aberta, confiante e conquistadora" em "uma Europa protetora".
Macron
será o presidente mais jovem da história da França, mais jovem até mesmo que
Louis-Napoléon Bonaparte, que tinha 40 anos quando foi eleito em 1848, e um dos
mais jovens do mundo.
Ele tem
cinco anos pela frente para comandar um país com armas nucleares, membro
permanente do Conselho de Segurança da ONU, e motor, juntamente com a Alemanha,
da União Europeia, cuja zona do euro quer dotar de um orçamento, um Parlamento
e um ministro das Finanças próprio.
A
vitória deste homem com cara de bom moço, formado nas escolas da elite
francesas, encerra uma campanha eleitoral repleta de sobressaltos, na qual os
imbróglios judiciais ofuscaram durante um bom tempo os temas de fundo,
somando-se ao cansaço de uma cidadania desencantada com os políticos.
Agence France-Presse
(AFP)
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