Editorial
Restrições à venda de Furnas no
Sudeste, da Chesf no Nordeste e ao leilão de usinas da área da Cemig em Minas
mostram como há outros interesses em jogo
Sindicatos
de funcionários de empresas públicas costumam ser os primeiros a levantar
barricadas contra a privatização de estatais. Temem a cultura administrativa do
mundo privado, onde não existe Tesouro para compensar prejuízos com dinheiro do
contribuinte, nem há condescendência com maus profissionais e vigora o
princípio do mérito.
O
anúncio da privatização da Eletrobras e a intenção do governo de levar à leilão
usinas da área da Cemig, estatal mineira, ambas as operações para ajudar no
reequilíbrio fiscal da União, têm enfrentado resistência também de políticos.
Mas não só por motivos ideológicos. Estes são conhecidos. Tem ficado evidente,
nessa rejeição à venda de estatais, outro tipo de oposição, com origem na
cultura pluripartidária do fisiologismo, e também na corrupção que costuma ser
praticada no mundo das empresas públicas.
Garimpar
comissões e empregar apaniguados em estatais é o sonho de muita gente. Daí,
logo depois do anúncio da privatização da Eletrobras, políticos nordestinos
terem passado a defender a manutenção da Chesf como estatal. Claro,
alegadamente para o bem da região e dos nordestinos. Entende-se.
O mesmo
acontece em relação a Furnas, com sede no Rio. Há alguns processos referentes a
negócios suspeitos feitos na empresa e no seu fundo de pensão em que é citado o
ex- presidente da Câmara Eduardo Cunha. O senador tucano mineiro Aécio Neves é
outro que aparece em histórias sobre Furnas.
A ação
conjunta da bancada mineira para o governo federal deixar quatro hidrelétricas
com a Cemig — Jaguara, São Simão, Miranda e Volta Grande — é, no jargão
jurídico, forte prova indiciária de que existem muitos interesses em jogo que
nada têm a ver com quilowatts. A campanha é pluripartidária. Une o tucano Aécio
e o petista Fernando Pimentel, o governador.
O
governo conta com o leilão destas usinas para ajudar a União a atingir a meta
fiscal deste ano. Como a equipe econômica conta com estimados R$ 11 bilhões
provenientes dos leilões, os mineiros negociam com o BNDES um exótico
empréstimo à Cemig, para a estatal mineira ficar com as usinas, e o governo,
com o dinheiro. Mas o banco chegaria apenas a R$ 9,7 bilhões. Porém, mais
importante que tudo é que não faz sentido o BNDES, instituição de fomento,
bancar uma operação comercial por conveniências políticas. Repete-se o
relacionamento do banco com a JBS, no lulopetismo. Como Temer é um presidente
fraco, tudo pode acontecer.
A
administração das estatais depende do governo de turno. O que deixa tudo muito
instável. Houve oito anos de Fernando Henrique, nos quais se tentou alguma
profissionalização na gestão das empresas. Existiu ladroagem, confessou Pedro
Barusco a uma CPI da Petrobras. Mas nada como a "corrupção sistêmica”
instalada na empresa a partir de Lula, termo usado pelo próprio ex-gerente da
Petrobras na área de serviços, subordinado ao diretor Renato Duque, preso em
Curitiba, junto com Eduardo Cunha.
Esta é a
questão: pode ser eleito um governo populista e pouco ético e desmontar as
conquistas feitas em gestões anteriores. Portanto, no caso da estatais, a
melhor e única alternativa sensata é vendê-las, até por precaução.
O Globo
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