João Domingos
(*)
O voto será dado a nomes, não
interessa ao eleitor a qual sigla está vinculado o candidato
O
segundo turno da eleição para mandato-tampão do governador de Tocantins,
realizado no domingo passado, mostrou que a soma de votos brancos e nulos com
as abstenções chegou a 51,83% do total de pessoas aptas a votar. Esse
porcentual representa 527.868 eleitores e supera a soma dos votos conquistados
pelos dois candidatos que disputaram o segundo turno: 490.461.
Estatísticos,
cientistas políticos, jornalistas especializados em política e outros buscam
entender o que aconteceu em Tocantins. Seria o desinteresse por uma eleição
extemporânea? Dificuldades de locomoção do eleitor? Distanciamento da população
em relação aos políticos? Desesperança? É possível que seja uma soma de tudo
isso a razão que levou a números que chamaram tanto a atenção. (É preciso
lembrar que mesmo na condição verificada em Tocantins, em que a soma de
abstenções e votos brancos e nulos ultrapassou a dos votos nos candidatos, a
eleição vale. Qualquer notícia diferente é fake news. E elas circulam a rodo
por aí).
Mesmo
que o cenário brasileiro seja de muita incerteza e que não se verifique, pelo
menos por enquanto, grande empolgação em relação às eleições de outubro, que se
avizinham, ninguém se arrisca a dizer que abstenções, brancos e nulos vão
passar dos 50%. Calcula-se que entre 60% e 65% comparecerão às urnas, o que
permite trabalhar com um eleitorado em torno de 90 milhões e 100 milhões,
levando-se em conta que o número de eleitores deverá chegar perto dos 150
milhões.
Portanto,
os candidatos que disputarão a eleição presidencial, os governos estaduais, o
Senado, a Câmara dos Deputados e as Assembleias Legislativas devem levar em
conta que terão de cavar o voto num universo que se situa entre 60% e 65% do
eleitorado.
Os
candidatos à Presidência que apareceram até agora estão muito longe daquilo que
se pode chamar de liderança. Nem mesmo Lula, que está preso e mostra uma
impressionante capacidade de permanecer nas mentes das pessoas, seja do ponto
de vista positivo, seja do ponto de vista negativo, pode almejar para si essa
função. Ele lidera o PT, não há dúvida nenhuma. Mas não o Brasil. Os 33% a 38%
do eleitorado que dizem votar nele ainda são minoria. E não é possível perceber
em Lula, dada a divisão da sociedade brasileira e de um discurso de confronto
dele e do PT, capacidade para unificar o País. Esse líder ainda não existe. Ou,
se existe, está escondido, talvez à espera de notícias melhores da política e
do País.
Quanto
aos partidos, simplesmente são ignorados pelo eleitor. Veja-se pesquisa do
DataPoder360, divulgada na terça-feira, sobre a preferência do eleitorado de
Minas Gerais. No cruzamento com a disputa presidencial, o tucano Geraldo
Alckmin (SP) receberia apenas 10% dos votos do senador Antonio Anastasia, do
PSDB, que disputará o governo e está à frente, com 27% da preferência do
eleitorado, contra 15% do governador Fernando Pimentel (PT) e 9% do ex-prefeito
de Belo Horizonte Marcio Lacerda (PSB). Já o deputado Jair Bolsonaro (PSL-RJ)
receberia 54% dos votos do eleitor de Anastasia.
Por que
os votos do PSDB ao candidato a governador não chegam ao candidato do mesmo
partido à Presidência, mas a Jair Bolsonaro? Porque o eleitor mineiro
provavelmente ainda se lembra do governo de Anastasia, faz uma associação com o
de Pimentel, que passa por uma crise política, econômica e ética danada e
conclui que deseja o tucano de volta. Quanto a Alckmin, o fato de pertencer ao
PSDB não faz nenhuma diferença. Como ninguém quer saber também a quais partidos
pertencem Jair Bolsonaro, Marina Silva ou Ciro Gomes. O voto será dado no nome.
Não do partido.
O Estado de São Paulo
(*) Comentário do editor do blog-MBF: em algum momento os formadores de opinião
terão que se convencer de que partidos políticos perderam a validade. Estão
vencidos. Podem e devem ser descartados.
Monarquistas, republicanos, conservadores
e liberais de um lado, contra comunistas e socialistas de outro, não mais
interessa ao cidadão. Interessa à ele resultados, e estes não foram conseguidos
por nenhuma das vertentes acima citadas.
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