CARLOS E. CUÉ
(*)
Presidente
argentino congela salários do Governo e proíbe contratação de familiares
Mauricio
Macri, presidente da Argentina, teve um começo
de ano muito mais complicado do que o esperado. A oposição, muito enfraquecida,
tenta ganhar forças. O ano de 2017 terminou com uma polêmica
reforma da Previdência que provocou graves confrontos entre
manifestantes e policiais no Congresso — desde então, a satisfação dos
argentinos com os rumos do país caiu 14 pontos. O dólar sobe desde então, algo
que sempre assusta os argentinos. E a inflação não dá trégua, com novos
aumentos das tarifas de energia elétrica, combustíveis e saúde privada. Neste
contexto, o presidente argentino estava perdendo popularidade nas pesquisas e
decidiu frear essa sangria com um gesto simbólico: congelou seu salário e o de
cerca de 500 funcionários do alto escalão — o que equivale a uma forte redução
de salário em um país com uma inflação de 25% —, ordenou a demissão de 25% dos
cargos de confiança do Governo e proibiu que ministros tenham familiares
trabalhando no Executivo.
A decisão responde especialmente à polêmica causada pelo
ministro do Trabalho, Jorge Triaca, que tem parte de sua família em cargos de
confiança no Executivo, algo que acontece também com outros ministros.
Alguns meios de comunicação pressionaram para que Macri
fizesse uma mudança no Governo e demitisse Triaca, que também se envolveu em um
escândalo ao confirmar que havia contratado uma empregada doméstica sem
carteira assinada, mas a resposta do presidente foi diferente. "Sei
que vamos perder colaboradores muito valiosos [com a decisão de proibir a
contratação de familiares], sinto muito, mas queremos transparência.
Espero que este
exemplo seja seguido por todos", disse Macri como mensagem sobretudo aos
governadores.
Na Argentina, é costume colocar toda a família na
administração, e são frequentes nas províncias casos de irmãos que se alternam
na presidência, como em San Luis, ou casais que cobrem todos os cargos-chave. O
macrismo chegou ao Governo com a mensagem que acabaria com essas tradições
peronistas, mas alguns casos nos últimos meses mostraram o contrário. Macri,
que desperdiçou nessas semanas parte do crédito que conseguiu com a última
vitória eleitoral em outubro, pretende com este começo de ano enviar a
mensagem de que está disposto a dar exemplo. Sua própria família, uma das mais
ricas do país, está no centro de polêmicas sempre que o conglomerado Macri
aparece como beneficiado em uma licitação ou uma decisão do Governo. O
presidente argentino parece disposto a acabar com os arranhões em sua imagem.
O presidente, que acaba de voltar de uma viagem a Davos,
Rússia e França, começou o ano com força e uma mensagem de resposta a todas as
análises políticas e pesquisas publicadas nas últimas semanas, nas quais foi
instalada a ideia de que Macri já assumiu que é impossível fazer uma mudança
profunda naArgentina e
se limitará ao pragmatismo de modificar o que for possível, sem procurar
grandes reformas que desagradem os sindicatos e possam gerar outro
enfrentamento brutal nas ruas, como aconteceu em dezembro.
Macri nega esse raciocínio e tenta dissipar o pessimismo
que atinge outra vez a Argentina, um país que passou a maior parte de sua
história recente convencido de que não tem remédio. O presidente rejeita esse
fatalismo. “A mudança está ocorrendo de fato. O que propusemos é muito mais do
que uma mudança econômica; é uma mudança cultural. Queremos mudar a cultura do
poder na Argentina. Todos temos que ceder um pouco em função do conjunto. É
preciso abandonar para sempre a ideia de que não se pode mudar o país”,
insistiu, visivelmente irritado com as análises que são reproduzidas de forma
cada vez mais dura pelos meios de comunicação, inclusive entre analistas que
apoiaram a mudança.
O presidente, os ministros e os altos funcionários da
Argentina têm salários altos para os padrões de um país com enormes diferenças salariais,
que possui 30% de pobreza e milhões de pessoas que, embora trabalhem e recebam
salário, não podem ter uma vida digna. Macri recebe 200.000 pesos brutos por
mês (pouco mais de 32.000 reais); já os ministros, cerca de 150.000 (24.000
reais). No entanto, no mundo da elite das empresas privadas, de onde provém boa
parte dos ministros, esses salários não são os mais altos. O congelamento teria
um efeito forte porque, em um ano, a inflação pode abocanhar mais de 20% do
valor.
A redução de assessores e da equipe de trabalho é ainda
mais significativa. Segundo o presidente, vai gerar uma economia de 1,5 bilhão
de pesos (240 milhões de reais) por ano. O macrismo foi muito criticado quando
chegou ao poder porque não diminuiu o número de ministérios nem os cargos de
confiança do kirchnerismo, depois de censurar durante anos o uso da
administração como uma espécie de “cabide de empregos da política”. Agora, o
ajuste é forte e significaria demissões de mais de 500 pessoas em todos os
centros de poder importantes. “A austeridade tem que partir da política”,
afirmou. Um gesto simbólico que não soluciona o problema importante que a
Argentina tem com o déficit público, mas que envia uma mensagem de que Macri
está disposto a combater o pessimismo e a desilusão que atingem parte de seus
eleitores.
EL PAÍS
(*) Comentário do editor do blog-MBF: quando ele foi eleito, tentou demitir 150.000
empregados públicos. O protesto dos sindicatos foi de tal ordem, que ele
conseguiu demitir apenas 13.000.
Este é o motivo
porque a economia não está reagindo às medidas econômicas: o gasto público,
principalmente em salários desnecessários, ainda é muito elevado. Consome o
dinheiro dos impostos sem nenhum retorno.
Nenhum comentário:
Postar um comentário