Tássia Kastner
Alternativa foi a encontrada para
driblar embargo econômico imposto pelos EUA em 1960 e que segue vigente
Criadas
em Cuba, produzidas na Nicarágua e com estampas impressas nos Estados Unidos.
Assim são feitas as camisetas vendidas pelo primeiro e-commerce de roupas de
Cuba. A loja on-line clandestina.coentrou
no ar na última quinta (26) e promete entregar as peças no mundo todo.
“Sempre
quisemos fazer uma marca global, mas tendo Cuba como o centro de tudo o que
produzimos”, diz a cubana Idania del Rio, 35, que criou a empresa em 2015 e
hoje emprega 20 pessoas. Ela conta que desde o começo pesquisava como
vender pela internet a partir da ilha, que tem conexão limitada e cara para os
cubanos.
Quando
esta repórter esteve em Cuba, em abril, o cartão pré-pago de internet saía US$
3 (R$ 10) e dava direito a uma hora de conexão em pontos públicos de wi-fi. O
salário médio de um cubano que trabalha para o Estado era cerca de US$ 30 em
2016.
Como a Apple
O site
da Clandestina é hospedado nos EUA, e um sócio americano é responsável por
imprimir as estampas criadas por Idania e pelas entregas. Enquanto os iPhones
são criados nos EUA e montados em outros países, essas camisetas cubanas também
são desenvolvidas em Havana, mas produzidas fora.
Para a
Clandestina, não foi uma escolha pelo menor custo, mas a alternativa encontrada
para driblar o embargo econômico imposto pelos EUA em 1960 e que segue vigente.
Após um movimento de aproximação do ex-presidente Barack Obama, não há sinais
de que as restrições serão afrouxadas sob o governo de Donald Trump.
A
burocracia do governo cubano para exportação também é um entrave, afirma.
Se o
projeto vingar, Idania diz que quer abri-lo para que mais cubanos possam vender
seus trabalhos pela internet: “Em Cuba, há muita criatividade e muita coisa por
fazer”.
Mas,
para que essas iniciativas tenham sucesso, cubanos precisam trocar experiências
com quem já está empreendendo há mais tempo em outros países, afirma. Ela
atribui parte de sua capacidade de lançar o e-commerce aos dois anos que viveu
no Uruguai e à troca de experiências em viagens aos EUA e à Europa.
Off-line
Até esta
quinta (26), a Clandestina era apenas uma loja física na turística Havana
Vieja. Lá são vendidas roupas, ecobags, souvenirs, tudo voltado ao público
moderninho.
A
Clandestina recicla roupas que seriam descartadas com novos cortes e estampas e
vende como “vintrash”. Essas peças formam as coleções da marca, com desfiles de
moda, e ilustram como os cubanos contornam a escassez de matéria-prima no país.
Produzidas na ilha, não estão à venda na internet.
Entre as
seis camisetas disponíveis para quem não tem passagem para Havana, há
inspirações irônicas de camisetas de viagem e referências à vida off-line na
ilha. O dinossauro que aparece no navegador Google Chrome quando não há conexão
à internet é recorrente.
As
camisetas custam US$ 28 e, para o Brasil, o frete foi cotado em US$ 15,
totalizando cerca de R$ 150. Para cubanos, a camiseta e o frete saem pelo mesmo
preço - mais o custo de acessar a internet na ilha, claro.
Gazeta do Povo
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