Zeina Latif
Ciclos econômicos tão acentuados e
curtos revelam uma sociedade imatura
A crise
sem precedentes para a qual o Brasil foi arrastado não foi obra individual. Foi
construída a várias mãos. Ainda que o governo anterior seja o maior culpado, a
responsabilidade é coletiva.
Houve
conivência dos aliados e omissão da oposição. O setor privado aproveitou para
obter ganhos privados em detrimento de responsabilidade fiscal e de uma agenda
progressista de redução do custo Brasil. As instituições públicas não cumpriram
seu papel de alerta e controle, e, em alguns casos, ampliaram seus privilégios,
se valendo de sua autonomia administrativa e financeira. Organizações da
sociedade civil, imprensa e academia também falharam.
A
intensidade da crise, que foi causada por nossas escolhas e não por choques
inesperados ou guerras, revela uma sociedade que tem muito a avançar em termos
de maturidade democrática e civilidade. Sociedades civilizadas “organizam-se
para proporcionar a todos crescente igualdade de oportunidades”, como ensina
Delfim Netto.
O
fracasso do País acirra os ânimos. É compreensível o discurso mais estridente
dos jovens. Nós erramos com eles. A crise ceifa oportunidades e gera falta de
perspectivas, um veneno que arrasta os jovens para a criminalidade e gravidez
precoce.
O
momento é de responsabilidade e busca de soluções. Felizmente, importantes
avanços têm sido feitos, num caminho que será longo ou mesmo incompleto se não
houver o esforço de todos.
Empresários
e organizações da sociedade civil precisarão abrir mão de subsídios e
incentivos indevidos e ineficientes. A criação da TLP foi um importante passo.
Precisamos rever (não necessariamente eliminar, mas reformular) renúncias
tributárias e subsídios que consomem 6% do PIB só em nível federal. A extensa
lista vai de Lei Rouanet ao Simples.
Servidores
públicos e a classe política terão de aceitar ajustes, principalmente a elite
beneficiada com penduricalhos e aposentadorias generosas. Será necessário
meritocracia no serviço público como condição de permanência e ascensão na
carreira.
O topo
da pirâmide social precisará renunciar às vantagens tributárias,
previdenciárias e nos gastos públicos, como a “pejotinha”, aposentadoria por
tempo de contribuição e universidade pública gratuita.
Os
investidores, que se ajustam a um ambiente de juros mais baixos, terão de
aceitar a elevação na tributação de aplicações financeiras que não são
direcionados para financiar investimentos produtivos.
Precisaria
sobrar recursos para infraestrutura, pesquisa e inovação. Institutos de
pesquisa reclamam do governo. Deveriam apoiar as reformas e cobrar daqueles que
são refratários a elas.
Posturas
defensivas, apontando que a culpa é do outro, serão sinal de imaturidade do
País. Se cada um se agarrar aos seus supostos direitos, que podem estar
previstos em lei, mas são injustos, todos daremos um grande abraço de afogado.
Há
razões para acreditar que as sociedades evoluem e, muitas vezes, aprendem com
seus erros.
Daron
Acemoglu e outros em 2015 apontaram para o fato de que transições para a
democracia foram, em geral, precedidas por contração econômica, o que sugere
que as sociedades reagem ao desastre e evoluem.
Um
exemplo é a intolerância dos brasileiros à inflação alta, tendo em vista o
trauma vivido até o Plano Real. Os jovens não viveram o período inflacionário,
mas protestaram contra o aumento de tarifas de ônibus em 2013. Sem saber,
protestavam contra a inflação alta. Inflação civilizada tornou-se um valor de
nossa sociedade.
Os
autores acima encontraram evidências empíricas de que a democracia impulsiona o
crescimento de longo prazo. Desde a democratização em 1985, as instituições
democráticas evoluíram, os gastos sociais subiram e a desigualdade caiu. Mas
continuamos repetindo erros do passado e crescemos pouco. Ciclos econômicos tão
acentuados e curtos revelam uma sociedade imatura que ainda não sabe muito bem
como promover o bem coletivo.
Precisamos
entrar logo na fase adulta. Adolescentes trintões não dá, não é mesmo?
O Estado de S.Paulo
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