Martim Berto Fuchs
A chegada de D.João VI com quase
toda sua Corte, trouxe junto um modelo de administração pública que já estava caindo
em desuso na Europa. Desde a Revolução chamada de Gloriosa, na Inglaterra,
1649, onde aboliram a monarquia, e mesmo que essa situação tenha durado pouco, deixou
profundas marcas; da influência da independência americana e sua Declaração da
Independência, que serviu de modelo para a Declaração dos Direitos do Homem e do
Cidadão com que fizeram a Revolução Francesa, que o regime monárquico estava
com os dias contados, pois já se encontrava esclerosado, ultrapassado.
No Brasil, o estabelecimento da
família imperial, a independência, a abolição da escravatura, a república, nada
disto serviu para mudar a mentalidade das nossas elites. Oligarcas plasmados na
exploração da terra, terras concedidas pelos monarcas, desde o início esses
“empreendedores” se acostumaram aos régios benefícios.
Também a industrialização,
assentada nos favores da Corte, só se desenvolveu como filial de empresas
estrangeiras.
Os que tiveram mais sucesso em
termos de negócios foram os rentistas, começando pelos “importadores” de
escravos, que após a abolição, direcionaram suas economias para renda financeira.
As elites, que a priori
deveriam ser o norte da atividade econômica e social do
país, só chegavam a consenso quando de tratava de conchavos. Do contrário, se
digladiavam e assim continuam, procurando cada um derrubar o grupo adversário
quando no poder, insensíveis quanto a isto significar atraso no
desenvolvimento, estagnação e até o retrocesso econômico e por conseqüência social.
Monarquistas, conservadores,
liberais, e por último os socialistas, puxam cada um a brasa para seu assado,
pouco importando o que acontece com o país, e por conseguinte com os
trabalhadores, em especial os da iniciativa privada. Aliás, estes continuam
sendo utilizados apenas quando necessários e praticamente esquecidos quando a
Corte está em “recesso”.
Mas cada grupo que chegou ao
Poder, aproveitou a oportunidade e colocou toda sua grande família a ser sustentada pelos recursos
públicos, protegendo e garantindo sua permanência no emprego, votando Leis
neste sentido ou simplesmente editado-as à revelia da sociedade. A defesa
desses empregos e os conchavos para se manterem às custas do erário público,
são os únicos pontos em que os quatro grupos estão de pleno acordo.
Estamos novamente nos
aproximando do fundo do poço, em situação até pior do que a que originou o
golpe de 30 por parte do grupo encabeçado por Getúlio e apoiado pelos
militares. Era um grupo heterogêneo, composto por descontentes de todos grupos,
pessoas que não tiveram as oportunidades e posições de realce que se achavam no
direito. Até os comunistas viram uma chance de aparecer.
A pergunta que se impõe é: e agora ? Nossa classe política e os grupos que
a sustentam, continuam sem um norte para o país. Não tem uma definição de
rumo, seja econômico ou social, e sem desenvolvimento econômico não se resolve
o social, salvo nos dogmas socialistas, que confundem assistencialismo e
empreguismo com desenvolvimento, e consideram igualdade na pobreza como
resultado positivo.
E esta indefinição de rumo tem
nos levado, à cada crise, à uma ditadura. Desde que a república foi proclamada,
pelos desentendimentos das nossas elites que somos obrigados a apelar para o
autoritarismo para conseguir que o país não paralise, ou pior, entre em
convulsão.
Foi assim com Deodoro e
Floriano, depois com Getúlio, e por último com Castelo, Costa e Silva, Médici,
Geisel e Figueiredo.
De 1986 para cá, após mais uma
redemocratização, o que nos salvou foi o Plano Real e o que continua nos
salvando é a Lei de Responsabilidade Fiscal, que o grupo dos nacionalistas
desenvolvimentistas - que merece um capítulo à parte, pois agem entranhados nos
outros grupos, não se configurando como um quinto grupo -, na sua irracionalidade, querem por que
querem liquidar.
Mesmo assim, se houve aumento
do nosso PIB neste período, devemos ao crescimento das economias do primeiro
mundo, em especial a da China que nele ingressou após conseguir livrar-se de
Mao Tse Tung e dos dogmas marxistas. Se dependesse da ação dos nossos políticos
e seus partidos, dos nossos principais empresários e suas Associações,
Federações e Confederações, e dos milhares de sindicatos laborais e suas
Centrais políticas, estaríamos em convulsão social, pois são incapazes de
governar com responsabilidade.
Em algum momento teremos que
reescrever nossa história, e isto só acontecerá quando alguma força maior, com
apoio das FFAA, pois sem ela ninguém conseguirá, tiver uma proposta que
desconsidere as quatro existentes – monarquista, conservadora, liberal e
socialista - e imponha um novo paradigma.
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