Editorial
Comandante
do Exército, general Eduardo Villas Bôas declara que oposição dos militares ao
presidenciável deixou de existir, mas que ele não pode ser apontado como
candidato da corporação
O deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) quebrou a resistência a seu
nome dentro da cúpula das Forças Armadas. Essa mudança de posição, no entanto,
não se transformou em um apoio ao pré-candidato, que deve se filiar ao PSL em
março para disputar o Palácio do Planalto. O comandante do Exército, general
Eduardo Villas Bôas, diz que a oposição a Bolsonaro deixou de existir, mas,
mesmo o deputado sendo um capitão do Exército na reserva, ele não pode ser
apontado como candidato da corporação.
“Institucionalmente, a posição das Forças Armadas é a mesma em relação
a todos os candidatos, somos uma instituição de Estado. Bolsonaro deixou de ser
militar há 30 anos. Atualmente, é um político, igual aos demais que estão se
movimentando neste cenário para as eleições de 2018”, afirmou o general ao
jornal O Estado de S. Paulo.
Generais, brigadeiros e almirantes da ativa consultados pela
reportagem avaliaram que o fato de o deputado ter defendido a tropa durante as
sessões da Comissão da Verdade, no governo da presidente cassada Dilma
Rousseff, ajudou a romper as críticas. Além disso, atualmente quatro dos 15
generais que integram o Alto Comando do Exército são colegas de Bolsonaro na
turma de 1977 da Academia Militar das Agulhas Negras.
Nos últimos anos, o deputado também tem mantido contato informal com
oficiais-generais, da ativa e da reserva, incluindo o alto comando das três
Forças e participado constantemente das formaturas de turmas de oficiais.
Bolsonaro
foi preso por dar entrevistas sobre salários de militares
A oposição ao nome do deputado nas Forças vinha do fim dos anos 1980,
quando ele deixou o Exército por criticar em artigos os “salários baixos” da
corporação, estando na ativa. Ainda capitão, foi preso no quartel, em setembro
de 1986, por conceder entrevistas sobre os salários e depois investigado pela
acusação de ter elaborado um suposto plano para explodir um duto do Rio Guandu.
Foi absolvido pelo Supremo Tribunal Militar (STM). Em seus mandatos na
Câmara dos Deputados - foi eleito pela primeira vez em 1991 e está na sétima
legislatura -, conseguiu mais desafetos com discursos duros contra a cúpula das
Forças Armadas. “O passado já é passado. Então, não pesa neste aspecto”, disse
Villas Bôas.
Questionado sobre a posição do general de Exército Antônio Hamilton
Mourão, que afirmou que Bolsonaro “é um dos nossos”, Villas Bôas disse que “não
encampa” essa ideia. “Individualmente, como os militares e a família vão votar,
não tenho condições de avaliar qual é a tendência”, afirmou o comandante. Na
ocasião, Mourão afirmou: “O deputado Bolsonaro já é um homem testado, é um
político com 30 anos de estrada, conhece a política. E é um homem que não tem
telhado de vidro”.
A declaração do general Mourão foi dada em palestra em Brasília no fim
do ano passado, quando ele ainda estava no Comando Militar do Sul, de onde foi
afastado por suas declarações políticas, proibidas pelo regulamento militar.
Para oficiais ouvidos pela reportagem, um dos pontos a favor de
Bolsonaro como candidato à Presidência é o fato de ele não ser investigado em
casos de corrupção. Os militares demonstram, no entanto, preocupação com o
temperamento intempestivo do deputado federal e a filiação a um partido
pequeno.
Presidenciável
comparece a formaturas
Bolsonaro compareceu no ano passado a praticamente todas as cerimônias
de formaturas de escolas militares. Foi ovacionado em algumas ocasiões e é
requisitado para selfies com os formandos. Desde seu primeiro mandato, o
deputado já ouviu gritos de “líder, líder”, em uma formatura da Academia
Militar das Agulhas Negras, e de “mito, mito”, em uma escola de formação de
praças da Marinha.
Mais da
metade das emendas vai para Forças Armadas
Levantamento feito pelo Estadão/Broadcast mostra que o pré-candidato à
Presidência Jair Bolsonaro destinou 59,2% do total de suas emendas
parlamentares para atividades relacionadas às Forças Armadas. Dos R$ 76 milhões
indicados pelo deputado em emendas entre 2014 e 2017, R$ 45 milhões tiveram
essa destinação.
O deputado reservou recursos para Marinha, Exército e Aeronáutica. A
maior parte das rubricas orçamentárias foi para assistência médica e
odontológica de servidores e militares, unidades de saúde, compra de
equipamentos e ambulâncias, além da modernização de hospitais militares.
Quase todos os anos, ele garantiu verba para a Academia Militar das
Agulhas Negras, onde se formou, e à brigada paraquedista do Exército.
Procurado, o deputado não respondeu à reportagem.
O
Estado de São Paulo
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