Fernão Lara Mesquita
O que
esmaga é a consciência do desperdício que essa tragédia é. Não ha duvidas
transcendentais em debate, ninguem que precise ser convencido do que quer que
seja. Não fazer é morte certa. Todas as contas estão feitas. Todas as respostas
estão dadas, todos os remédios são conhecidos. Nós não os tomamos por
deliberação soberana de quem manda no Brasil. Nada está oculto. Tudo é sexo
explícito. Tudo é imposição e força. Ver quem faz barulho mais alto.
O mundo
que domesticou seus políticos, que lhes tira os mandatos com mais facilidade
que os põe, que premia o esforço para exorcizar o privilégio despede-se da
pré-história da humanidade com carências materiais na velocidade da
inteligência artificial. Nós damos marcha-a-ré na necessidade para que a casta
que nos dita as leis que criminalizam como “desacato” qualquer cobrança que
ousemos dirigir-lhe não se tenha de abalançar da eterna imunidade às crises que
fabrica.
Em um
século a partir de 1950 a população global terá crescido 3,7 xs. A de 60 anos
para cima, 10 xs. A de 80 anos e mais 27 xs. Mas nós nos deparamos com esse
salto da humanidade ainda cavalgados pelo modelo de opressão que a democracia
pos fora da lei pelo mundo afora. O mais acabado retrato dele aparece nas
contas da previdência. Um milhão de funcionarios da União, todos eles na faixa
dos 1% mais ricos do país, e entre esses os juizes e os promotores, campeões
dos campeões, na faixa dos 0,1% mais ricos do país (Ipea), geraram um deficit
nas contas da previdência (R$ 90,7 bi) maior que o da soma dos 33 milhões de
plebeus aposentados do setor privado (R$ 85 bi) em 2016. Quase 60% da metade do
PIB de que o estado se apropria vai para os funcionários aposentados e não
basta. Outros 12% pagam os que ainda nos “prestam serviços”. Um cálculo baseado
no mesmo critério do Indice Gini, que mede as desigualdades de renda e
qualidade de vida de um determinado grupo (quanto mais próximo de 1 mais
desigual) é terminativo. O indice geral de desigualdade do Brasil é de 0,563
pontos e o do universo inteiro de aposentados privados de 0,474 (na
aposentadoria somos igualados na pobreza). Mas o do universo dos funcionários
públicos aposentados é de 0,822.
Isto
quer dizer matemática e resumidamente o seguinte: dentro daquela minoria do
milhão de aposentados do setor público que pesam mais que os 33 milhões de
aposentados do setor privado somados, uma minoria ainda mais ínfima
distancia-se dos demais numa proporção que, se ja é obscena comparada à de seus
pares, é abissal quando posta ao lado da dos miseráveis cá de fora.
Automatizando a multiplicação de despesas pelos expedientes de “petrificar”
novos “direitos aquiridos” auto-atribuídos numa sequência sem fim, de desdobrar
salários tributaveis numa infinidade de “auxílios” não tributaveis anualmente
“corrigidos” por índices maiores que a inflação, de estender tudo isso para
funcionários ativos e inativos mas deixando sempre aberta a cova rasa que nos
cabe no latifundio do orçamento público aos “ajustes” que cada golpe desses
matematicamente implica; foi assim que o Brasil foi sendo empurrado para o
presente quadro de desastre nacional. Entre 2014 e 2016, os dois anos mais sufocantes
da história da miséria brasileira, essa corte confiscou ao favelão nacional
mais R$ 8,8 bilhões em “cortes de despesas dos estados” com educação, saude e
segurança publica enquanto embolsava R$ 8,6 bilhões em aumentos automáticos
“imexíveis” de proventos variados. Uma coisa pela outra. Na União e nos
municípios foi ainda pior.
Agora é
rever essa divisão ou morrer. E como não existe argumento capaz de deixar a
menor dúvida sobre quem tem o que entregar e quem tem o que receber, a saida
dos devedores foi reduzir o debate político a essa gritaria que ele virou.
Literalmente na véspera de ser aprovada no Congresso a primeira reforma a tocar
de leve os “direitos adquiridos” da privilegiatura emerge do Ministério Publico
do dr. Janot a gravação que, hoje está provado, apagou a ultima fronteira entre
“mocinhos” e “bandidos” do faroeste brasileiro, para enterrar, junto com a
reforma da previdência, o mais eletrizante capitulo da Lava Jato que acabara de
ser aberto – o da Operação Greenfield que revelaria ao país, daqui até à
eleição do tudo ou nada de 2018, como foi que, muito além dos “pequenos furtos”
dos tempos em que ainda era preciso fazer uma obra publica ou comprar uma
plataforma de petróleo para roubar o Brasil, o lulismo fez da familia Batista e
mais meia duzia de genocidas e párias do mundo civilizado sócios dos Fundos de
Pensão das estatais, primeiro, e do BNDES, do Banco do Brasil e do Tesouro
Nacional, depois, para montar uma lavanderia já devidamente abarrotada para
lavar dinheiro sujo espalhada por 30 países do mundo.
Por
maiores que sejam as culpas no passado do presidente provisório, trocar a
Operação Greenfield e o futuro do Brasil por elas não é só um péssimo negócio,
é um negócio leonino. O jogo que corre, de ocultar ou expor pedaços do banco de
grampos do rei dos bandidos é a descrição do fulcro da doença e não o caminho
da cura. O último sinal de saúde no ar é, aliás, o pouco que tal expediente
engana a esta altura. Mas a impotência do brasileiro como cidadão faz dessa
clareza prostração ... ou esse mergulho no nada que são os nossos 62 mil
trucidados a bala por ano e subindo.
Toda
essa carnificina é um trágico desperdício. É inadmissivelmente anacrônico
fazer-se pobre desse tanto e absurdamente estúpido morrer pelo nada por que se
mata aqui. Quem tem vivido do sistema de exploração que custa esse preço é o
que é, não tem remissão. Mas é sobre a cabeça de todos quantos sabem que é
disso que se trata e não o dizem; é sobre a cabeça de todos quantos fingem que
esse é um problema “do governo Temer” e não um problema do Brasil; é sobre a
cabeça de quem tem o poder de fazer isso cessar e não faz que recairá o sangue
todo que vai custar darmos mais uma volta nesse circulo infernal, mesmo sabendo
todos qual é a única saída que existe.
VESPEIRO
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