Colaborou
Janaína
Figueiredo, Correspondente em Buenos Aires
Aliança governista triunfa em quase
todo país; Cristina fica em 2º lugar e promete oposição
BUENOS AIRES — O presidente da Argentina, Mauricio Macri, consolidou seu poder com uma ampla vitória nas eleições legislativas de domingo e já fala em acelerar seus projetos de reforma. Com 99% dos votos apurados, o candidato do presidente e ex-ministro da Educação, Esteban Bullrich, tinha 41,38% dos votos, superando a ex-presidente Cristina Kirchner, que ficou em segundo lugar com 37,25%. Em entrevista coletiva desta segunda-feira, Macri citou como prioridades a erradicação da pobreza, o combate ao desemprego e a redução do déficit fiscal, prometendo convocar um acordo nacional para levar à frente seus planos.
— O
primeiro caminho é baixar a inflação, que afeta aos que menos têm. Antes do fim
do ano, queremos aprovar um orçamento que tenha como compromisso a redução do
déficit, Esperamos contar com o apoio de governdaores para alcançar este
compromisso, para ter um país normal com uma inflação de um digito.
Macri se
encontrará na semana que vem com governadores, senadores, deputados, sindicatos
e representantes da Justiça para discutir os próximos passos. Outros focos de
Macri para as reformas são o mercado de trabalho, a educação e o sistema
eleitoral.
— A Argentina não tem que ter medo das reformas, porque representam a possibilidade de crescer — disse o presidente ao "La Nación". — Ontem, disse que esta eleição ganhou o diálogo, um diálogo que tem que crescer em todos os setores e todas as regiões.
Com 400
mil votos de diferença, Bullrich e Cristina serão eleitos senadores, mas para
Cristina era essencial ser a candidata mais votada e dar, assim, um primeiro
passo firme em sua estratégia de retorno ao poder. Além de Buenos Aires, os
candidatos de Macri triunfaram nas províncias de Córdoba, Santa Fé, Mendoza e
na capital.
Último a se pronunciar sobre os resultados, Macri ontem já tinha comemorado os resultados obtidos pela aliança governista. A vitória de um partido nos cinco principais distritos eleitorais não acontecia desde 1985. A aliança Mudemos se impôs, ainda, em províncias tradicionalmente peronistas como Santa Cruz e La Rioja, terras natais dos ex-presidentes Néstor Kirchner e Carlos Menem. Em La Rioja, Menem foi eleito senador, mas, como Cristina, ficou em segundo lugar.
Eleito
em 2015, Macri assumiu o mandato após uma vitória apertada, com menos de três
pontos percentuais de vantagem. Desde então, enfrentou momentos de baixa
popularidade, enquanto a pobreza crescia e a economia sofria dificuldades. No
entanto, também conseguiu convencer os argentinos de que as suas propostas de
mudança podem ser efetivas a longo prazo.
— Hoje
ganhou a certeza de que podemos mudar a História para sempre. Queremos
conquistar algo grande, um país decidido a fazer as coisas bem. E isso é só o
começo: estamos começando a transformar a Argentina — disse. — Este ano,
estamos crescendo e no próximo cresceremos mais e no outro ainda mais. O sonho
compartilhado é tirar todos os argentinos da pobreza. Somos a geração que está
mudando a História.
Por sua vez, Cristina disse que não considerou os resultados uma derrota e prometeu manter a força da oposição à atual Casa Rosada:
— Fomos
capazes de crescer e enfrenter à maior concentração de poder de que se tem
memória — disse Kirchner aos seus apoiadores. — A União Cidadã emerge como a
oposição mais firme a este governo. Será a base da construção da alternativa a
este governo. Aqui não acaba nada, hoje aqui começa tudo.
Para
analistas, a eleição consolidou a força política de Macri e seu partido, que
chegaram ao dia do pleito em meio a um clima de tensão nacional pela
confirmação da morte do jovem Santiago Maldonado, cujo corpo foi encontrado
semana passada. Maldonado desaparecera em agosto, depois de participar de um
protesto a favor da comunidade mapuche na Patagônia, contido pela Gendarmeria
(força de segurança nacional). A oposição acusou a Casa Rosada de ser
responsável pela morte e vem pedindo a renúncia da ministra de Segurança,
Patricia Bullrich, que, nos primeiros dias posteriores ao desaparecimento,
defendeu a Gendarmeria. Mas, aparentemente, o caso não teve impacto na eleição.
Os
argentinos votaram para renovar 126 cadeiras da Câmara, de um total de 257, e
36 do Senado, de 72. Mesmo ficando em primeiro lugar no país, o partido de
Macri não terá o controle do Congresso, mas poderá ampliar suas bancadas e ficar
numa posição mais confortável para negociar acordos. Já o peronismo corre o
risco de perder o domínio do Senado, que detém desde 1983.
A
polarização entre macrismo e kirchnerismo se impôs. Eleitores de outros
partidos ficaram frustrados e lamentaram a perda de espaços políticos. Legendas
que ficaram de fora da polarização, como 1 País, liderada pelo peronista Sergio
Massa, não chegaram nem perto dos candidatos macristas e, na província de
Buenos Aires, do kirchnerismo.
A
ex-presidente fez uma boa eleição em alguns municípios de Buenos Aires, como La
Matanza, o que não teria sido suficiente para garantir a vitória em toda a
província. Agora, a grande incógnita é saber se a provável derrota significará
o começo do fim de sua carreira política. Ou se, pelo contrário, Cristina
tentará, a partir do Congresso, reconstruir seu poder, liderar o hoje
fragmentado peronismo e pensar numa candidatura presidencial em 2019.
O Globo
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