Editorial
Até mesmo governos populistas estão
fazendo reformas para retomar crescimento, após o fracasso das experiências dos
regimes de esquerda na região
A
experiência no campo econômico iniciada com os governos de esquerda ao longo da
década de 2000 na América Latina revelou-se tão utópica como fantasiosa. A
invocação de nomes de líderes históricos, como Bolívar e outros heróis
libertadores, não foi suficiente para impedir que a realidade fria das leis
econômicas se impusesse sobre os atalhos perigosos adotados por regimes
populistas, como o lulopetismo brasileiro e as iniciativas bolivarianas de Hugo
Chávez, na Venezuela; Evo Morales, na Bolívia; e Rafael Correa, no Equador,
além do arremedo peronista do casal Kirchner, na Argentina.
Estes
governos flertaram com o autoritarismo tipicamente populista, extasiados com a
idolatria em torno de seus líderes, apoiados numa retórica de redução da
desigualdade. De fato, mediante uma conjuntura excepcionalmente favorável no
período, sobretudo no que se refere aos preços de commodities no mercado
internacional, o populismo de centro-esquerda teve acesso aos recursos
necessários para financiar sua revolução socioeconômica.
Porém, à
proporção que chovia dinheiro, crescia também a inconsequência perdulária, os
sonhos de grandeza que evocavam os tempos do “milagre econômico” do regime
militar brasileiro. Da mesma forma, disseminavam-se esquemas de propinas e
corrupção, formando uma tripla bolha econômica, política e moral.
Quando
esta estourou, provocada pela crise financeira global de 2008, estes países
tiveram que se adaptar a uma realidade bastante distinta. Em alguns casos, como
na Venezuela, a crise tomou proporções catastróficas, com hiperinflação,
desestruturação do abastecimento de bens de primeira necessidade, aumento da
violência e um regime brutalmente ditatorial.
Outras
nações, como a Bolívia, inteligentemente adotaram algumas medidas da cartilha
“neoliberal”. O mesmo caminho foi adotado no Equador pelo sucessor de Correa,
Lenin Moreno, acompanhado igualmente de maior abertura política, o que lhe
valeu duras críticas do antecessor. Na Argentina, Mauricio Macri amargou um
primeiro ano de ajuste, mas já começou a colher os frutos do sacrifício,
necessário após a farra kirchnerista.
Por
outro lado, os países que mantiveram uma política econômica equilibrada e
sustentável, como Chile, Colômbia e Peru, hoje se beneficiam de um crescimento
saudável.
O caso
brasileiro é complexo, devido à crise política. Mas os avanços que a equipe
econômica conseguiu obter até aqui já levaram o FMI a rever a projeção de
crescimento de 2017 e 2018: respectivamente, de 0,3% para 0,7%; e de 1,3% para
1,5%, devido à melhora da demanda interna e externa, à medida que a economia do
país se regenera. Mas esta expansão depende da continuidade e do avanço das
reformas ainda este ano, do contrário o país corre o risco de manter-se no
limbo de um crescimento pífio.
O Globo
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