Valmar Hupsel Filho
Principal articulador da fidelidade
de seu filho a Temer, César Maia diz que DEM não deve estar ‘a reboque’ do PSDB
Entrevista com César Maia
RIO -
Principal articulador da fidelidade de seu filho, o presidente da Câmara,
Rodrigo Maia (RJ) e de seu partido, o DEM, ao presidente Michel Temer no
momento mais crítico de seu governo, o vereador pelo Rio César Maia minimiza
sua participação no processo. Para ele, o ministro do Supremo Tribunal Federal
(STF) Edson Fachin e o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, foram os
responsáveis pelo fortalecimento do Centrão e diz que o DEM não deve estar “a
reboque” do PSDB em 2018.
A mosca azul de ver seu filho
presidente não picou o sr.? Quais foram os motivos que levaram o sr. a
aconselhá-lo a ficar ao lado do presidente Temer?
Rodrigo
não é mais meu filho. Eu é que sou o pai dele. Eu não aconselhei. Eu concordei.
Aquilo que a imprensa disse, que Rodrigo articula parado, é espetacular. Não
teve mosca azul nenhuma. Pergunta lá quantas vezes eu fui a Brasília, na
residência oficial da Câmara dos Deputados ou no gabinete dele. Nenhuma.
Ele veio
ao Rio no momento mais crítico da crise, acompanhado de Mendonça Filho (então
deputado, hoje ministro da Educação), no momento em que o DEM quase desembarca.
Mendoncinha
teve comigo e com o Rodrigo uma vez. Mas eu não sou um personagem ativo nesse
processo. Sou um opinador, um comentarista. Lembro que quando a coisa ficou
forte, quando familiares e amigos já começaram a achar que ele já era o
presidente, mandei um WhatsApp para ele com apenas uma palavra bem grande, em
tipo alto: HUMILDADE. Acho que foi o único conselho que dei nesse processo
todo. E ele me respondeu: ‘Pai, pode ter absoluta certeza que vai ser assim.
Fique tranquilo’.
Em que momento foi isso?
Foi
naquele momento em que já era dado como certo que ele assumiria. Teve um
movimento ali, dez, 15 dias antes da votação, quando o assunto era tratado como
se fosse uma realidade. Eu achava que era um erro substituir o presidente.
Aquela votação foi um erro para o Brasil. Porque no momento daquela impulsão do
Janot e a recepção do Fachin, a reforma da Previdência estava no forno. Era só
colocar para votar. Na hora que entra o caso fica a dúvida: quem será o
presidente? Isso esfriou.
Mas Rodrigo, que era a opção para a
substituição de Temer, é a favor da reforma.
Ele
lidera esse processo. E aí com esse problema que teve, a reforma passou a ser
submetida a um crivo de negociação interna. Porque, se me perguntar quem é o
responsável pelo fortalecimento do Centrão, eu respondo: Janot e Fachin, que
entregaram ao Centrão uma peça de negociação que não tinha.
O Centrão já era articulado desde o
processo de impeachment.
Mas o
poder que o Centrão tinha já estava colocado no governo Temer. Olha o
ministério dele. Estou falando do acréscimo de poder. A iniciativa de Janot e
Fachin fragilizou o PSDB. A razão da crise do PSDB é exatamente a votação em
relação ao Temer. É fato que o PSDB dividiu.
De que forma o DEM se beneficia com
a divisão do PSDB?
Hoje a
previsão que se pode fazer é de que vai haver, no campo do centro, que é o que
a gente busca há muito tempo, uma troca de personagens do PSDB com o DEM. O DEM
pode ocupar esse espaço, seja com esse nome ou com outro nome. A razão foi a
iniciativa do dr. Janot e do ministro Fachin. Ontem (quinta-feira), o ministro
Fachin disse que não vai incluir o nome do presidente Temer no caso do PMDB (o
inquérito conhecido como “quadrilhão”). E, na minha leitura, a probabilidade do
ministro Fachin colocar a segunda flecha é nenhuma. A segunda flecha é para 1.º
de janeiro de 2019.
O que o sr. achou da denúncia?
Um ato
com consequências jurídicas inócuas e consequências políticas e econômicas
grandes. A primeira denúncia é de uma inutilidade gigantesca. Se se começa pela
outra denúncia, de que houve ou não houve obstrução da Justiça, aí poderia ter
um quadro diferente. Acho que foi uma precipitação que teve uma consequência
política e econômica grande. Teve outra consequência que foi afetar a liderança
política do presidente, que chegou a dizer que estamos vivendo um
semiparlamentarismo. O que ele quer dizer com isso? Um homem com a experiência
de Temer? “Eu estou enfraquecido.” O fortalecimento dele tem de ser o
fortalecimento institucional, que é o caso da Câmara e Senado.
O que mudou entre o impeachment de
Dilma Rousseff e a votação da denúncia contra Temer?
Primeiro,
há uma adesão das elites empresariais às teses do governo Temer que é total,
100%. Tem um presidente da Câmara que tem a coragem de fazer uma defesa aberta
e explícita às reformas liberais. O Brasil precisa que o governo Temer complete
(o mandato) e a decisão de Fachin (de não incluir Temer no “quadrilhão”) vai
ajudar muito o País.
O DEM terá candidato à Presidência
em 2018?
Depende
de ter nome, criar uma marca.
Rodrigo está descartado?
Não sei.
O Brasil precisa que ele se reeleja deputado federal e que a Câmara continue
com uma condução como a dele, não conflituosa.
O fato de ele descartar o Executivo
tem alguma coisa a ver com o inquérito do qual ele é alvo?
Que é
ridículo... Fachin agora mesmo cancelou o depoimento que ele iria dar.
Como acha que o DEM deveria
aproveitar esse momento de crescimento?
Eu diria
que dando tempo ao tempo. Se estivéssemos na Alemanha eu responderia que é
automático o líder ascender a primeiro-ministro. Agora, no Brasil, com sistema
orgânico, voto proporcional aberto e partidos sem marca... A iniciativa do
Doria pode ser um bom exemplo para os quadros do DEM. Ele, que é um homem do
marketing, de TV, foi dizer: ‘sou prefeito, mas quero ser candidato a
presidente daqui a um ano’. Um ano! Aí ele faz uma programação para ter
visibilidade. Os nomes que nós temos têm de se propor. O DEM não vai a reboque
do PSDB.
O Estado de São Paulo
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