Rodrigo Constantino
Assunto cada vez mais atual
Fui
convidado uma vez mais como palestrante do Fórum da Liberdade, que será realizado segunda e terça que vem em Porto
Alegre. Meu painel será sobre educação: quais propostas temos a apresentar para
um avanço da qualidade da educação em nosso país?
O tema é
de total importância. Afinal, dez de cada dez especialistas apontam a educação
como solução para os males nacionais. A questão que surge, automaticamente,
é: qual educação? Simplesmente jogar mais recursos públicos no setor,
com este modelo atual, não resolve absolutamente nada; ao contrário: pode
aprofundar o problema.
Não vejo
como falar em educação hoje sem falar na doutrinação ideológica que tomou conta
de nossas escolas e universidades. A luta, portanto, é cultural acima de tudo.
E não se trata de um fenômeno apenas nacional, mas sim mundial, que assola
inclusive os países desenvolvidos.
Um livro
que serve como importante alerta a esse perigo é Maquiavel
Pedagogo, do
francês Pascal Bernardin. O autor afirma, sem rodeios e logo na introdução:
Uma
revolução pedagógica baseada nos resultados da pesquisa psicopedagógica está em
curso no mundo inteiro. Ela é conduzida por especialistas em Ciências da
Educação que, formados todos nos mesmos meios revolucionários, logo dominaram os
departamentos de educação de diversas instituições internacionais: Unesco,
Conselho da Europa, Comissão de Bruxelas e OCDE.
Trata-se,
segundo ele, de uma nova roupagem da velha utopia comunista. O livro conta com
aproximadamente metade de seu conteúdo extraído diretamente de material dessas
instituições. É repleto de citações que mostram a “novilíngua” dos pedagogos.
Segundo Barnardin, estamos diante de técnicas de lavagem cerebral mesmo, como a
dissonância cognitiva deliberada para tornar os alvos mais dóceis ao pacote de
doutrinação.
Isso faz
o poder de estrago ser muito maior, pois o comum dos mortais, “realizando
simplesmente seu trabalho, sem qualquer hostilidade particular, pode-se tornar
o agente de um processo de destruição terrível”. Os professores acabam
acreditando e absorvendo a missão nova, não mais de passar conhecimento
objetivo em suas respectivas áreas, mas sim
de modificar essencialmente os alunos e sua visão de mundo.
Essa
nova abordagem pedagógica usurpa das famílias a principal função de educar, no
sentido mais amplo, seus próprios filhos, transferindo tal responsabilidade
para o estado, para os professores treinados com base na mesma doutrina. As
declarações dos mais influentes “educadores”, muitas contidas em documentos
oficiais da Unesco, não deixam muita margem à dúvida.
A
ambição moderna da pedagogia social é alterar profundamente os seres humanos,
buscar uma “larga e profunda modificação das atitudes sociais em geral”. Os
pais, com seus “preconceitos”, especialmente religiosos, representam uma grande
barreira a tal missão, e por isso o processo deve incorporar os pais nesta luta
por mudança. Todos os esforços dos professores devem estar voltados para
acelerar essa “evolução social” e redimir certos “atrasos culturais”.
Esqueçam
ensinamentos sólidos com base no conhecimento objetivo, tradicional, e o foco
cognitivo da educação. Isso tudo pertence ao passado.
As
tarefas assumidas pelos pedagogos modernos são mais “progressistas”, mais
abrangentes, mais “nobres”: criar seres humanos mais “conscientes”, mais
engajados politicamente, mais “tolerantes” e adeptos do multiculturalismo.
Estamos
diante de uma subversão de valores morais em nome da “democratização” do ensino
que, na prática, nada mais é do que a socialização das crianças e a
coletivização dos espíritos. Tudo isso, claro, com base no conhecimento
“científico”, nas experiências pedagógicas e nas teorias sociais. Eis a
estratégia, segundo Bernardin:
Portanto,
a manobra destinada a modificar os valores articula-se assim: inicialmente,
impedir a transmissão, especialmente por meio da família, dos valores
tradicionais; face ao caos ético e social daí resultantes, torna-se imperativo
o retorno a uma educação ética – controlada pelos Estados e pelas organizações
internacionais, e não mais pela família. Pode-se, então, induzir e controlar a
modificação dos valores.
Essa é
uma campanha cultural globalista, com o objetivo de “inculcar nos alunos uma
atitude mundialista, ensinando-lhes principalmente a reconhecer e a evitar
os preconceitos culturais e a encarar com tolerância as diferenças étnicas e
nacionais”, nas palavras do próprio Documento de referência da Conferência
mundial sobre a educação para todos.
A
mentalidade coletivista permeia toda essa pedagogia moderna. As “experiências”
sociais fora ou dentro da sala de aula se tornam mais importantes do que a
cobrança tradicional de conhecimento. Aos alunos deve ser dada a possibilidade
de “negociar e de fixar os próprios objetivos”.
O
“civismo” dos alunos deve ser avaliado, talvez com mais atenção do que o
conhecimento
objetivo. “Nós pega o peixe”, de repente, passa a ser apenas uma forma
diferente de se expressar, e não mais equivocada.
Tudo
isso, não custa lembrar, não são teorias conspiratórias, mas conclusões feitas
com base nas próprias declarações dos principais pedagogos e organizações
internacionais. Gente como John Dewey, socialista, Stanley Hall, coletivista
autoritário, e Paulo Freire, marxista, ajudou a criar uma legião de discípulos
que dominaram a pedagogia em nível mundial.
Dewey,
que era furiosamente contrário ao individualismo, rejeitava inclusive a noção
de inteligência como algo individual. A inteligência “puramente individual”
passa a ser um obstáculo antissocial e reacionário ao “avanço” social, que precisa
ser derrubado em nome do progresso. Qual progresso?
Aquele
liderado por uma elite educada que guia uma massa de autômatos?
Porque
não resta dúvida de que fechar o “acesso à instrução, à verdadeira cultura e à
liberdade intelectual e espiritual”, como tal revolução pedagógica efetivamente
faz, acaba por condenar um enorme contingente de alunos à escravidão velada,
enquanto a elite dos próprios pedagogos goza de imenso poder sobre eles. Chamar
isso de educação, eis a maior injúria que pode ser feita àqueles que desejam
uma educação verdadeira!
Gazeta do Povo
Nenhum comentário:
Postar um comentário