José
Casado
No Supremo,
há 273 inquéritos contra políticos, por corrupção. Como Lula e Collor,
naufragaram nas promessas que corromperam. A Lava-Jato expõe o retrato desse
fracasso de gerações
De novo, Collor e Lula são candidatos à Presidência. Fernando Affonso,
68 anos, confirmou no fim de semana em Arapiraca (AL). Luiz Inácio, 72 anos,
será reafirmado pelo Partido dos Trabalhadores, sexta-feira em Porto Alegre.
Eram jovens promessas na política quando disputaram, 29 janeiros atrás.
Collor construíra uma história de êxito na oligarquia de Alagoas — um
dos estados mais pobres, governado por seu pai 35 anos antes, no rodízio entre
senhores de engenho e “coronéis”. Trocou o governo estadual pela aventura
presidencial e entrou na campanha com um caixa de US$ 12 milhões, coletado
entre usineiros de açúcar e álcool, que beneficiara com uma década de isenções
fiscais.
Lula era a antítese. Exaltava a biografia na moldura épica do migrante
pernambucano que chegou ao Sul e ascendeu à elite urbana paulista, depois de se
arriscar na liderança de greves em desafio à ditadura, empresas e à burocracia
sindical cevada na tesouraria governamental desde a Era Vargas. Foi o segundo
operário e líder sindical a disputar votos pela Presidência, na trilha aberta
pelo cortador de mármore carioca Minervino de Oliveira, vereador, ativista
negro e comunista no Rio de 1930.
Era a primeira eleição presidencial direta depois de 21 anos de regime
militar. Com exuberância nos insultos, Collor e Lula conseguiram ocultar dos
eleitores as fragilidades de suas propostas para um país que ingressava na
democracia sob grave crise econômica (aluguéis de imóveis aumentavam 866% ao
ano).
Ofendiam-se diariamente, na TV e no rádio. Collor caluniava Lula,
acusando-o de planejar “luta armada”, “banho de sangue” e “guerra civil”, sob
“inspiração de Hitler e Khomeini”. Lula injuriava Collor, xingando-o de
“imbecil” nascido em “berço de ouro” de uma família que “mata trabalhador
rural”. Collor venceu, enquanto ruía o comunismo do Muro de Berlim. Renunciou
antes de ser deposto por corrupção, aprisionado na moenda política organizada
por Lula e pelo PT. Passados 17 anos, em 2009, desembarcaram do avião
presidencial para se abraçar nas ruas de Palmeira dos Índios (AL): “Quero fazer
justiça ao Collor” , disse Lula. Comparou-o a Juscelino Kubitschek, cujo
governo deflagrou a expansão da indústria de metalurgia na periferia paulistana
— onde surgiu o sindicalista Lula.
Collor foi absolvido pelo Supremo em 2014, por falta de provas. Amanhã
é a vez de Lula num tribunal, em súplica contra a condenação a nove anos e seis
meses de prisão por corrupção. Ainda tem outros cinco processos.
Dos quatro presidentes que o Brasil escolheu nas urnas desde a
redemocratização, dois acabaram destituídos (Collor e Dilma), um está no banco
dos réus (Lula) e o atual (Temer) precisou vencer três votações seguidas (no
TSE e na Câmara) para continuar no cargo e sustar seus processos por corrupção
até o fim do mandato, em dezembro.
No Supremo estão pendentes 273 inquéritos contra políticos, por
corrupção. Como Lula e Collor, todos ascenderam no ocaso da ditadura, dominaram
o poder sob a Constituição de 1988, mas naufragaram nas vagas promessas aos
eleitores sobre um país com horizonte bonito e tranquilo para as utopias
políticas que eles mesmos corromperam.
A Lava-Jato está expondo o retrato desse fracasso de gerações.
O
Globo
Nenhum comentário:
Postar um comentário