sexta-feira, 20 de outubro de 2017

Maduro mantém poder nos Estados após fraude eleitoral

Editorial

Os resultados das eleições para governador na Venezuela foram previsíveis - os que o governo Nicolás Maduro permitiu que fossem. Ainda que as previsões eleitorais sempre estiveram maculadas pela polarização e sejam pouco confiáveis, as diferenças entre as expectativas de votos da oposição e a votação obtida são grandes demais para isentar os chavistas de graves fraudes. A proibição de que organizações internacionais independentes inspecionassem o pleito fala por si só sobre as intenções do governo.

O contraponto entre a realidade maquiada dos chavistas nas urnas e a situação do país, foi feito às vésperas do pleito, na reunião anual do Fundo Monetário Internacional. Não há o menor sinal de melhoria no estado terminal da economia venezuelana. O PIB, que deve cair 12% no ano corrente, completará retração de 35% desde 2014. A inflação já beira o incalculável, mas os técnicos do FMI a projetaram em 2.350% em 2018. Há escassez de divisas em um país que importa quase tudo o que consome. As consequências são escassez de bens básicos, como comida e medicamentos, e disparada nos preços dos produtos importados que se consegue encontrar. A fuga para o abastecimento nas fronteiras e a falta de gasolina, mesmo tendo a Venezuela as maiores reservas de petróleo do mundo, são exemplos da gritante inépcia dos chavistas.

Em condições desesperadoras, seria difícil que o governo reunisse o apoio que obteve nas urnas. Nas eleições anteriores, a oposição conseguiu praticamente dois terços de maioria na Assembleia Nacional. Por isso o Congresso venezuelano foi varrido do mapa com o golpe da escolha da Assembleia Constituinte, em julho, na qual o governo atribuiu uma participação quase duas vezes maior do que o número real de votantes - 8 milhões-, após o boicote da oposição.

O governo de Maduro criou uma corrida de obstáculos impossível de ser vencida pelos rivais. Caso a oposição tivesse vencido na maioria dos Estados, como era previsto - ganhando 12 dos 23 Estados -, ainda assim não levaria. Os eleitos teriam de ser aprovados pelos órgãos diretivos da Constituinte, totalmente chavista, e, depois, caso isso ocorresse, prestar juramento diante dela, o que significa que estariam renegando a existência do Congresso, cuja escolha foi a última manifestação mais ou menos democrática permitida oficialmente.

Entretanto, as aparências precisam ser guardadas, mesmo em regimes autoritários, e o governo se cercou de garantias. Ordenou o recadastramento obrigatório dos partidos - todos, menos o Partido Socialista Unificado, governista. Perseguições de um Judiciário atrelado alijaram opositores com cacife eleitoral, como Henrique Capriles, governador de Miranda. Houve redivisão geográfica de distritos com claro viés governista, além de mudanças de zonas eleitorais em cima da hora, que infernizaram a vida de 750 mil eleitores.

As forças de oposição, que cometeram erros crassos de avaliação, como o boicote às eleições do Congresso após a ridícula tentativa fracassada de golpe de Estado contra Hugo Chávez em 2002, resolveram disputar os governos estaduais, após se ausentarem da votação da Constituinte. A participação desta vez foi inócua, e contra os líderes anti-chavistas pesaram, além das fraudes, o desencanto de seus apoiadores, após três meses de manifestações diárias e mais de uma centena de mortes. Há a percepção clara de que o regime chavista tornou-se uma ditadura que não permitirá por vias constitucionais a alternância de poder. Ainda assim, o comparecimento às urnas no domingo foi de 61%.

A forte investida externa não tem sido suficiente para demover Maduro de seus intentos. A inércia do governo diante do desastre econômico que criou é surpreendente. Os únicos movimentos claros dos chavistas são em direção às fontes de financiamento externo, que escasseiam e que hoje se resumem à renitente China e à Rússia, interessada na exploração de petróleo.

A oposição venceu em 5 Estados, mas os eleitos decidiram não fazer o juramento de posse diante da Constituinte, que não reconhecem, e podem não assumir. Diante da aguda escassez, da hiperinflação e da alta criminalidade, combinação que testa os limites do suportável, não parece haver saída para os venezuelanos. A migração é apenas uma válvula de escape de pressões que em algum momento explodirão.

Valor Econômico


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