Gerda Gericke
Em 9 de janeiro de 1905, uma petição
em tom desesperado era dirigida ao czar Nicolau 2º. A Rússia enfrentava uma
crise profunda, as pessoas passavam fome, todas as camadas da população estavam
insatisfeitas.
No dia 9
de janeiro de 1905, o czar Nicolau 2º recebeu uma petição em tom desesperado:
"Estamos em situação miserável, somos oprimidos, sobrecarregados com
excesso de trabalho, insultados, não nos reconhecem como seres humanos, somos
tratados como escravos. Para nós, chegou aquele momento terrível em que a morte
é melhor do que a continuidade do sofrimento insuportável".
O país
estava afundado numa enorme crise, as pessoas passavam fome, em todas as
classes da sociedade havia insatisfação. Os nobres não queriam aceitar a
industrialização da Rússia, por acreditar que isso os empobreceria. Os
camponeses sentiam-se oprimidos e enganados: apesar da abolição do regime
feudal em 1856, toda a terra continuava pertencendo exclusivamente aos nobres. E
não havia perspectiva de mudança.
De sua
parte, os intelectuais exigiam uma participação na vida política. O czar
Nicolau 2º, absolutista, ainda podia administrar e agir no seu imenso reino
como bem entendesse. Às vésperas da primeira revolução russa, o soberano ainda
não tomava conhecimento dos problemas dos trabalhadores, da fome, da miséria e
das arbitrariedades dos proprietários de fábricas.
Numa
situação tão tensa, um fato insignificante transformou-se, de repente, numa
catástrofe. Quatro operários da maior fábrica de São Petersburgo foram
demitidos, narra Jutta Petersdorf, historiadora do Instituto da Europa Oriental
na Universidade Livre de Berlim. "Eles foram demitidos porque exigiram a
punição de um feitor que era injusto e tratava mal os operários."
Início da revolta
Os
quatro revoltosos estavam dispostos a lutar. O protesto foi apoiado pelos
sindicatos fiéis ao regime, os chamados "sindicatos amarelos",
criados pelas autoridades estatais nas regiões industriais russas, no início do
século, para canalizar e controlar a crescente insatisfação popular. Tais
associações sindicais eram dirigidas e administradas pela polícia local. O
sindicato de São Petersburgo, que contava 11 mil filiados em janeiro de 1905,
tentou manter a paz social, procurando fazer com que o diretor da fábrica
anulasse a demissão dos quatro operários. Em vão. O industrial permaneceu
irredutível.
Em 2 de
janeiro, foi realizada uma assembleia do sindicato. Discutiu-se de maneira
extremamente emocional o que se podia fazer em tal situação. E surgiu então a
conclamação à greve. Pouco a pouco, mas de maneira inexorável, a situação
começava a fugir ao controle das autoridades estatais. Outras fábricas de São
Petersburgo aderiram à greve. Foi nesse clima de revolta que se decidiu a
realização da marcha de protesto do dia 9 de janeiro, que dirigiria uma petição
ao czar, reivindicando uma melhoria das condições de vida dos trabalhadores.
Marcha de protesto
Na manhã
gelada do domingo, 9 de janeiro, uma multidão de 100 mil pessoas dirigiu-se
então para a residência do czar, o Palácio de Inverno de São Petersburgo. A
residência estava protegida pelos militares, com o apoio da cavalaria dos
cossacos. Mas a multidão era pacífica. Não eram os aspectos revolucionários que
predominavam na marcha, mas sim os ícones de santos da Igreja Ortodoxa, os
estandartes eclesiásticos, as ladainhas rezadas. Por onde passava o cortejo,
nas ruas de São Petersburgo, as pessoas faziam o sinal da cruz, e muitas se
juntavam a ele.
Quando a
multidão aproximou-se do palácio, ouviram-se os primeiros disparos. Sobre o
massacre que se seguiu, existem divergências de interpretação. Algumas fontes
falam de um ato espontâneo e inconsequente. Jutta Petersdorf e muitos outros
historiadores acreditam, porém, que o banho de sangue foi premeditado.
Duzentas
pessoas foram assassinadas e cerca de 800 ficaram gravemente feridas. A
sangrenta repressão da marcha de protesto diante do palácio do czar em São
Petersburgo foi o ponto de partida para as rebeliões que se seguiram. Poucos
dias mais tarde, a população de Varsóvia – na época, administrada pela Rússia –
saiu às ruas para protestar. Novamente, o regime czarista mandou abrir fogo
contra os manifestantes.
Fim da primeira revolução russa
Mas o
povo, insatisfeito, não podia mais ser contido. Os protestos eclodiram em toda
a Rússia. Em outubro do turbulento ano de 1905, após uma greve geral, o czar
Nicolau 2º assinou um decreto conhecido como Manifesto de Outubro. Ele abriu
caminho para as primeiras eleições parlamentares livres. Isso marcou, ao mesmo
tempo, o fim da primeira revolução russa, que começara de maneira sangrenta em
São Petersburgo.
Segundo
Jutta Petersdorf, "por um lado, a classe política foi pacificada através
da formação de partidos e a possibilidade de concretizar eventualmente as suas
esperanças através do trabalho parlamentar. De outro lado estava o movimento
socialista, com a sua conclamação a uma rebelião armada, a qual fracassou então
estrondosamente".
DW-Deutsche Welle
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