Luiz
Carlos Azedo
O PT não
tem outro candidato competitivo para disputar a Presidência. “Vitimizar” Lula e
manter sua pré-candidatura enquanto for possível faz parte da estratégia de
sobrevivência eleitoral dos petistas
Toda estratégia tem fricção, não importam a sua natureza ou os
objetivos, porque as coisas nunca acontecem como foram planejadas. Por isso
mesmo, precisa ser sempre avaliada, corrigida, repensada, para redução de danos
e correção de rumos. Quando a estratégia é construída a partir de um conceito
errado, não tem a menor chance de dar certo, o desastre é completo. Foi o que
aconteceu com ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no julgamento de ontem,
pelo Tribunal Regional Federal da 4ª Região, em Porto Alegre, no qual sua
condenação a 9 anos e meio de prisão pelo juiz federal Sérgio Moro não somente
foi mantida, como ampliada para 12 anos e 1 mês.
Lula pressionou o tribunal e tentou desmoralizar o juiz federal Sérgio
Moro, da 13ª Vara Federal, com uma agressiva campanha de solidariedade e a
acusação de que o julgamento estava armado para favorecer uma fraude eleitoral.
Seria um julgamento político. Essa estratégia foi um fracasso total do ponto de
vista jurídico, porque os desembargadores da 8ª Turma rechaçaram o recurso que
pedia a anulação da sentença de Moro e ainda aumentaram a pena com base nas
provas que a defesa insistia em dizer que não existiam.
Foram votos duríssimos, principalmente o do presidente da Turma,
desembargador Leandro Paulsen: “O cometimento de crimes de corrupção por um
presidente ou ex-presidente em razão do cargo, além de constituir uma violação
seriíssima à ordem jurídica, torna vil o exercício de autoridade. Submeter a
conduta de um presidente ao crivo da censura penal torna presente o que bem
destacou o magistrado de primeira instância ao finalizar sua sentença: ‘Não
importa o quão alto você esteja, a lei ainda está acima de você’.” Ao contrário
do que argumentava a defesa de Lula, o julgamento foi essencialmente técnico.
Estava na cara que o tipo de mobilização e narrativa construída pelo PT não se
sobreporiam às provas dos autos.
Candidatura
O melhor resultado possível nas circunstâncias de uma condenação de
Lula seria uma votação na qual não houvesse unanimidade. Essa decisão poderia
dar à estratégia fracassada algum sentido, pois tornaria possível levar a
decisão para o pleno do tribunal, por meio de recursos infringentes, e empurrar
a decisão com a barriga, e criar condições mais favoráveis para registrar a
candidatura de Lula a presidente da República nas eleições de 2018. Nessas
circunstâncias, ele seria candidato sub judice, não haveria tempo para retirar
seu nome da célula e a decisão final poderia ficar para depois das eleições.
Isso daria eficácia à estratégia, mas não foi o que aconteceu.
Com a decisão unânime, a primeira consequência é o fato de Lula não
poder recorrer da sentença na própria Corte, poderá apenas protelar sua
execução com um embargo de declaração, obrigando os desembargadores a prestar
esclarecimentos sobre a sentença. Esse tipo de recurso tem eficácia limitada,
pode protelar a execução da sentença em até dois meses. Pela jurisprudência
vigente, Lula pode ser preso, mesmo que o processo não tenha transitado em
julgado, como já acontece com outros condenados da Operação Lava-Jato.
Dificilmente, porém, isso deve ocorrer; se acontecer, será por pouco tempo,
porque já há uma maioria no Supremo Tribunal Federal (STF) a favor da revisão
da súmula que determina a execução imediata da pena após julgamento em segunda
instância.
Entretanto, a condenação em segunda instância nos termos em que já
aconteceu — unanimidade na Turma — implica perda de direitos políticos por um
período de oito anos, com base na Lei da Ficha Limpa, que é explícita quanto a
isso, e não de jurisprudência, que pode ser alterada pelo STF. Nesse caso, sua
candidatura poderá ser impugnada a partir do pedido de registro, pelo Tribunal
Superior Eleitoral (TSE). Como essa Corte é mais sujeita às pressões políticas,
a estratégia de confronto e desqualificação da sentença condenatória adotada
pelo PT deverá ser mantida, agora para forçar uma decisão política na Justiça
Eleitoral, desconsiderando as provas. Não será a primeira vez.
Há um certo desespero em tudo isso, porque o PT não tem outro
candidato competitivo para disputar a Presidência. “Vitimizar” Lula e manter
sua pré-candidatura enquanto for possível faz parte da estratégia de
sobrevivência eleitoral dos petistas. De certa forma, a decisão de hoje
praticamente sepultou a possibilidade de Lula ser candidato, mas não afastou o
líder petista da disputa eleitoral. Caso não seja preso, mesmo inelegível,
poderá percorrer o país e fazer campanha para seu substituto na chapa, mesmo
que seja alguém sem grande prestígio nacional. Os petistas examinam dois nomes
possíveis, ambos muito ligados a Lula, o ex-prefeito de São Paulo Fernando
Hadad e o ex-governador da Bahia Jaques Wagner, que poderiam, inclusive, compor
uma dobradinha. Fala-se também no ex-governador do Paraná Roberto Requião
(PMDB-PR), mas ele teria que se filiar ao PT.
Correio
Braziliense
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