AFP
Após fracasso em negociações para
formar governo, chanceler federal busca ex-aliados
BERLIM - Horas após a chanceler federal Angela Merkel fracassar nas negociações para formar seu quarto governo, ela escapou do maior receio: de ter o Parlamento dissolvido e novas eleições, convocadas. Enquanto ouve o rechaço dos ex-aliados do Partido Social-Democrata (SPD) para formar o governo, Merkel ganhou um voto de confiança: o presidente Frank-Walter Steinmeier decidiu dar mais tempo a ela para tentar garantir uma ampla coalizão que lhe dê um governo estável, apelando a outros partidos para que se disponham a negociar.
— A
missão ainda está nas mãos dos partidos: não se pode simplesmente devolvê-la
aos eleitores — afirmou Steinmeier após encontrar-se com Merkel. — Todos os
partidos políticos têm uma obrigação de interesse comum de servir ao país.
Espero de todos a prontidã para conversar e fazer possível um acordo de governo
num futuro próximo.
Ex-presidente
do Parlamento Europeu e líder do SPD, Martin Schulz disse nesta segunda-feira
que seu partido não estava disponível para novas negociações e que "não
tem medo de novas eleições". Ele afirmara não ter sido contatado ainda por
Merkel.
— Nesta
situação, o soberano, que são os eleitores, deve abordar diretamente a
situação.
Merkel
começou já a buscar uma saída para a crise na Alemanha, depois de não conseguir
formar um governo, um terremoto político que pode levar à realização de novas
eleições legislativas e ao fim de seu mandato de chanceler. Desde a fundação da
República Federal da Alemanha em 1949, este cenário jamais aconteceu: o país
não tem uma maioria para ser governado. Nesta madrugada, depois de um mês de
procrastinação e negociações, os conservadores de Merkel (CDU-CSU), os liberais
(FDP) e os ambientalistas não conseguiram formar um governo de coalizão.
Na
ausência de uma alternativa, a maior potência econômica europeia se prepara
para semanas ou meses de paralisia, tanto a nível nacional quanto europeu. De
fato, no atual estado, eleições antecipadas parecem ser a solução mais
provável, uma vez que Merkel excluiu um governo minoritário e seus antigos
aliados social-democratas recusaram qualquer coalizão sob o comando da
chanceler. Os alemães podem ter que retornar às urnas no início de 2018, quando
acabaram de eleger no final de setembro seus deputados.
Merkel
recebeu apoio da liderança de seu partido, em conferência telefônica nesta
segunda-feira. Armin Laschet, vice-presidente do CDU e ministro-presidente da
Renânia do Norte-Vestfália, disse a jornalistas que os principais membrs do
partido de Merkel expressaram forte suporte à líder, apesar do colapso das
negociações.
— Não é
do nosso interesse que o processo (alemão) se congele — disse o presidente
francês, Emmanuel Macron, após conversar com Merkel.
Método Merkel chegou ao fim
No poder
desde 2005, venceu as eleições legislativas de setembro, mas com o pior
resultado desde 1949 para o seu partido conservador, que perdeu muitos votos em
benefício do partido de extrema direita AfD, impulsionado pelo crescente
descontentamento com o chegada de mais de um milhão de imigrantes em 2015-2016.
Agora
que Merkel não conseguiu formar um governo, seu futuro político parece cada vez
mais incerto. Especialmente porque sua ala centrista é contestada dentro de sua
família política conservadora. O terremoto político é tal, em um país
acostumado com negociações e compromissos políticos, que a revista de
referência Der Spiegel escreveu em seu site que a Alemanha enfrenta seu "momento
Brexit, seu momento (Donald) Trump".
São
muitos os comentaristas, veículos de imprensa e cientistas políticos que
preveem o "fim" da chanceler.
"É
seu fracasso. Mostra que o método de Merkel - pragmatismo sem limites e uma
flexibilidade ideológica máxima - chegou ao fim", aponta o Spiegel.
Mas, no
caso de eleições antecipadas, não há garantias de que o novo resultado seja
diferente do anterior.
O
crescimento do AfD e sua entrada na Câmara dos Deputados levou à fragmentação
da paisagem política e deu ao país uma Assembleia legislativa sem maioria
evidente.
Este
partido concentra seu programa num discurso anti-imigrantes, anti-islã e
anti-Merkel.
Debate migratório
Por
conseguinte, poderia capitalizar o fracasso da chanceler, especialmente porque
foram a questão migratória e as consequências da generosa política de recepção
de requerentes de asilo de Angela Merkel que fizeram fracassar as negociações.
As
partes não chegaram a um acordo sobre um limite máximo do número de requerentes
de asilo, nem sobre a questão de saber se todos ou apenas alguns dos refugiados
deveriam ter direito ao reagrupamento familiar na Alemanha.
Os
conservadores e os liberais querem conter absolutamente as chegadas, enquanto
os Verdes desejam uma política mais generosa.
Esta
manhã, os liberais, que abandonaram as discussões durante a noite, atraíam
grande parte das críticas, com alguns políticos e editorialistas acusando-os de
derrubar as negociações para fins eleitorais.
O
ambientalista Reinhard Bütikofer até acusou Christian Lindner, líder do FDP, de
"agitação populista". A pessoa em questão assegurou, por sua vez, que
simplesmente as ideias e posições estavam muito distantes.
A
situação na Alemanha também é uma má notícia para os parceiros europeus da
Alemanha, especialmente a França, cujo presidente Emmanuel Macron apresentou em
setembro propostas para o ressurgimento da União Europeia e da zona do euro.
A moeda
comum também caía nos mercados asiáticos, enquanto na Bolsa de Valores de
Frankfurt, o índice Dax abriu em queda de 0,47%.
O Globo
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