Augusto de Franco
(*)
Se o que
o Waack fez (ao dar uma declaração depreciativa sobre negros, num comentário
privado, feito fora do ar, gravado e divulgado por um militante petista) foi
racismo, segundo a lei
nº 12.288, de 20 de julho de 2010, que instituiu, no Brasil, o “Estatuto da
Igualdade Racial” – que já é um nome absurdo, pois não existem raças na espécie Homo
Sapiens – então que se proceda ao devido processo legal, com acusação,
direito de defesa e tudo mais – como é consagrado nas democracias. O que não
pode haver é julgamento e execução sumária, sem contraditório. E muito menos
linchamento público moral (com motivações claramente políticas) em razão de uma
observação privada.
A Globo
agiu em relação a Waack (talvez não por acaso) do mesmo modo como agiu quando
resolveu dar por verdade que, na gravação do presidente da República feita pelo
bandido Joesley em conluio com Janot, havia materialmente a fala de Temer
mandando o bandido da Friboi comprar o silêncio de Cunha (o que não está no
arquivo de áudio).
Por que
se pode afirmar que as motivações para o linchamento moral são políticas?
Porque as pessoas engajadas nessa patrulha do politicamente correto não se
mobilizaram quando Lula disse que Pelotas é
cidade-polo exportadora de veados, nem quando ele disse que as mulheres
do PT têm o grelo duro e, nem, ainda, quando os petistas chamaram o
Joaquim Barbosa de macaco. Crucificaram Waack porque ele não é de esquerda e
nem tão vulnerável (como a maioria dos seus colegas) à patrulha do politicamente
correto.
William
Waack já era um desafeto da esquerda há muito tempo. Odiavam-no não porque ele
apresentava o Jornal da Globo e sim em razão de
suas ideias e do programa Painel (onde autocratas de esquerda e de
direita não eram convidados). Ele já havia sido vítima de outras campanhas
difamatórias, uma delas dizendo que era colaborador
da CIA. Agora que a Globo – ao que tudo indica por orientação da sua
direção e com a ajuda dos jornalistas militantes petistas, progressistas e
covardes diante da patrulha ideológica da esquerda e dos jacobinos (e nenhum
deles veio até agora a público em defesa do colega, aceitando a lei do silêncio
imposta pela emissora) – está participando de uma armação hedionda para
derrubar um governo constitucional, William Waack tornou-se uma peça fora de
lugar. Ele sempre pareceu destoar dessa nova orientação da Globo, acatada
bovinamente por vários de seus colegas, a partir da decisão da emissora de
repetir mentiras para transformá-las em verdade.
Não se
pode afirmar que o comentário infeliz de Waack tenha a ver com um juízo geral
sobre a inferioridade de pessoas de cor negra. Foi um dito infeliz que
expressou um preconceito, mas um preconceito não é suficiente para caracterizar
racismo, que exige um conceito. Racistas são os que acreditam em raças
estruturando narrativas de separação a partir de diferenças (como cor de pele,
tipo de cabelo, conformação facial e cranial et coetera) que são
irrelevantes do ponto de vista genético. Portanto, não é apenas um preconceito
e sim um conceito, não-científico (como se sabe, não existem raças humanas do
ponto de vista biológico: na espécie Homo Sapiens a variabilidade
genética representa 3 a 5% da variabilidade total, nos sub-grupos continentais,
o que caracteriza ausência de diferenciação genética).
Preconceitos
fazem parte de culturas (nas quais todos nós estamos imersos) e o que é
aceito em uma cultura não é aceito em outra. Alguns indígenas no Brasil tiram o
maior sarro dos gays (não se sabe bem se são gays mesmo) que eventualmente
surgem nas tribos: embora não os hostilizem, fazem troça dos seus jeitos e
trejeitos. Mas isso, talvez, já seja influência da colonização.
Recém-publicado, apenas em inglês, na Suíça, o livro “Gay Indians in
Brazil: Untold stories of the colonization of indigenous sexualities” (“Índios
gays no Brasil: a história não contada sobre a colonização de sexualidades
indígenas”, em tradução livre) (Springer International Publishing, 2017) de
Estevão Fernandes e Bárbara Arisi, argumenta que a homossexualidade era comum e
bastante aceita entre os índios brasileiros antes da colonização.
