domingo, 1 de outubro de 2017

Intervenção. Muito bem. E depois ?

Martim Berto Fuchs

Digamos que as FFAA acabem aceitando o apelo cada vez mais clamoroso da população e se decidam por uma Intervenção nos Três podres Poderes. E depois ?

A estrutura do Estado brasileiro está carcomida. De tanto atender - desde 1808 – a grupos de pressão, temos um Estado como fim em si mesmo, que arrecada apenas para se manter. Agora que mais uma vez a situação fugiu ao controle, quem intervir vai ter uma tarefa para Hércules.

Não se trata apenas de colocar atrás das grades algumas centenas de pessoas bem situadas nos altos escalões dos governos federal, estadual e municipal, dos Três Poderes, além de quantidade igual de pessoas da iniciativa privada. Se trata, antes de tudo, de mudar as regras do jogo que está sendo jogado. Apenas substituir alguns jogadores, resolve por um curto período de tempo. Se o acesso aos cofres públicos continuar pelo caminho já por demais conhecido, amanhã estarão ocorrendo os mesmos desatinos, causando os mesmos problemas.

Neste ínterim, a injustiça social permanece, pois quem mais sofre são os trabalhadores da iniciativa privada e seus empregadores, aqueles desligados dos “negócios” com o setor público e que não fazem parte das diretorias das Associações, Federações e Confederações patronais, não obstante obrigados a mantê-las.

Desde que aqui aportaram D.João VI e grande parte da “nobreza” da Corte portuguesa com seus lacaios - mais de 10.000 pessoas-, que estamos sustentando esse pessoal e seus descendentes, sem que eles produzam para justificar seu sustento com dinheiro público.

Depois de 1888 com o fim da escravatura, nossos “liberais”, nossos conservadores, e a maior parte dos “nobres”, houveram por bem acabar com a Monarquia. Tiraram um militar graduado da cama, enfermo, e deram a ele um texto pronto: - Proclamação da República.
Mas não acabaram com seus próprios privilégios. Esses ninguém perdeu, salvo a família real e isto apenas por algum tempo.

Para novamente tentar mudar esse país, os militares aceitaram, desta vez tendo Getúlio Vargas à frente, fazer outra Intervenção, dispensando num primeiro momento a tutela dos liberais, conservadores e “nobres”.  

Com as experiências européias em torno de ditaduras, principalmente fascista, Getúlio e seus garantidores, já então apoiado pelos há pouco afastados do Poder, criou as corporações patronais e laborais, garantindo mais um sem número de privilégios.

Em 1945 os militares assumiram eles mesmos os destinos da nação, naquele tipo de “eleição” onde os nativos são chamados a referendar os nomes impostos. Administraram mal as reservas monetárias conseguidas durante a guerra, seja por ineficiência ou a isso obrigados pelos vencedores, mas o fato é que desperdiçaram a oportunidade de desvencilhar-se dos rentistas.

A falta de lideranças e o sistema político ensejou a volta de Getúlio em 1950; o que foi um erro. Um autocrata não sabe governar com Congresso. Fim de um capítulo que se iniciou em 1930.

À partir de 1956, Juscelino gastou o que não tínhamos e comprometeu nossas receitas por mais alguns pares de anos, sem contar que criou a maior bolsa-emprego já vista até então: depois de construir Brasília por 5 vezes seu custo, ele tinha que loteá-la.  E de zero habitantes em 1955, em meio século chegamos a 3,5 milhões de pessoas no DF, todas vivendo, direta ou indiretamente, dos recursos do Tesouro Nacional.

Os privilégios auferidos pelo setor público e dos que dele dependem, é o maior problema que terá que ser enfrentado pelos que ousarem uma nova Intervenção. A de 1964 não mexeu neste vespeiro. Para não dizer que não tentaram, tomaram uma medida contra privilégios dos professores, dos escritores e dos jornalistas. Para se ter uma idéia do quanto o tiro saiu pela culatra, essas três categorias profissionais, após a emenda constitucional nº 9, de 22/07/1964, aprovada 81 dias depois, obrigando-os a pagar Imposto de Renda, algo que eles não faziam desde 1934 (Getúlio), se voltaram inteiramente contra os Interventores, passando a denegrir todo trabalho que com honestidade os mesmos estavam dispostos a efetuar.

Então imaginem hoje, onde a partir de 2003 o grupo dos marxistas/comunistas/socialistas, até então de fora, e mais os oportunistas de sempre, também passou a auferir benesses só permitidas a quem faz parte dos quadros do setor público. Estes não entregarão suas sinecuras sem briga. Briga de verdade e não apenas de palavras. Basta perguntar para as lideranças dos sindicatos pelegos e de todas outras categorias de “mamadores”, que vieram se solidificando e engordando nas últimas décadas, se aceitam dialogar quanto a perder seus “direitos adquiridos”.

Quando vejo nas redes sociais tantas pessoas pedindo Intervenção, só espero que quando a “onça for beber água”, não se voltem contra os Interventores. No instante em que se quiser ser justo no uso do dinheiro público, lamentaria ver os militares mais uma vez sozinhos nesta empreitada. Todos querem o fim dos privilégios, dos outros.

Vocês já se perguntaram por que o marxismo/comunismo/socialismo não é finalmente sepultado, se morto está desde 1991, ou pelo menos moribundo ? Só uma coisa justifica estar ainda destilando mau cheiro à sua volta: a intransigência dos liberais, associados aos conservadores e monarquistas que desde 2003 contam com a companhia dos coletivistas, e que das suas sinecuras não abrem mão. Querer corrigir o estado de coisa em que se encontra o país, partindo das premissas dos há pouco citados, não vai funcionar. Mais uma vez. Mais uma Intervenção perdida, a quarta.

Não basta combater comunistas e ladrões e deixar as estruturas como estão. O buraco é mais embaixo. Tem que acertar em todos. Precisamos de um novo Contrato Social, sem os ranços de ideologias ultrapassadas.

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