terça-feira, 16 de janeiro de 2018

O novo Presidente e a dependência financeira

Martim Berto Fuchs

Depois do fracasso anunciado de mais uma tentativa de “nacional desenvolvimentismo”, voltam-se as atenções, novamente, para o modelo “liberal”, como se liberalismo fosse sinônimo de boa administração pública, e não apenas o encolhimento do Estado ao ponto mínimo, para garantir a propriedade privada em todas suas conotações e a total liberdade aos mais inescrupulosos em acumular capital, principalmente através da exploração da mão de obra e da especulação, seja esta financeira, imobiliária, na bolsa de valores ou nas commodities.

Nacional desenvolvimentismo é uma proposta onde o investimento deveria “obrigatoriamente” trazer resultados econômicos que fossem cobrindo as despesas correntes geradas após sua operacionalização. Acontece, que a maioria dos países e aí incluso o Brasil, antes do investimento já estão gastando mais do que arrecadam e imaginam, que investindo, podem aumentar ainda mais os gastos já na fase de implantação, sem contar a elevação do custo em função da corrupção sistêmica. Sempre deu errado, em todos países, e continuará dando errado. Só quem ganha são os banqueiros e os rentistas, os donos do capital, que estão sempre dispostos a emprestar, para quem tem garantias.

Mudar esse modelo “desenvolvimentista” mais uma vez tentado no Brasil pelos governos anteriores, agora novamente para o dito modelo liberal, pouco vai adiantar, pois a despesa fixa já contratada supera qualquer expectativa de ganhos futuros. Aí vende-se o patrimônio estatal a preços irrisórios, com o argumento de que doá-los já seria um bom negócio, mas não se enfrenta as causas da falência do Estado, qual seja, sua elevada e desnecessária despesa fixa.

O que o Brasil precisa é atacar as causas do seu déficit público crescente e partir corajosamente para a boa gestão pública; e esta, em primeiro lugar, tem que ser apolítica.

Desde 1808 estamos sustentando parasitas e inúteis pendurados nas contas públicas. Naquela época eram 10.000 pessoas vindas em “comitiva” com a família Imperial. Hoje, já são 11 milhões que constam diretamente nas folhas de pagamento, mais seus dependentes.

A corrupção que tomou conta do Estado tem sua origem neste empreguismo. Como falar em ética, moral, e boa gestão, quando, conscientemente, colocamos nossa grande família (cabos eleitorais, parentes, amantes e amigos) nas diversas folhas de pagamento existentes, independente da necessidade, e caso não for suficiente, criamos mais departamentos públicos para acomodá-los ? Isto tem um nome: roubo e roubo é crime.

Não é o Estado-Nação que está errado como conceito, como querem os liberais. O que está errado e nem os liberais se preocupam efetivamente em mudar, é o uso do Estado em benefício particular, procedimento adotado por todos que chegam a “administração” do mesmo. Abolir o Estado-Nação para corrigir este erro, é o mesmo que matar a vaca para acabar com o carrapato (Joelmir Betting).

O desafio para o novo Presidente não é mudar do nacional desenvolvimentismo com despesa contratada junto com o início do investimento, para o modelo liberal e continuando com a despesa fixa inalterada por falta de coragem política, mas sim enfrentar em primeiro lugar os desafios reais da administração pública, que é adequar o tamanho do Estado – paquidérmico, as necessidades da sociedade.

Esta atitude, corajosa, por si só nos levará para o desenvolvimento sustentado, e para conseguir este objetivo, temos que abandonar a estrutura de Estado a qual nos acostumamos.

Capitalismo Social é um conceito que deve ser analisado sem ideologia e comparado com a prática do socialismo e do liberalismo. Se é melhor para o desenvolvimento sustentado, para as empresas, para os trabalhadores e por conseguinte para a população como um todo, institui-se. Se não é, esquece.

O que não pode mais é continuar com falsas reformas e remendos inúteis, desde que passamos a nos considerar, erradamente, como república. Ainda somos uma Monarquia Republicana ou uma República Monárquica, onde o revezamento do ocupante do trono se dá entre os cortesãos da Corte, apenas com o referendo de uma sociedade mantida cuidadosamente alienada.

E todos que permanecem na Corte desde o início desta nossa “república” - monarquistas, conservadores e liberais-, e os que chegaram depois de 2002, socialistas, tem um único objetivo: garantir o emprego (bem remunerado) independente das crises que o próprio Estado, por eles representado, gera.

Para começar: metade das 11 milhões de pessoas empregadas no setor público, em todas suas esferas, está sobrando. Cria-se “trabalho” para elas, aumentando a burocracia, já inaceitável. A economia que se conseguiria, adequando o tamanho do Estado a real necessidade, situar-se-ia, entre salário e despesa que geram, na faixa de R$ 500 bilhões/ano; além de não contratar uma desnecessária dívida futura com estas aposentadorias.

Para as dezenas de órgãos públicos que cuidam das estatísticas, a nós vedadas, são dados fáceis de comprovar. Exige apenas um pouco de trabalho e honestidade de propósitos.

Este é o real desafio para o novo Presidente que será empossado em janeiro de 2019. Se for enfrentado, estancará a sangria dos cofres públicos e passaremos a ser pela primeira vez uma nação soberana. Caso contrário os banqueiros e rentistas antecipadamente agradecem.


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