Boa parte
das pessoas, até há pouco, repetia o dito popular, muito mais preconceituoso,
de que “preto quando não caga na entrada, caga na saída”. E isso era
aceito socialmente, como troça, ou seja, nunca levado tão a sério a não ser
pelos verdadeiros racistas.
De
qualquer modo, esses ditos populares, preconceituosos e discriminatórios, não
são humanizantes e por isso devem ser coibidos. Mas a cultura inibe tais
manifestações de um modo, digamos, sistêmico. A pessoa deixa de falar uma coisa
assim porque “sabe” que não é válido socialmente, não é legitimado pela
comunidade e não porque haja uma patrulha, um vigilante noturno (semelhante
aquele de que falava Rosa ao criticar a ideia de partido de Lenin) controlando
o comportamento do outro.
A
patrulha do politicamente correto é o problema, porque ela criasuperavits de
controle (reproduzindo a sociedade de controle) e porque ela ataca o problema
na sua manifestação individual, quando se trata de níveis de aceitabilidade (ou
inaceitabilidade) que são funções sociais. A questão é que o apedrejamento
individual do desviante é conforme a um modo de vida autocrático, não
democrático. Por exemplo, a infidelidade conjugal (ou o adultério) de mulheres
é desestimulada (na verdade barbaramente reprimida) pelo apedrejamento físico
em ditaduras islâmicas e isso é funcional para a reprodução daquele
modo-de-vida (autocrático).
Hudson C F
Freitas em comentário no Facebook (10/11/2017), mostrou por
que o politicamente correto é uma forma de controle:
“O
politicamente correto é a forma mais incrivelmente eficaz de censura e
controle! Torna as pessoas inimigas que passam a vigiar, fiscalizar, controlar,
denunciar e destruir os outros, e a ficar constantemente se vigiando e se
controlando, medindo milimetricamente tudo e cada palavra que irá dizer, com
medo permanente de também ser denunciado. E o politicamente correto faz assim,
age e pensa dessa forma, pois passa realmente a acreditar que isso é bom, que
isso é o moralmente correto, que todos devem se limitar a ter o mesmo padrão,
eternamente cinza e neutro, de linguagem, pensamento e comportamento”.
De um
ponto de vista psicológico, cabe registar que a indignação das pessoas é, em
geral, com sua própria sombra (projetada no outro). A pessoa mais indignada,
enraivecida diante do ato violador da norma imposta, que deve ser
compulsoriamente aceita sob pena de linchamento (físico ou moral), é aquela que
sabe que poderia fazer a mesma coisa ou coisa semelhante da que fez o acusado.
O acusador, o punitivista, o linchador, é aquele que não aceita a sua própria
sombra, sobretudo quando a vê no outro (o que deve ser excruciante para quem se
recusa a vê-la em si mesmo).
O
acusador do desvio alheio sabe que já contou, em privado, muita piada de
português, de argentino, de negro, de judeu, de mulher, de gay – que são,
todas, preconceituosas. Quem nunca contou? E não por causa disso a pessoa que
contou essas piadas pode ser caracterizada como nacionalista (xenófoba),
racista, machista ou homofóbica.
Ou
seja, apenas a expressão de preconceito não caracteriza racismo. É
necessário um CONCEITO (não científico) de raça como base de uma narrativa
estruturada de separação a partir de diferenças que são irrelevantes do ponto
de vista genético.
Dagobah
Dagobah
(*) Comentário do editor do
blog-MBF: o denuncismo é uma prática
abjeta desenvolvida na Rússia stalinista (URSS). Filhos denunciando pais, etc. Agora,
tudo que o esquerdismo considerar como politicamente correto, quando está no
Poder, e conseguir transformar em Lei, passa a ter mais força para cercear a
liberdade de expressão, do que todas Leis editadas até então. 1984 de George Orwell.
Vão conseguir nos transformar em
manada obediente ao Estado. Estamos chegando lá.
E tudo porque uma organização de
políticos criminosos – PMDB – não pode ficar longe da chave do cofre. Se Stalin
revivesse e tivesse alguma chance de ganhar uma eleição no Brasil, lá estaria o
PMDB apoiando-o para poder indicar o Vice.
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