Fernanda Krakovics
Depois da criação do partido Novo, agora o ‘Livres’ quer renovar o PSL
O
desgaste das bandeiras da esquerda associadas ao PT e aos governos dos
ex-presidentes Lula e Dilma motivou uma explosão de projetos eleitorais que têm
a defesa do liberalismo como plataforma. Já há uma clara corrida entre forças
políticas que disputam a simpatia desse eleitorado.
Depois
da criação do partido Novo, um movimento chamado Livres anuncia o que diz ser a
renovação do pequeno Partido Social Liberal (PSL) e quer turbinar propostas
como a diminuição das áreas de atuação do Estado, a redução da carga tributária
e o incentivo ao empreendedorismo.
— Há
claramente a falência do modelo de Estado grande, que não dá conta. As pessoas
veem isso nos serviços não prestados pelo Estado. E o envolvimento dos grandes
campeões (empresas turbinadas pelo então presidente Lula) e das empreiteiras
nos escândalos de corrupção mostram o quanto esse capitalismo de Estado foi
gerando corrupção e ineficiência — diz Paulo Gontijo, que assumiu a presidência
estadual do PSL/Livres no Rio em fevereiro e atua como consultor de marketing
político, tendo colaborado nas campanhas para a prefeitura do Rio de Fernando
Gabeira (2008) e Alessandro Molon (2016), além da de Marcelo Crivella (2014)
para o governo do estado.
O Livres
se define como “uma startup incubada como tendência partidária dentro do PSL”,
com o objetivo de “resetar” (reiniciar) o partido. O movimento já “virou a
chave”, ou seja, assumiu o comando da sigla em 11 estados. Um dos idealizadores
da iniciativa é Sergio Bivar, filho de Luciano Bivar, fundador do PSL. O
partido pretende mudar de nome para Livres antes das eleições do ano que vem.
Apesar
de terem discurso semelhante e disputarem o mesmo eleitorado, o ex-presidente
do Novo João Amoêdo, que deve disputar a Presidência da República no ano que
vem, diz considerar positivo o surgimento de várias forças na mesma corrente:
— Penso
que é mais gente divulgando ideias de liberdade do indivíduo e menor
intervenção estatal.
Uma
mostra de como os dois correm na mesma faixa foi a filiação do ex-presidente do
Banco Central Gustavo Franco ao Novo, depois de ele ter sido a principal
atração do lançamento do Livres no Rio. O economista fez uma palestra no
evento. Em uma política de boa vizinhança, o Livres parabenizou publicamente o
Novo pela chegada de Gustavo Franco.
Na
prática, uma das principais diferenças é que o Novo não usa recursos do fundo
partidário, por ser contrário ao financiamento público. Já o PSL/ Livres se
mantém com esse dinheiro e é contra apenas ao fundo eleitoral de cerca de R$ 2
bilhões aprovado pelo Congresso no início deste mês.
Segundo
Gontijo, a aparente semelhança entre Novo e Livres é a pergunta “que todo mundo
faz”, mas ele cita características que distinguiriam um do outro:
—
Existem algumas diferenças grandes. A primeira é geracional. Nosso partido tem
quadros mais novos e talvez mais diversificados. A gente tem uma militância
jovem, de 18 a 25 anos, temos mais capilaridade, mais núcleos municipais e uma
forma de operação mais horizontal.
Tanto o
Novo quanto o Livres adotaram ferramentas de gestão partidária que têm o
objetivo de se diferenciar da política tradicional, na tentativa de promover a
democracia interna, transparência e meritocracia. O Novo escolhe seus
précandidatos por meio de um processo seletivo que consiste em provas,
entrevistas, avaliação do currículo e de vídeos dos postulantes. Já o Livres
está desenvolvendo um aplicativo no qual a militância acumulará pontos de
acordo com a conclusão de tarefas como filiação de novos quadros, organização
de eventos e publicação de artigos, por exemplo.
Embora a
defesa do liberalismo venha ganhando espaço no debate nacional e motivando
novas iniciativas, Gontijo é cauteloso quanto ao resultado eleitoral:
— Eu
gosto muito da expressão “boom de liberalismo”. Eu espero que se traduza nas
urnas.
Nessa
corrente de pensamento político, o prefeito de São Paulo, João Doria (PSDB), é
o nome hoje em evidência, embora sua participação na disputa presidencial de
2018 ainda seja uma incógnita. Hoje, os tucanos passam por uma crise em função
do apoio ao governo de Michel Temer.
TENDÊNCIA INTERNACIONAL
O
cientista político Fernando Sá, professor do Departamento de Comunicação Social
da PUC-Rio, ressalta que essa é uma onda mundial, com movimentos políticos mais
conservadores ganhando força na Europa e, principalmente, nos Estados Unidos.
Para ele, o processo que está acontecendo no Brasil é um sinal de maturidade
política.
— Aqui
no Brasil, com a radicalização da luta política, os conservadores resolveram se
apresentar. Acontecia uma coisa muito estranha aqui: ninguém era de direita. Em
países como Portugal e Chile, de maior tradição política, você tem políticos de
direita que não têm vergonha de ser de direita. Aqui sempre foi um tabu — diz
Fernando Sá.
Já para
o cientista político Marco Antonio Teixeira, da FGVSP, independentemente do
mérito, o debate é um avanço:
— Para
um momento em que carecemos de debate de projetos, é interessante isso. Eu vi o
programa do Livres na TV, foi uma chamada fora do lugar comum. Em vez de ficar
exaltando pessoas, foram lá discutir o que pensam. Concorde ou não, o debate de
ideias é sempre bem-vindo e faz bem para a política.
O Globo
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