Paulo Diniz
A crise
na Venezuela, desastre humanitário que agora se aproxima de um desfecho
militar, teve origem no descontrole dos gastos públicos durante o período de
alta nos preços do petróleo e foi agravada pela desordenada expansão do Estado
para controlar a economia. Esse receituário, que resulta da adoção pelo regime
venezuelano de ideais alegadamente socialistas, foi o mesmo roteiro que levou à
ruína países europeus que praticaram o chamado “socialismo real” até o final
dos anos 1980. Essa tradicional cartilha socialista, preocupada em distribuir
riqueza, falhava por não ensinar como produzi-la.
Mesmo
que nem todo movimento de controle estatal da economia traga uma carga
ideológica, é exatamente por esse viés que a crise venezuelana tem sido
colocada em evidência. O colapso do regime bolivariano tem sido apresentado
como uma vitrine do futuro que esperava o Brasil caso prosseguissem os governos
petistas. Entretanto, vale lembrar que há mais de um caminho para se chegar ao
fundo do poço, e a ilha caribenha de Porto Rico tem potencial para se tornar
uma versão capitalista da tragédia venezuelana.
Sendo
oficialmente um “Estado associado” aos Estados Unidos, Porto Rico preservou
para si atributos de um país independente, ao mesmo tempo em que manteve laços
íntimos com a nação ianque: por exemplo, os porto-riquenhos são cidadãos
norte-americanos, utilizam o dólar como moeda e não possuem forças armadas. O
curioso estatuto legal desse país foi considerado por seus habitantes, durante
décadas, uma vantagem estratégica em relação aos países vizinhos e aos próprios
Estados que compõem os EUA. Dessa forma, fazendo uso da peculiaridade legal de
Porto Rico, foram concedidos benefícios fiscais para a atração de indústrias a
partir da década de 70, isenções de impostos para quem comprasse títulos da
dívida porto-riquenha dos anos 90 em diante, e na década seguinte foram
aprovadas novas exceções de impostos com o objetivo de transformar a ilha no
novo endereço dos ricos e famosos dos EUA.
Todas
essas medidas de estímulo à economia buscavam potencializar o efeito de forças
já existentes no mercado. Por exemplo, os compradores de títulos da dívida
porto-riquenha tinham a garantia, na Constituição desse país, de que receberiam
seu pagamento mesmo que o governo não conseguisse custear serviços básicos à
população. Assim, a incerteza do investidor era um problema maior do que o
bem-estar do povo para o governo da ilha.
Voluntariamente submetida às demandas do capitalismo liberal, hoje Porto Rico possui uma dívida de US$ 78 bilhões, tem baixa capacidade de arrecadação de impostos e enfrenta constante perda de indústrias para países asiáticos. Por não se tratar de um Estado norte-americano, a ilha não pode decretar falência e pedir apoio federal e, por isso, tem fechado escolas e hospitais para reunir recursos e custear suas dívidas.
Os chamados “fundos abutres”, que lucram a partir da cobrança judicial de títulos de nações falidas, já controlam cerca de 30% dos papéis porto-riquenhos e arrastam o futuro da ilha para os tribunais dos EUA. Enquanto isso, dezenas de milhares de pessoas deixam o país a cada ano, incluindo uma média de um médico por dia, e 45% da população vive abaixo da linha de pobreza.
Assim, vê-se que não existe ideologia capaz de salvar os países de suas próprias condutas equivocadas: Venezuela e Porto Rico se equivalem no descaso de seus governos com o povo.
Voluntariamente submetida às demandas do capitalismo liberal, hoje Porto Rico possui uma dívida de US$ 78 bilhões, tem baixa capacidade de arrecadação de impostos e enfrenta constante perda de indústrias para países asiáticos. Por não se tratar de um Estado norte-americano, a ilha não pode decretar falência e pedir apoio federal e, por isso, tem fechado escolas e hospitais para reunir recursos e custear suas dívidas.
Os chamados “fundos abutres”, que lucram a partir da cobrança judicial de títulos de nações falidas, já controlam cerca de 30% dos papéis porto-riquenhos e arrastam o futuro da ilha para os tribunais dos EUA. Enquanto isso, dezenas de milhares de pessoas deixam o país a cada ano, incluindo uma média de um médico por dia, e 45% da população vive abaixo da linha de pobreza.
Assim, vê-se que não existe ideologia capaz de salvar os países de suas próprias condutas equivocadas: Venezuela e Porto Rico se equivalem no descaso de seus governos com o povo.
Jornal O
Tempo
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