sábado, 14 de outubro de 2017

A REVOLUÇÃO PEDAGÓGICA COMO INSTRUMENTO DE DOUTRINAÇÃO IDEOLÓGICA

Rodrigo Constantino

Assunto cada vez mais atual

Fui convidado uma vez mais como palestrante do Fórum da Liberdade, que será realizado segunda e terça que vem em Porto Alegre. Meu painel será sobre educação: quais propostas temos a apresentar para um avanço da qualidade da educação em nosso país?

O tema é de total importância. Afinal, dez de cada dez especialistas apontam a educação como solução para os males nacionais. A questão que surge, automaticamente, é: qual educação? Simplesmente jogar mais recursos públicos no setor, com este modelo atual, não resolve absolutamente nada; ao contrário: pode aprofundar o problema.
Não vejo como falar em educação hoje sem falar na doutrinação ideológica que tomou conta de nossas escolas e universidades. A luta, portanto, é cultural acima de tudo. E não se trata de um fenômeno apenas nacional, mas sim mundial, que assola inclusive os países desenvolvidos.

Um livro que serve como importante alerta a esse perigo é Maquiavel Pedagogo, do francês Pascal Bernardin. O autor afirma, sem rodeios e logo na introdução:

Uma revolução pedagógica baseada nos resultados da pesquisa psicopedagógica está em curso no mundo inteiro. Ela é conduzida por especialistas em Ciências da Educação que, formados todos nos mesmos meios revolucionários, logo dominaram os departamentos de educação de diversas instituições internacionais: Unesco, Conselho da Europa, Comissão de Bruxelas e OCDE.

Trata-se, segundo ele, de uma nova roupagem da velha utopia comunista. O livro conta com aproximadamente metade de seu conteúdo extraído diretamente de material dessas instituições. É repleto de citações que mostram a “novilíngua” dos pedagogos. Segundo Barnardin, estamos diante de técnicas de lavagem cerebral mesmo, como a dissonância cognitiva deliberada para tornar os alvos mais dóceis ao pacote de doutrinação.

Isso faz o poder de estrago ser muito maior, pois o comum dos mortais, “realizando simplesmente seu trabalho, sem qualquer hostilidade particular, pode-se tornar o agente de um processo de destruição terrível”. Os professores acabam acreditando e absorvendo a missão nova, não mais de passar conhecimento objetivo em suas respectivas áreas, mas sim de modificar essencialmente os alunos e sua visão de mundo.

Essa nova abordagem pedagógica usurpa das famílias a principal função de educar, no sentido mais amplo, seus próprios filhos, transferindo tal responsabilidade para o estado, para os professores treinados com base na mesma doutrina. As declarações dos mais influentes “educadores”, muitas contidas em documentos oficiais da Unesco, não deixam muita margem à dúvida.

A ambição moderna da pedagogia social é alterar profundamente os seres humanos, buscar uma “larga e profunda modificação das atitudes sociais em geral”. Os pais, com seus “preconceitos”, especialmente religiosos, representam uma grande barreira a tal missão, e por isso o processo deve incorporar os pais nesta luta por mudança. Todos os esforços dos professores devem estar voltados para acelerar essa “evolução social” e redimir certos “atrasos culturais”.

Esqueçam ensinamentos sólidos com base no conhecimento objetivo, tradicional, e o foco cognitivo da educação. Isso tudo pertence ao passado.

As tarefas assumidas pelos pedagogos modernos são mais “progressistas”, mais abrangentes, mais “nobres”: criar seres humanos mais “conscientes”, mais engajados politicamente, mais “tolerantes” e adeptos do multiculturalismo.

Estamos diante de uma subversão de valores morais em nome da “democratização” do ensino que, na prática, nada mais é do que a socialização das crianças e a coletivização dos espíritos. Tudo isso, claro, com base no conhecimento “científico”, nas experiências pedagógicas e nas teorias sociais. Eis a estratégia, segundo Bernardin:

Portanto, a manobra destinada a modificar os valores articula-se assim: inicialmente, impedir a transmissão, especialmente por meio da família, dos valores tradicionais; face ao caos ético e social daí resultantes, torna-se imperativo o retorno a uma educação ética – controlada pelos Estados e pelas organizações internacionais, e não mais pela família. Pode-se, então, induzir e controlar a modificação dos valores.

Essa é uma campanha cultural globalista, com o objetivo de “inculcar nos alunos uma atitude mundialista, ensinando-lhes principalmente a reconhecer e a evitar os preconceitos culturais e a encarar com tolerância as diferenças étnicas e nacionais”, nas palavras do próprio Documento de referência da Conferência mundial sobre a educação para todos.

A mentalidade coletivista permeia toda essa pedagogia moderna. As “experiências” sociais fora ou dentro da sala de aula se tornam mais importantes do que a cobrança tradicional de conhecimento. Aos alunos deve ser dada a possibilidade de “negociar e de fixar os próprios objetivos”.

O “civismo” dos alunos deve ser avaliado, talvez com mais atenção do que o
conhecimento objetivo. “Nós pega o peixe”, de repente, passa a ser apenas uma forma diferente de se expressar, e não mais equivocada.

Tudo isso, não custa lembrar, não são teorias conspiratórias, mas conclusões feitas com base nas próprias declarações dos principais pedagogos e organizações internacionais. Gente como John Dewey, socialista, Stanley Hall, coletivista autoritário, e Paulo Freire, marxista, ajudou a criar uma legião de discípulos que dominaram a pedagogia em nível mundial.

Dewey, que era furiosamente contrário ao individualismo, rejeitava inclusive a noção de inteligência como algo individual. A inteligência “puramente individual” passa a ser um obstáculo antissocial e reacionário ao “avanço” social, que precisa ser derrubado em nome do progresso. Qual progresso?

Aquele liderado por uma elite educada que guia uma massa de autômatos?
Porque não resta dúvida de que fechar o “acesso à instrução, à verdadeira cultura e à liberdade intelectual e espiritual”, como tal revolução pedagógica efetivamente faz, acaba por condenar um enorme contingente de alunos à escravidão velada, enquanto a elite dos próprios pedagogos goza de imenso poder sobre eles. Chamar isso de educação, eis a maior injúria que pode ser feita àqueles que desejam uma educação verdadeira!

Gazeta do Povo


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