Joan Faus
Lei
penaliza Moscou por sua interferência na eleição presidencial dos EUA
Sem
outra alternativa a não ser aceitar, Donald Trump se
rebela e declara guerra ao Congresso. O presidente norte-americano assinou na
quarta-feira a lei aprovada pelo Congresso que impõe novas sanções à Rússia e limita a capacidade do
presidente de retirá-las. Mas assinou a contragosto, questionando a separação
de poderes e afastando-se de seu próprio partido, o republicano, que controla
Câmara e Senado.
“Embora
esteja a favor de medidas duras para punir e dissuadir o comportamento
agressivo e desestabilizador do Irã, Coreia do Norte e Rússia, esta legislação possui muitos
defeitos”, disse Trump em um comunicado. “Transgride de maneira imprópria o
poder executivo, coloca em desvantagem as empresas norte-americanas e prejudica
os interesses dos nossos aliados europeus”.
A lei,
que irritou a Rússia e a União Europeia,
é uma humilhação para Trump. Foi imposta pelo Congresso com um apoio quase
majoritário e revela, apesar da diferença partidária em quase todos os
assuntos, a profunda desconfiança que desperta entre republicanos e democratas
a aproximação do presidente com Moscou.
Todos os
presidentes temem que os legisladores se intrometam na sua política externa,
mas neste caso Trump não teve outra opção a não ser aceitar uma lei rejeitada
desde o início. Tentar vetar a norma – que também penaliza Teerã e Pyongyang –
provavelmente teria significado uma afronta ainda maior porque os legisladores
poderiam ter anulado seu veto ao possuir amplo consenso necessário para isso.
“Construí
uma empresa que vale muitos bilhões de dólares. Isso é grande parte do motivo
pelo qual fui eleito. Como presidente, posso fazer melhores acordos com países
estrangeiros que o Congresso”, afirmou Trump. A crítica é insólita
principalmente porque o presidente precisa do Congresso para avançar sua
agenda, apesar de que nunca escondeu sua animosidade contra o establishment de
Washington.
Trump se
apresentou nas eleições como o antipolítico, o empresário eficaz, o mestre da
negociação que podia transferir essas habilidades para a Casa Branca. Mas, nos
seis meses de presidência, não teve nenhum sucesso legislativo. A culpa,
argumenta, não é dele. “O Congresso não conseguiu nem negociar uma lei de saúde
após sete anos de discussão”, ironizou no comunicado referindo-se ao debate que
naufragou na semana passada.
O
republicano sustenta que a lei “dificulta” a negociação de bons acordos e vai
aproximar China, Rússia e Coreia do Norte. Também
diz que compartilha o desejo de deixar claro que não serão toleradas
“interferências” no processo democrático norte-americano e que Washington está
com seus aliados contra a “subversão” russa.
Mas, em
sua nota, Trump ignora a essência da lei. O Congresso o obrigou a fazer o que
rechaçava: castigar a interferência da Rússia durante a última campanha
eleitoral. A norma também inclui novas penalidades pelo papel da Rússia na
crise na Ucrânia e na Síria. Os serviços de inteligência dos Estados Unidos
acusam o Kremlin de orquestrar uma campanha de ataques cibernéticos para ajudar
Trump a ganhar a eleição presidencial.
O republicano
se recusa a aceitar essa conclusão e afirma ser alvo da “maior caça às bruxas”
da história. Um procurador especial e vários comitês legislativos estão
investigando se a equipe ao redor de Trump se coordenou com a interferência
russa e pode ter cometido crime de obstrução à justiça.
A sombra
da trama russa paira constantemente sobre a presidência do republicano. Os
contatos, não revelados, da equipe de Trump com personalidades russas – antes
da posse presidencial de janeiro – provocaram renúncias e investigações.
Como
candidato, Trump repetidamente elogiou o presidente russo, Vladimir Putin, e
defendeu melhorar as relações com Moscou, sugerindo até mesmo a retirada de
sanções. Como presidente, manteve distância em assuntos relacionados com a
Ucrânia, mas promoveu uma aproximação na Síria e deteve o debate sobre a
interferência eleitoral. Agora, o Congresso impediu suas intenções.
EL PAÍS
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