sábado, 4 de novembro de 2017

Análise: Cerco se fecha em torno de Cristina Kirchner

JANAÍNA FIGUEIREDO
(*)

Investigações sobre corrupção tornam prisão de ex-presidente mais provável

BUENOS AIRES — Primeiro foi a detenção do ex-ministro do Planejamento de todos os governos Kirchner, o engenheiro Julio De Vido, semana passada, acusado de corrupção. Nesta sexta-feira chegou a vez do ex-vice presidente de Cristina Kirchner, o polêmico Amado Boudou, denunciado por enriquecimento ilícito. O cerco está se fechando cada vez mais e na Argentina uma pergunta se impôs: a Justiça irá até as últimas consequências nas investigações sobre a corrupção durante o kirchnerismo (2003-2015) e ordenará, até mesmo, a prisão de Cristina?

Muitos acreditam que sim e lembram que os tribunais portenhos já se atreveram a prender um ex-presidente, Carlos Menem (1989-1999), pouco depois de sua saída do poder. Menem esteve seis meses sob regime de prisão domiciliar, por seu envolvimento no caso sobre contrabando de armas para a Croácia e o Equador.

O fato de Cristina ter sido eleita senadora, nas legislativas de 22 de outubro passado, não seria um obstáculo (a ex-presidente será empossada no próximo mês de dezembro). De Vido é deputado e o Congresso votou a favor da suspensão de sua imunidade. No caso do ex-ministro o resultado da votação foi esmagador já que nem mesmo os congressistas kirchneristas o protegeram. Se o Congresso tentar avançar contra Cristina o mais provável é que seus parlamentares mais próximos tentem salvá-la, mas seus votos são insuficientes para garantir o fracasso de uma eventual iniciativa parlamentar.

O cenário de uma Cristina presa não é, portanto, inimaginável. Cada vez se torna mais provável, segundo analistas locais. Muitos opinam que não seria a melhor situação para o presidente Mauricio Macri, já que ter a ex-presidente como adversária é o melhor dos mundos. Cristina tem um altíssimo índice de rejeição e suas limitações eleitorais ficaram claras nas recentes eleições legislativas (a ex-presidente foi derrotada na província de Buenos Aires). Por outro lado, sem Cristina o peronismo ficará mais livre para se reorganizar e tentar armar uma alternativa de poder ao macrismo.
Nesta sexta, ex-aliados da ex-presidente pediram publicamente que ela defenda seus ex-funcionários. Que faça alguma coisa para impedir que a Justiça continue prendendo kirchneristas. Por enquanto, Cristina não parece disposta a defender ninguém a não ser a ela mesma.

Associação ilícita
A ex-presidente foi acusada de ter favorecido em concessões de obras públicas a empresa Austral Construções, de Lázaro Báez, sócio da família Kirchner, preso desde abril de 2016. Cristina e Báez, entre outros, já foram processados pelo juiz Julián Ercolini. O magistrado embargou US$ 625 milhões da ex-presidente.

O Globo                       

(*) Comentário do editor do blog-MBF:  como pode uma pessoa que sempre se dedicou a política, ter um patrimônio – a parte bloqueada – de US$ 625 milhões ? É muito dinheiro !!!

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