Agence France-Presse
O
presidente francês, Emmanuel Macron, e seu homólogo russo, Vladimir Putin,
comprometeram-se nesta segunda-feira (29) a melhorar as tensas relações
bilaterais, apesar de reconhecerem as divergências, durante conversa em um
encontro no Palácio de Versalhes classificado como "extremamente
franco" pelo anfitrião.
A
primeira reunião entre os dois presidentes desde que Macron chegou ao poder deu
outra oportunidade ao francês de demonstrar suas habilidades diplomáticas após
o primeiro encontro, na semana passada, com o presidente dos Estados Unidos,
Donald Trump, selado com um firme aperto de mãos.
Desta
vez, o cumprimento foi mais afável, mas os dois líderes mantiveram um tom
cauteloso diante da imprensa ao fim de uma hora de reunião, organizada no mesmo
dia do 300º aniversário da visita do czar Pedro, o Grande a Versalhes.
Putin
admitiu diferenças de opinião durante a conversa que versou, entre outros
temas, sobre os conflitos da Síria e da Ucrânia. Ele insistiu, porém, em que as
relações franco-russas resistem a "todos os pontos de atrito".
"Divergimos
em um número de questões, mas pelo menos falamos sobre elas", declarou
Macron.
"Nossa
prioridade absoluta é a luta contra o terrorismo e a erradicação de grupos
terroristas e, em particular, do Daesh", afirmou, referindo-se ao grupo
extremista Estado Islâmico.
Órgãos de propaganda
Macron
se mostrou a favor de "uma transição democrática" que preserve o
Estado sírio, assegurando que os "Estados falidos" no Oriente Médio
sempre aumentaram o risco de ataques extremistas no Ocidente.
No que
pareceu uma advertência ao presidente sírio, Bashar al-Assad, e à Rússia,
Macron assegurou que o uso de armas químicas na Síria é "uma linha
vermelha muito clara" para ele e que, caso volte a acontecer, provocará
uma "resposta imediata" da França.
Os dois
presidentes também falaram sobre as sanções impostas à Rússia, devido a seu
suposto envolvimento militar na Ucrânia e às acusações de ingerência na recente
campanha presidencial francesa.
Putin
ressaltou que as "sanções" a seu país não contribuem para a solução
do conflito entre as forças do governo e os rebeldes apoiados pelo Kremlin no
leste da Ucrânia.
O
presidente russo, que recebeu a candidata de extrema direita Marine Le Pen
durante a campanha eleitoral, também minimizou as acusações de que hackers
russos teriam-se infiltrado na campanha de Macron.
"Talvez
fossem hackers russos, talvez não", desconversou.
Macron
responsabilizou os meios de comunicação próximos ao Kremlin - a emissora Russia
Today e a agência de notícias Sputnik -, acusando-os de terem agido como
"órgãos de influência e de propaganda" contra sua campanha, ao
questionar sua sexualidade e suas relações com o setor financeiro.
A
redatora-chefe do Russia Today, Margarita Simonyan, reagiu lamentando que
"o que começou como uma conversa produtiva entre os líderes de dois países
se converteu em outra oportunidade para Macron lançar acusações sem fundamento
contra o jornal".
Repressão aos homossexuais
Emmanuel
Macron prometeu um "diálogo exigente" e "sem nenhuma
concessão" com Vladimir Putin. Este pediu ao presidente francês, por sua
vez, que "supere a desconfiança mútua", em uma mensagem na qual o
felicitou pela vitória eleitoral.
Quebrando
a discrição sobre o tema dos direitos humanos mantida pelo presidente anterior,
François Hollande, a atual Presidência francesa disse que sua pasta diplomática
recebeu várias ONGs para abordar a situação dos homossexuais na Chechênia e as
liberdades na Rússia.
A
Anistia Internacional estimulou Macron a "pressionar" o presidente
russo e denunciou a perseguição aos homossexuais na Chechênia, "com total
impunidade" e "com a bênção das autoridades russas".
Neste
sentido, depois do encontro bilateral, Macron afirmou que Putin se comprometeu
a estabelecer "a verdade" sobre as denúncias de repressão aos
homossexuais.
"O
presidente Putin me disse que tomou várias iniciativas sobre os LGBTs
[lésbicas, gays, bissexuais e transexuais] na Chechênia, com medidas destinadas
a chegar a toda a verdade sobre a atuação das autoridades locais",
explicou na coletiva.
"Expressei
as expectativas da França de maneira muito precisa", declarou Macron,
prometendo se manter "vigilante" a esse respeito e garatindo que
ambos os líderes concordaram com rever essa situação regularmente.
O jovem
chefe de Estado francês, de 39 anos, encerra uma maratona diplomática que o
levou à cúpula da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan) em Bruxelas
na última quinta-feira (25) e, no fim de semana, ao G7 de Taormina, uma ilha da
Sicília.
"Donald
Trump, o presidente turco [Recep Tayyip Erdogan] e o presidente russo estão em
uma lógica de relação de forças, o que não me incomoda", constatou Macron.
AFP
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