Editorial
Servidor público tem vantagens em
relação ao assalariado privado e, por isso, deve contribuir
Até
devido à própria formação do Brasil, desde o Império, o emprego público costuma
ser o sonho de muita gente. O regime monárquico foi substituído pela República,
e o sonho de ter o Estado como patrão se manteve, e foi até fortalecido, com a
multiplicação de empresas estatais, no século XX.
Na
Constituição de 37, a “Polaca”, da ditadura do Estado Novo getulista,
instituiu-se a estabilidade no emprego na administração direta, consolidando na
sociedade este sonho. Algumas estatais terminaram convertidas em empresas de
capital misto, público e privado, seus empregados ficaram sob o regime da CLT,
de 1943, mas, mesmo assim, a segurança de um posto em companhia pública é
grande. Não se tem notícia de demissões em massa neste universo, porque
prejuízos são cobertos pelo Tesouro, e a cobrança por eficiência do empregado
não é a mesma do setor privado, em que não há o Erário para socorrer em
qualquer eventualidade.
Com o
passar do tempo, e a ampliação dos quadros de servidores, o funcionalismo se
fortaleceu como força eleitoral, sempre cortejado por políticos em busca de
votos. Também cresceu seu poder em articulações no Congresso e junto ao
Planalto, sempre em busca de benesses. A depender do governo, como aconteceu
com os de Lula e de Dilma, sindicatos de categorias do funcionalismo têm
trânsito livre em gabinetes que decidem onde, como e quanto gastar do dinheiro
do contribuinte.
Essa
pressão do lobby do funcionalismo ficou evidente na Constituinte, quando
vantagens foram conseguidas, como a efetivação de muita gente na máquina
burocrática em empregos estáveis. Alegres e extensos trens da alegria que
passaram a custar cifras avantajados ao Tesouro (o contribuinte).
A crise
semeada a partir de Lula/Dilma floresceu com vigor a partir das barbeiragens
monetárias (juros) e fiscais executadas de forma competente por Dilma, tanto
que ela sofreu impeachment por manobras contábeis no manejo do Orçamento.
Restou ao governo do vice dela, Michel Temer, executar o imprescindível ajuste.
E chegou
a hora de enquadrar o custo da folha de salários dos servidores da União — o
mesmo precisaria ser feito, com igual urgência, no Judiciário, no Legislativo,
em estados e municípios. Uma conta de mais de R$ 200 bilhões, os salários do
funcionalismo federal é o segundo maior item de despesa da União. Perde apenas
para a Previdência.
Como o
déficit público não cai dos 2% do PIB — alavanca do crescimento fatal da dívida
pública, até a insolvência —, a realidade impõe que a carga do ajuste, toda
jogada sobre o trabalhador do setor privado, dos quais 13 milhões estão
desempregados, seja mais bem distribuída e caiba uma parcela ao funcionalismo.
Que recebe os melhores salários do país, nem perde o sono sob ameaça do
desemprego. Não deveria ser difícil entender. Mas é, pelas corporações e
militantes.
O Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário