sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Deputados angolanos ficam sem carros de luxo

JAVIER MARTÍN DEL BARRIO

Novo Governo demite filhos de antecessor que tinham cargos públicos, e o Parlamento aperta o cinto

Há lufadas de ar fresco em Angola após os 38 anos de mandato de Eduardo dos Santos. Seu sucessor, João Lourenço, deu para ser contestador. Demitiu alguns filhos de Dos Santos que viviam de cargos públicos, substituiu os chefes das Forças Armadas, da polícia, da Justiça e dos hospitais, e nada lhe aconteceu.

Os novos ares do Governo angolano também chegaram ao Parlamento. Antes das eleições de agosto, o presidente da Câmara havia aprovado uma verba equivalente a quase 270 milhões de reais para a compra um carro de luxo para cada deputado. O modelo escolhido foi o Lexus 570, diferentemente de outras legislaturas, quando optou-se pela marca BMW.

Em setembro, os novos deputados tomaram posse, e o presidente do Parlamento decidiu paralisar a compra dos veículos destinados aos 220 parlamentares. A crise que assola o país desde 2015, período em que o preço do petróleo — 95% de suas exportações — caiu pela metade, afeta diretamente a população mais pobre; diante disso, alguém considerou que não seria boa ideia passear com um Lexus pelas ruas da Luanda, muitas das quais nem sequer são asfaltadas.

É verdade que os deputados já há mais de um ano deixaram de receber diárias por viagens e subvenções para gastos com gasolina e celular; mas a compra dos Lexus, ainda assim, parecia excessiva, e vários deputados argumentaram que seria mais útil terem um carro menos ostentoso, e sobretudo um veículo 4 x 4, capaz de transitar pelas precárias estradas do país, a maioria de terra.

Na nova licitação tampouco serão contemplados os modelos híbridos, entre outras coisas porque a eletricidade não é um serviço muito comum no país, nem sequer nos bairros mais luxuosos da capital. E também é preciso considerar a refrigeração dos carros, pois tampouco o serviço de água encanada está garantido em todos os bairros da capital.

O presidente Lourenço prometeu acabar com os monopólios e melhorar a vida dos angolanos, a maioria dos quais nunca recebeu um só benefício do abundante manancial petrolífero nacional. A inflação atinge 35% por ano, e, embora a capital seja uma das cidades mais caras do mundo, onde uma simples Coca-Cola é artigo de luxo (vale mais de 35 reais), seus cidadãos sobrevivem em média com menos de dois dólares diários. Um país rico, de 25 milhões de habitantes, dos quais 20 milhões são pobres.

EL PAÍS

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