Vera Magalhães
Cutistas e petistas sabem que não
falam mais aos setores que lhes garantiam voz e voto
Os
piqueteiros de sexta-feira usaram pneus queimados no lugar de militantes no
intuito desesperado de parar o País e demonstrar um inexistente apoio a um
modelo de organização sindical que ruiu juntamente com o partido que o forjou,
no fim da década de 70: o PT.
A fumaça
preta tóxica exalada é um bom símbolo da combustão não só da borracha, mas de
algo igualmente poluente: um sindicalismo que, depois de mudar o peleguismo
instalado na era Vargas e acentuado na ditadura, chegou ao poder e, nessa
condição, não só reproduziu os mesmos vícios corporativos como se tornou sócio
de um esquema de pilhagem aos cofres públicos.
Afinal,
o braço sindical do PT esteve presente, como cúmplice ou às vezes mentor, nos
principais esquemas de corrupção da era Lula-Dilma: mensalão, petrolão,
aloprados do dossiê da eleição de 2006, assalto aos fundos de pensão, logro aos
cooperativados da Bancoop, negociatas para a criação da Oi, etc.
Havia um
esquema nebuloso e uma oportunidade de propina? Era só procurar um ex-líder
sindical transformado em lobista ou aboletado numa diretoria de estatal, com um
fundo de pensão aparelhado atrelado.
Nada
mais natural que, diante da debacle do projeto de poder da plutocracia
sindical, esses aparelhos passem a organizar milícias nas ruas para tentar
voltar a ter alguma força política.
Mas o
tempo passou na janela, e só as carolinas viúvas das greves do ABC não viram.
Para além da demagogia de alardear nas redes sociais cada vez mais segmentadas
o sucesso de um movimento visivelmente fracassado, os cutistas e petistas sabem
que não falam mais aos setores que antes lhes garantiam voz e voto.
Saberiam,
caso se dispusessem a ler os sinais, ou pelo menos uma pesquisa realizada pela
própria Fundação Perseu Abramo, o braço acadêmico (sic) do petismo.
Essa
pesquisa, realizada na periferia de São Paulo para tentar vencer a perplexidade
reinante no partido com a acachapante derrota de Fernando Haddad em 2016,
mostra com clareza cristalina que os pobres não querem mais ser massa de
manobra de greves gerais, pautas retrógradas e governos populistas e/ou
corruptos.
Mais:
não querem ser clientes eternos de caraminguás dados na forma de programas
sociais que passaram a ser apenas meios de fidelizar eleitores pela barriga ou
pela promessa de um teto.
Essas
pessoas querem empreender, almejam o crescimento pelo mérito e pela educação,
não creem na divisão infantiloide entre patrões e empregados – justamente
porque ambicionam se tornar patrões pelos próprios meios –, enxergam o estado
como um provedor de serviços ruins, fornecidos mediante impostos escorchantes,
e estão pouco se lixando se Lula vai para a cadeia ou não.
Essas
pessoas, provavelmente, têm restrições à reforma da Previdência, mas não vão às
ruas queimar pneus por isso. Sabem por quê? Porque muitas delas nem têm
emprego, ou nem começaram a contribuir para a Previdência, uma vez que tiveram
o início da vida produtiva ceifado pela maior recessão econômica da história do
País, promovida pela irresponsabilidade e pela roubalheira petistas.
Essas
pessoas aplaudem o fim do imposto sindical compulsório, que mantém as
estruturas sindicais voltadas apenas à sobrevida do lulopetismo e à elite
dirigente de sindicatos que não representam ninguém e que não têm nada a
oferecer além da bolorenta CLT a trabalhadores do século 21.
Mas quem
estava preocupado em incinerar pneus na certa não se deteve em perguntar às
“bases” o que, nas reformas, poderia atendê-las. Graças a essa proposital
distonia entre o que querem os capos sindicalistas e o que precisam os trabalhadores,
o modelo cutista estrebucha junto com seu criador e maior estrela.
O Estado de S. Paulo
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