segunda-feira, 23 de outubro de 2017

Após ampla vitória legislativa, Macri acelera reformas na Argentina

Colaborou Janaína Figueiredo, Correspondente em Buenos Aires

Aliança governista triunfa em quase todo país; Cristina fica em 2º lugar e promete oposição

BUENOS AIRES — O presidente da Argentina, Mauricio Macri, consolidou seu poder com uma ampla vitória nas eleições legislativas de domingo e já fala em acelerar seus projetos de reforma. Com 99% dos votos apurados, o candidato do presidente e ex-ministro da Educação, Esteban Bullrich, tinha 41,38% dos votos, superando a ex-presidente Cristina Kirchner, que ficou em segundo lugar com 37,25%. Em entrevista coletiva desta segunda-feira, Macri citou como prioridades a erradicação da pobreza, o combate ao desemprego e a redução do déficit fiscal, prometendo convocar um acordo nacional para levar à frente seus planos.

— O primeiro caminho é baixar a inflação, que afeta aos que menos têm. Antes do fim do ano, queremos aprovar um orçamento que tenha como compromisso a redução do déficit, Esperamos contar com o apoio de governdaores para alcançar este compromisso, para ter um país normal com uma inflação de um digito.

Macri se encontrará na semana que vem com governadores, senadores, deputados, sindicatos e representantes da Justiça para discutir os próximos passos. Outros focos de Macri para as reformas são o mercado de trabalho, a educação e o sistema eleitoral.

— A Argentina não tem que ter medo das reformas, porque representam a possibilidade de crescer — disse o presidente ao "La Nación". — Ontem, disse que esta eleição ganhou o diálogo, um diálogo que tem que crescer em todos os setores e todas as regiões.

Com 400 mil votos de diferença, Bullrich e Cristina serão eleitos senadores, mas para Cristina era essencial ser a candidata mais votada e dar, assim, um primeiro passo firme em sua estratégia de retorno ao poder. Além de Buenos Aires, os candidatos de Macri triunfaram nas províncias de Córdoba, Santa Fé, Mendoza e na capital.

Último a se pronunciar sobre os resultados, Macri ontem já tinha comemorado os resultados obtidos pela aliança governista. A vitória de um partido nos cinco principais distritos eleitorais não acontecia desde 1985. A aliança Mudemos se impôs, ainda, em províncias tradicionalmente peronistas como Santa Cruz e La Rioja, terras natais dos ex-presidentes Néstor Kirchner e Carlos Menem. Em La Rioja, Menem foi eleito senador, mas, como Cristina, ficou em segundo lugar.

Eleito em 2015, Macri assumiu o mandato após uma vitória apertada, com menos de três pontos percentuais de vantagem. Desde então, enfrentou momentos de baixa popularidade, enquanto a pobreza crescia e a economia sofria dificuldades. No entanto, também conseguiu convencer os argentinos de que as suas propostas de mudança podem ser efetivas a longo prazo.

— Hoje ganhou a certeza de que podemos mudar a História para sempre. Queremos conquistar algo grande, um país decidido a fazer as coisas bem. E isso é só o começo: estamos começando a transformar a Argentina — disse. — Este ano, estamos crescendo e no próximo cresceremos mais e no outro ainda mais. O sonho compartilhado é tirar todos os argentinos da pobreza. Somos a geração que está mudando a História.

Por sua vez, Cristina disse que não considerou os resultados uma derrota e prometeu manter a força da oposição à atual Casa Rosada:
— Fomos capazes de crescer e enfrenter à maior concentração de poder de que se tem memória — disse Kirchner aos seus apoiadores. — A União Cidadã emerge como a oposição mais firme a este governo. Será a base da construção da alternativa a este governo. Aqui não acaba nada, hoje aqui começa tudo.

Para analistas, a eleição consolidou a força política de Macri e seu partido, que chegaram ao dia do pleito em meio a um clima de tensão nacional pela confirmação da morte do jovem Santiago Maldonado, cujo corpo foi encontrado semana passada. Maldonado desaparecera em agosto, depois de participar de um protesto a favor da comunidade mapuche na Patagônia, contido pela Gendarmeria (força de segurança nacional). A oposição acusou a Casa Rosada de ser responsável pela morte e vem pedindo a renúncia da ministra de Segurança, Patricia Bullrich, que, nos primeiros dias posteriores ao desaparecimento, defendeu a Gendarmeria. Mas, aparentemente, o caso não teve impacto na eleição.

Os argentinos votaram para renovar 126 cadeiras da Câmara, de um total de 257, e 36 do Senado, de 72. Mesmo ficando em primeiro lugar no país, o partido de Macri não terá o controle do Congresso, mas poderá ampliar suas bancadas e ficar numa posição mais confortável para negociar acordos. Já o peronismo corre o risco de perder o domínio do Senado, que detém desde 1983.

A polarização entre macrismo e kirchnerismo se impôs. Eleitores de outros partidos ficaram frustrados e lamentaram a perda de espaços políticos. Legendas que ficaram de fora da polarização, como 1 País, liderada pelo peronista Sergio Massa, não chegaram nem perto dos candidatos macristas e, na província de Buenos Aires, do kirchnerismo.

A ex-presidente fez uma boa eleição em alguns municípios de Buenos Aires, como La Matanza, o que não teria sido suficiente para garantir a vitória em toda a província. Agora, a grande incógnita é saber se a provável derrota significará o começo do fim de sua carreira política. Ou se, pelo contrário, Cristina tentará, a partir do Congresso, reconstruir seu poder, liderar o hoje fragmentado peronismo e pensar numa candidatura presidencial em 2019.

O Globo

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