Míriam Leitão
É urgente que o Brasil entenda como
funciona a nova economia para ter políticas de criação de emprego
O
desemprego não aumentou, mas está cronicamente alto. A crise no mercado de
trabalho é mais desafiadora do que o país parece entender pela qualidade do
debate em torno dela. Políticos terceirizam as causas, empresários alegam que
gerarão empregos se receberem benefícios, sindicatos se mobilizam para ter de
volta o dinheiro fácil do imposto sindical. As transições do Brasil e do mundo
mostram que este desafio exige soluções muito mais inovadoras e disruptivas.
Antes de tudo é preciso enxergara dimensão do problema.
Há uma
parte da crise que é estrutural. A recessão sugou empregos aos milhões. O pior
momento da degradação, pelos dados do IBGE, foi dezembro de 2015, quando o
desemprego saltou 40% na comparação com dezembro do ano anterior. Depois disso,
continuou subindo, em percentuais menores, mas a base já era alta. De qualquer
maneira, foram 12 trimestres consecutivos de aumento da taxa desde o fim de
2014 e o maior número absoluto de desempregados foi 14,17 milhões. No final de
2017 a desocupação começou a cair, mas a um ritmo tímido. De lá para cá foram
três quedas de menos de 4%. Ou seja, subiu num ritmo frenético e cai muito
lentamente.
O olhar nos dados mostra que mesmo
neste tempo de escassez o emprego, no setor público voltou ao recorde desde
2012, quando teve início essa série da Pnad. Chegou a 11,6 milhões em junho
deste ano ,2,7% a mais do que no mesmo período de 2017 e se igualando a
dezembro de 2014.
Na outra ponta, onde estão trabalhadores mais vulneráveis, aumentou o número de
empregados domésticos sem carteira. Hoje, para cada três domésticas, duas não
têm direitos trabalhistas garantidos. São 4,39 milhões sem carteira, e 1,83
milhão registradas.
Nosso
mercado de trabalho tem perversidades antigas, desigualdades crônicas e novos
desafios. Pelo estágio atual das mudanças tecnológicas, a indústria cria menos
emprego mesmo quando está crescendo. Mas ela é que recebe a atenção dos
presidenciáveis e do debate público. O agronegócio também cria pouco emprego.
Ambos, indústria e agricultura recebem muitos subsídios. O setor de serviços
oferta mais vagas, mas é pulverizado em milhões de empresas e é visto como uma
abstração.
O
conceito de emprego mudou e vai continuar mudando, mas as leis estão
desatualizadas. A reforma trabalhista flexibilizou pontos engessados da era
varguista, mas teve uma tramitação atabalhoada, introduziu pontos grotescos,
como o do trabalho insalubre da mulher gestante, e permanece sob insegurança
jurídica. De qualquer maneira teríamos que entender melhor o caminho da
organização do mundo do trabalho em países que têm enfrentado crises destruindo
menos vagas. A Alemanha teve menos desemprego que o resto da Europa no auge da
crise. Os Estados Unidos reduziram mais rapidamente a taxa após a superação da
crise financeira de 2008. Cada estudo de caso pode nos ajudar a enfrentara
aguda crise que deixa 13 milhões de brasileiros procurando emprego sem
encontrar. Isso sem falar nos milhões em desalento, que já desistiram de achar.
Neste
último dado, divulgado ontem pelo IBGE, a população ocupada aumentou em 1
milhão de pessoas em abril, maio e junho, comparada com o mesmo trimestre do
ano anterior. A população desocupada diminuiu em 520 mil pessoas. O número de
empregados com carteira assinada diminuiu em 497 mil. Isso significa que a pequena
melhora que houve foi mais uma vez por oferta de vagas na informalidade e no
emprego por conta própria. Houve, desde o segundo trimestre de 2014, uma perda
de quatro milhões de postos com carteira assinada no setor privado. E aumento
de um 1,2 milhão de postos informais desde 2016.
Os
números devem ser esmiuçados para se entender o presente porque ele é a aflição
imediata. Mas é preciso entender a direção das mudanças no mercado de trabalho
para preparar os jovens que estão batendo às portas do mercado. O percentual de
jovens entre 18 e 24 anos que procuram e não encontram emprego está em 28% pelo
último dado divulgado em março.
Os
demógrafos nos alertam que a população em idade de trabalhar vai diminuir daqui
para diante em relação à população na faixa que eles chamam de dependentes. A
taxa de dependência vai aumentar. É urgente que o Brasil entenda como funciona
a nova economia para ter políticas públicas e estímulos à geração de emprego.
Por óbvio, a educação de qualidade é a primeira delas. Mas há um alista de
tarefas urgentes para preparar o país para a nova economia e o novo emprego. Ao
mesmo tempo é preciso resgatar os atingidos por essa longa e dolorosa crise do
mercado de trabalho.
O Globo
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