Jornal do Comércio
De cada
R$ 10,00 que entraram no País para comprar uma empresa ou um ativo nacional nos
últimos 30 meses encerrados em junho, R$ 3,00 vieram da China. O avanço dos
chineses sobre o Brasil nesse período chegou a R$ 60 bilhões e, com um fôlego
extra nos últimos meses, eles se tornaram os maiores investidores estrangeiros
em fusões e aquisições, ultrapassando os americanos.
No ano
passado, os chineses aplicaram R$ 23,96 bilhões na compra de ativos no Brasil,
quase 80% a mais que os R$ 13,4 bilhões injetados pelos norte-americanos. No
primeiro semestre de 2017, a tendência se repetiu: R$ 17,8 bilhões dos
orientais e R$ 12,3 bilhões dos ocidentais, segundo dados da TTR. Para
executivos de bancos, o movimento chinês em 2017 será tão ou mais intenso que
no ano passado. "Nada indica uma diminuição do apetite deles por
investimento no Brasil. Eles devem continuar como atores relevantes em 2017 e
2018", afirma Bruno Amaral, sócio do BTG.
"Temos
mais consultas (de investidores chineses) neste ano que em 2016", diz o
diretor da área de banco de investimentos do Itaú BBA, Roderick Greenlees. O
vice-presidente do Santander, Jean Pierre Dupui, conta que, neste ano, o banco
está com seis grandes negociações que envolvem chineses, enquanto, em 2016,
foram duas. "Devem ter negócios para acontecer nos setores de comida e
bebida, commodities e imobiliário", acrescenta. Apesar de a maioria das
transações fechadas pelos orientais se concentrar em energia - 97% do volume
aportado no primeiro semestre de 2017 -, já há indícios de uma diversificação
nos segmentos econômicos.
Infraestrutura,
por exemplo, é um dos setores que devem voltar a ganhar espaço. Em 2011, 33%
dos recursos envolvidos nas operações foram para essa área, mas, depois, esse
número recuou e chegou a 2% no ano passado, segundo a A.T. Kearney. Um exemplo
da retomada dos chineses em infraestrutura foi a aquisição de 90% do Terminal
de Contêineres de Paranaguá (TCP), anunciada na semana passada pela estatal
China Merchants Port Holding (CMPorts), por R$ 2,9 bilhões. "Vemos os
investimentos chineses acontecendo em ondas. Primeiro, eles entraram em
recursos naturais, depois energia e agora infraestrutura, principalmente portos
e aeroportos", diz Greenlees. Segundo o presidente da Câmara de Comércio e
Indústria Brasil-China, Charles Tang, os chineses pretendem crescer nos setores
financeiro, de saneamento e ainda mais no energético.
"Temos
uma empresa que nos pediu para ver a possibilidade de o governo fazer um leilão
de energia a partir de lixo." Uma fabricante de cabos para transmissão de
energia também analisa o País, diz Tang.
Nova
política de Xi Jinping para desestimular investimentos no exterior não deve
afetar o País. Diante do enorme fluxo de capital deixando a China rumo a outros
países, o governo chinês divulgou, em agosto, novas diretrizes que desestimulam
investimento no exterior. A medida, entretanto, não deverá causar uma inversão
no fluxo de recursos para o Brasil - aportes em setores como infraestrutura e
energia continuarão sendo estimulados.
O
governo de Xi Jinping já havia anunciado, no final de 2016, que não
incentivaria mais investimentos em alguns segmentos no exterior, o que resultou
em uma queda de 44%, para US$ 57,2 bilhões, no volume aportado globalmente
pelas empresas do país nos sete primeiros meses de 2017, excluindo o setor
financeiro. Em agosto, o governo especificou que serão desestimulados os
investimentos nas áreas imobiliária, hoteleira, cinematográfica, de
entretenimento e em equipes esportivas.
Nos
últimos anos, os chineses compraram participações em empresas como o Cirque du
Soleil, as redes hoteleiras Hilton e Club Med, e os times de futebol Atlético
de Madrid, Inter de Milão e Milan. No Brasil, quase não foram aplicados
recursos nesses segmentos, e um indicativo de que os investimentos continuam
são as transações de fusões e aquisições realizadas no primeiro semestre de
2017 no País: o volume de capital envolvido nelas representa 74% do total do
ano passado. "O que acontece agora é que o governo chinês quer centralizar
os investimento em áreas que considera estratégicas. No Brasil, os aportes
tradicionalmente já são nesses setores. O fluxo (de recursos) deve continuar em
energia e óleo e gás, por exemplo", diz Alessandro Zema, responsável pela
área de banco de investimento do Morgan Stanley. O presidente da Câmara de
Comércio e Indústria Brasil-China, Charles Tang, reforça que os chineses
continuarão no País. "Para infraestrutura não tem restrição (do
governo)", diz.
"O
Brasil é um importante parceiro, porque fornece produtos estratégicos, como
minérios e alimentos, para a China garantir seu crescimento sustentável."
Uma diversificação maior do perfil das empresas adquiridas pelos orientais,
como começava a aparecer, porém, pode acabar não ocorrendo por aqui. Pouco mais
de um mês antes de o governo chinês anunciar as novas diretrizes, a chinesa
Fosun, com forte atuação nos setores financeiro e de entretenimento, havia
comprado seu primeiro empreendimento imobiliário no Brasil - uma torre
corporativa em São Paulo.
Governo
chinês altera medidas extraordinárias de câmbio após valorização recente do
yuan A China está começando a desfazer algumas medidas extraordinárias de
câmbio, depois que a recente valorização do yuan começou a ter um impacto sobre
os exportadores chineses. A partir de hoje, o Banco do Povo da China (PBoC)
eliminará uma regra que existe há dois anos e tornou mais caro para os traders
apostarem que o yuan se desvalorizará, de acordo com um aviso do Banco Central
enviado aos bancos comerciais na sexta-feira. A mudança tornará mais barato
para empresas e investidores comprarem dólares ao venderem o yuan e, assim,
ajudará a controlar a alta da moeda chinesa nas últimas semanas, disseram
traders e analistas.
A
iniciativa "vai afastar os riscos macrofinanceiros", disse o aviso do
Banco Central. O PBoC também retirou a exigência de reserva para bancos
estrangeiros em depósitos em yuan. Isso deve liberar mais recursos em yuans
para o que é conhecido como o mercado de yuan offshore em Hong Kong, o que deve
tornar mais fácil para os investidores estrangeiros apostarem contra o yuan. A
exigência havia sido promulgada em janeiro de 2016. Ao desmantelar certos
controles, Pequim está mudando de curso após um esforço iniciado há dois anos
para evitar que o yuan se enfraquecesse muito rapidamente e para manter a
confiança na segunda maior economia do mundo. Para isso, o governo submeteu os
investimentos no exterior a pesado escrutínio, fez com que apostar na queda do
yuan ficasse mais caro para os traders e queimou US$ 1 trilhão em reservas
cambiais nos últimos anos. Mas o yuan começou a subir, dando nova dor de cabeça
para o governo. Até agora, neste ano, o yuan mais que recuperou a queda de 6,6%
em relação ao dólar no ano passado. Só na semana passada, subiu mais de 1,8% -
o maior avanço semanal em quase 12 anos.
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