Celso
Ming
Não é mais possível aceitar que o único projeto do PT e das esquerdas
brasileiras seja o de salvar o Lula.
Há tanta coisa a reconstruir, a começar pelas ruínas financeiras da
Previdência Social, que hoje comprometem gravemente a aposentadoria das novas
gerações. Seguir afirmando que esse rombo foi criado pelas elites é tentar
ignorar a trombada que vem vindo aí.
Há, por exemplo, uma indústria a reidratar depois de tantos anos de
descuido, de despejo de recursos nas contas bancárias de meia dúzia de futuros
campeões nacionais e de tantas barbeiragens em matéria de política industrial
produzidas pelos governos do PT.
Se o agro tivesse sido confiado ao MST e ao João Stédile, o Brasil não
estaria produzindo 240 milhões de toneladas de grãos. E não teríamos hoje mais
do que o jogo miúdo que mal supera programas de economia de subsistência e a
sistemática destruição de experimentos agrícolas de empresas e de institutos de
pesquisa.
O mundo passa por impressionantes mudanças tecnológicas, que estão
dizimando empregos e criando novas formas de atividade econômica e de trabalho.
E, no entanto, as esquerdas comportam-se como os taxistas contra o Uber, contra
o Cabify e contra os aplicativos. Aferram-se à preservação do imposto sindical
e à manutenção de postos de trabalho de profissionais que vão sendo
substituídos por formas novas de atividade remunerada. Bancários, carteiros e
telefonistas são ocupações em extinção (ou em forte redução), e não há como
mudar esse jogo.
Há um sistema educacional a reconstruir diante da grande explosão da
nova revolução industrial, da tecnologia da informação, da inteligência
artificial e da internet das coisas. Mas a pregação das esquerdas é de que a
principal coisa a fazer aí é inculcar nas crianças o catecismo da luta
anti-imperialista.
E há um sistema de saúde a remodelar, num momento em que o aumento da
expectativa de vida reduz a importância da luta contra doenças infecciosas e
aumenta a da luta contra doenças degenerativas.
Se é para construir a democracia, não podem os dirigentes das nossas
esquerdas pregar a desobediência civil e o desacato a algumas decisões da
Justiça e não a outras.
Aí já tem munição para muita conversa da qual esta Coluna não fugirá
ao longo deste ano. É cada dia com sua agonia, como diz o Evangelho de
Mateus (6,34). Mas não posso deixar passar este espaço sem algumas
considerações sobre as contas externas em 2017.
O
Estado de São Paulo
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