quinta-feira, 14 de setembro de 2017

O mistério da maior empresa de Portugal que não tem empregados

JAVIER MARTÍN DEL BARRIO

Yupido, uma empresa com 108 bilhões de reais de capital social que não faz nada além de prometer serviços para bilhões de pessoas

Se não fosse por um rato de biblioteca da Universidade do Minho, não se saberia nada sobre a Yupido. Na realidade, só se sabe que é uma empresa com sede em Lisboa e possui capital social de 29 bilhões de euros (cerca de 108 bilhões de reais), ou 15% do PIB de Portugal; a empresa mais capitalizada do país.

O rato de biblioteca é um professor universitário que prefere não revelar seu nome. Realizava uma pesquisa sobre a produtividade das empresas com o banco de dados Amadeus, quando uma se destacou acima de todas, a Yupido, uma empresa com capital de 243 milhões de euros (907 milhões de reais) e nenhum empregado, isso sim extraordinário. O professor continuou pesquisando em bancos de dados públicos e redes sociais, e o que descobriu foi ainda mais espetacular. A Yupido tinha acabado de aumentar seu capital dos originais 243 milhões de euros para 29 bilhões. Mas o rato de biblioteca ainda não conseguiu saber o que a empresa faz, embora pareça que, por enquanto, não faça nada.

A Yupido existe há dois anos. Tem sede em uma torre de escritórios na capital portuguesa, onde ninguém atende ao telefone; também tem um site onde está exposto todo blá-blá-blá comum às empresas de tecnologia da informação: “A missão da Yupido é dar aos nossos clientes a infraestrutura e suporte que precisam operar com menos custos e maior eficiência”.
Há dois sócios principais, Cláudia Sofía Pereira (com 69% do capital) e Torcato Caridade da Silva (30%), além de Filipe Besugo (1%) e um comitê executivo de 10 pessoas presidido por um diretor-presidente e um diretor de vendas, embora, por enquanto, não tenha vendido nada. Também anuncia a contratação de pessoas “alegres e motivadas” para criar excelentes serviços “que serão utilizados por bilhões de pessoas ao redor do mundo”.

Tudo, exceto o que fazem, está claro nos registros oficiais. Há um balanço anual público, onde diz que tiveram um prejuízo de 21.000 euros (78.000 reais) no ano passado, dois auditores e o relatório de um reputado auditor externo, chave para avaliar esse aumento de capital, que não implicou dinheiro, e sim bens em espécie. Esse auditor escreveu que o que viu valia 29 bilhões de euros, embora, esclarece no documento, “o valor real possa ser maior”. O auditor não explica como chegou à conclusão do valor econômico desses bens em espécie.

Em declarações ao site português ECO, o auditor conta que os sócios lhe mostraram uma televisão e que ficou maravilhado com o que viu. Embora reconheça que não sabe nada sobre tecnologia, diz que lembrou de Steve Jobs, o gênio fundador da Apple. Segundo o porta-voz da empresa, no ano que vem, o mundo já começará a desfrutar de seus serviços milagrosos, mas, enquanto isso, a Procuradoria do Estado, a Comissão do Mercado de Valores Mobiliários e o Colégio de Contadores iniciaram investigações.

EL PAÍS


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