Editorial
Os
resultados das eleições para governador na Venezuela foram previsíveis - os que
o governo Nicolás Maduro permitiu que fossem. Ainda que as previsões eleitorais
sempre estiveram maculadas pela polarização e sejam pouco confiáveis, as
diferenças entre as expectativas de votos da oposição e a votação obtida são
grandes demais para isentar os chavistas de graves fraudes. A proibição de que
organizações internacionais independentes inspecionassem o pleito fala por si
só sobre as intenções do governo.
O contraponto
entre a realidade maquiada dos chavistas nas urnas e a situação do país, foi
feito às vésperas do pleito, na reunião anual do Fundo Monetário Internacional.
Não há o menor sinal de melhoria no estado terminal da economia venezuelana. O
PIB, que deve cair 12% no ano corrente, completará retração de 35% desde 2014.
A inflação já beira o incalculável, mas os técnicos do FMI a projetaram em
2.350% em 2018. Há escassez de divisas em um país que importa quase tudo o que
consome. As consequências são escassez de bens básicos, como comida e
medicamentos, e disparada nos preços dos produtos importados que se consegue
encontrar. A fuga para o abastecimento nas fronteiras e a falta de gasolina,
mesmo tendo a Venezuela as maiores reservas de petróleo do mundo, são exemplos
da gritante inépcia dos chavistas.
Em
condições desesperadoras, seria difícil que o governo reunisse o apoio que
obteve nas urnas. Nas eleições anteriores, a oposição conseguiu praticamente
dois terços de maioria na Assembleia Nacional. Por isso o Congresso venezuelano
foi varrido do mapa com o golpe da escolha da Assembleia Constituinte, em
julho, na qual o governo atribuiu uma participação quase duas vezes maior do
que o número real de votantes - 8 milhões-, após o boicote da oposição.
O governo
de Maduro criou uma corrida de obstáculos impossível de ser vencida pelos
rivais. Caso a oposição tivesse vencido na maioria dos Estados, como era
previsto - ganhando 12 dos 23 Estados -, ainda assim não levaria. Os eleitos
teriam de ser aprovados pelos órgãos diretivos da Constituinte, totalmente
chavista, e, depois, caso isso ocorresse, prestar juramento diante dela, o que
significa que estariam renegando a existência do Congresso, cuja escolha foi a
última manifestação mais ou menos democrática permitida oficialmente.
Entretanto,
as aparências precisam ser guardadas, mesmo em regimes autoritários, e o
governo se cercou de garantias. Ordenou o recadastramento obrigatório dos
partidos - todos, menos o Partido Socialista Unificado, governista. Perseguições
de um Judiciário atrelado alijaram opositores com cacife eleitoral, como
Henrique Capriles, governador de Miranda. Houve redivisão geográfica de
distritos com claro viés governista, além de mudanças de zonas eleitorais em
cima da hora, que infernizaram a vida de 750 mil eleitores.
As
forças de oposição, que cometeram erros crassos de avaliação, como o boicote às
eleições do Congresso após a ridícula tentativa fracassada de golpe de Estado
contra Hugo Chávez em 2002, resolveram disputar os governos estaduais, após se
ausentarem da votação da Constituinte. A participação desta vez foi inócua, e
contra os líderes anti-chavistas pesaram, além das fraudes, o desencanto de
seus apoiadores, após três meses de manifestações diárias e mais de uma centena
de mortes. Há a percepção clara de que o regime chavista tornou-se uma ditadura
que não permitirá por vias constitucionais a alternância de poder. Ainda assim,
o comparecimento às urnas no domingo foi de 61%.
A forte
investida externa não tem sido suficiente para demover Maduro de seus intentos.
A inércia do governo diante do desastre econômico que criou é surpreendente. Os
únicos movimentos claros dos chavistas são em direção às fontes de
financiamento externo, que escasseiam e que hoje se resumem à renitente China e
à Rússia, interessada na exploração de petróleo.
A
oposição venceu em 5 Estados, mas os eleitos decidiram não fazer o juramento de
posse diante da Constituinte, que não reconhecem, e podem não assumir. Diante
da aguda escassez, da hiperinflação e da alta criminalidade, combinação que
testa os limites do suportável, não parece haver saída para os venezuelanos. A
migração é apenas uma válvula de escape de pressões que em algum momento
explodirão.
Valor
Econômico
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