ALONSO MOLEIRO
Vários empresários foram detidos sob
a acusação de aumentar os preços depois da reforma econômica
Prestes
a completar-se uma semana das medidas
econômicas adotadas pelo presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, a
cotação do chamado bolívar soberano, fixada em 60 unidades por dólar
depois da reforma que tirou cinco zeros da moeda local, continuou se
depreciando nos mercados secundários. Em alguns índices de referência, o dólar
era negociado a 90 bolívares, e em outros chegou a 120. Ou seja, uma
desvalorização próxima de 50%, somando-se à de 96% que foi oficialmente reconhecida
com o lançamento da nova moeda.
“A
reação inicial do mercado foi ruim. A pressão especuladora sobre o dólar
continua”, opina Víctor Álvarez, economista, ganhador do prêmio nacional de
Ciências e ministro interino nos tempos do ex-presidente Hugo Chávez.
O
nervosismo dos mercados continua empurrando os preços para cima. O Governo de
Maduro está decidido a impor suas decisões pela razão ou pela força, e por isso
publicou uma tabela de preços de 25 produtos da cesta básica de consumo. A nova
norma obriga, mediante um pacto, os empresários e produtores a respeitarem e
divulgarem esses preços. “Os acordos de preços não são acordos”, afirma
Álvarez, “nesse nível não é possível nem cobrir custos, e isso pode causar um
recrudescimento da escassez e da inflação”.
Na
quarta-feira, 22, enquanto continuava a confusão sobre o uso do bolívar
soberano, a Polícia Nacional Bolivariana deteve Alejandro Quintana e Graziano
La Rosa, gerentes da loja PlanSuárez, em Caracas, acusados de esconder
estoques e calcular fraudulentamente os preços no novo bolívar. Maduro já tinha
advertido aos comerciantes que quem não respeitasse os preços tabelados seria
preso.
As
operações de controle de preços são realizadas pela Superintendência Nacional
para a Defesa dos Direitos Socioeconômicos (Sundde). Seu presidente, William
Contreras, lamentou que algumas redes farmacêuticas, como Farmatodo e
Farmahorro, estejam fazendo cálculos incorretos do valor do novo bolívar e
prometeu investigá-las. Não é a primeira vez que o Estado adota esse tipo de
práticas punitivas: nos últimos anos, executivos da rede de varejo Dia a Dia
foram acusados de especulação, enviados à prisão durante alguns meses e
posteriormente liberados com alguma medida judicial substitutiva.
Ao mesmo
tempo, o procurador-geral Tarek William Saab mostrou sua disposição de
colaborar com o Poder Executivo na penalização do que as autoridades chamam de
“delitos econômicos”. Ele encarregou mais de 100 promotores em todo o país de
ajudarem a Polícia e a Guarda Nacional na defesa dos preços tabelados.
A nova
lista deixa a cesta básica com um custo total de 117.000 bolívares soberanos. O
quilo de carne, por exemplo, foi fixado em 90 bolívares, um preço semelhante ao
que tinha com o velho bolívar. O leite pasteurizado e a caixa com 30 ovos
passam a custar respectivamente 48 e 81 bolívares soberanos.
Francisco
Rodríguez, presidente da firma Torino Capital, considera que “este projeto tem
sérios problemas de credibilidade: sai de um Governo que há anos vem imprimindo
dinheiro sem respaldo e que produziu severas
distorções fiscais e orçamentárias. O Governo promete disciplina fiscal,
mas poucos acreditam nele”. Os especialistas consultados concordam que “há
poucas razões para que os atores econômicos sejam otimistas”.
Restrições à compra de divisas
“Há um
elemento que conspira contra o plano de Maduro: foram mantidas algumas
restrições à aquisição de divisas”, afirma Rodríguez. “Em qualquer esquema de
estabilização onde a taxa de câmbio desempenhe um papel para realinhar as
expectativas é preciso haver livre convertibilidade.”
O
Governo autorizou a compra e venda de moeda estrangeira sem intermediários, mas
impôs limites claros aos seus montantes, mediante leilões e atribuições.
Rodríguez considera que os níveis
de escassez atual – um pouco atenuados com relação há alguns meses
atrás – vão se manter.
O
descontrole cambial e a consolidação de expectativas negativas (consequência
dos novos aumentos de preços) estão inscritos no fenômeno que, dentro da
interpretação do chavismo, denominou-se “guerra econômica da burguesia".
EL PAÍS
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